“Nosso papel é criar condições para ajudar o aluno a aprender”

Criador do conceito “didática assimétrica”, o consultor educacional Paulo Tomazinho aponta as transformações para a educação e o uso de tecnologias

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Arquivo Pesssoal

Após trilhar um caminho tradicional de escola, universidade, pós-graduação, mestrado e doutorado, o pesquisador, palestrante e consultor educacional, Paulo Tomazinho se tornou um investigador de metodologias de ensino-aprendizagem.

Desde então, atua na transformação de escolas, instituições de Ensino Superior, professores, mentores, tutores, mantenedores e, principalmente, estudantes. Tornou-se reconhecido no segmento por ser um especialista em formatar e implantar programas de formação de professores que engajam e transformam o dia a dia da sala de aula.

Tomazinho é consultor chefe da Meta Aprendizagem e cofundador da Moonshot  Educação. É doutor em Educação e possui o Google Certified Innovator, o que lhe permite implementar o Google Suite for Education na prática para aprimorar o ensino e a aprendizagem.

Também é membro do Grupo Técnico de Inovação do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) e Sinepe-PR.

Em entrevista para o Educação em Pauta, Tomazinho comenta sobre a transformação da educação, as tecnologias educacionais e, principalmente, um conceito desenvolvido pelo próprio em que acredita ser diferenciado para o ensino-aprendizado: a didática assimétrica. O especialista falará mais sobre o assunto em palestra no 17º Congresso do Ensino Privado que será realizado de 19 a 21 de julho, no Centro de Eventos da PUCRS. Inscrições com desconto até 30/06, saiba mais.

Educação em Pauta – Na sua visão, o Brasil está em uma fase de transformação da aprendizagem?

Paulo Tomazinho – Vou responder com uma analogia e outra pergunta, antes de responder sua pergunta. Imagine uma máquina de escrever. Imagine agora se estivéssemos continuamente melhorando aquela máquina de escrever, tornando-a às vezes maior, menor e mais portátil, desenvolvendo outras cores de fita, criando teclas macias de silicone. Talvez você concorde comigo que estaríamos investindo em melhoria contínua numa tecnologia ultrapassada. Tente-se lembrar agora dos primeiros softwares editores de textos: Wordperfect, Wordstar, MS Word e Google Docs. Essa tecnologia não foi uma melhoria, foi uma transformação na forma de escrever e produzir texto. O computador tornou a máquina de escrever um item de museu, declarou a obsolescência da máquina de escrever. 

Então, eu te pergunto: Vale a pena investir em melhorias de um sistema obsoleto baseado em conteúdo e avaliado por provas? Na minha opinião o Brasil, e talvez o mundo, está na fase de experimentar qual modelo educacional pode impactar de verdade a aprendizagem, mas ainda não temos respostas claras, seguras e reprodutíveis em escala. Precisamos de um modelo pronto para o futuro, um novo modelo que declare a obsolescência do modelo atual. 

Educação em Pauta – Como você observa a Inteligência Artificial inserida na educação?

Paulo Tomazinho – Minha visão sobre Inteligência Artificial é muito simples. Inteligência Artificial é uma tecnologia. E como toda tecnologia é meio, é ferramenta e não fim. Um marceneiro pode cortar a madeira com um serrote, ou pode usar uma serra elétrica. A serra elétrica é uma ferramenta que acelera muito o trabalho do marceneiro. Se o marceneiro tem habilidade para usá-la, ele será mais produtivo e até mais preciso. Por outro lado, se não souber usar poderá muito rapidamente estragar toda a madeira. Da mesma forma, eu vejo a Inteligência Artificial. Não tem como impedir o uso de uma tecnologia, ela vai estar presente e vai acelerar os processos de educação, os bons e os maus. Cabe a nós sabermos usá-la ao nosso favor. A tecnologia em essência não é boa ou má, mas o uso que se faz dela sim pode ser bom ou desastroso. 

Educação em Pauta – Em relação à metodologia ativa, o que é fundamental para que os alunos aprendam de maneira efetiva?

Paulo Tomazinho – Para eu, você, nossos filhos, nossos alunos, ou qualquer pessoa aprender de forma efetiva só há uma maneira: motivação intrínseca. Ou seja, querer aprender. O professor, e ninguém na verdade, é capaz de ensinar alguém. Nosso papel é criar as condições e contextos para ajudar o aluno a aprender. A aprendizagem é um processo individual e singular de cada um. Aprendizagem é definida como mudança de comportamento, dando utilidade ao que se conhece ou tem habilidade. Aprendizagem, portanto , é um processo único e ativo  na mente de cada aluno. E claro, “metodologia ativas” podem ser um caminho para ajudar os alunos a aprender. 

Educação em Pauta – Você já declarou que “errar pode ser bom”. De que forma esta situação pode fazer parte do processo de aprendizagem?

Paulo Tomazinho – Vou correr o risco da ultra simplificação para responder essa pergunta. Vou simplificar o processo de aprendizagem em três mecanismos básicos: associação, repetição e emoções. Aprendemos quando associamos uma nova informação a algo que já conhecemos, nossos conhecimentos prévios, esse conhecimento prévio pode ser algo certo, incompleto, e até mesmo errado. E, é por isso que eu entendo que o erro é uma oportunidade de repetir a associação da nova informação ao conjunto de conhecimento prévios. E se, o erro acontece num ambiente onde o aluno se sente seguro e recebe um feedback rápido e positivo, a emoção de reconhecer que da forma que estava pensando não era a correta, e ter a oportunidade de reeditar isso no seu cérebro, é poderosíssimo no processo de aprendizagem.

Educação em Pauta – Em suas palestras, você menciona sobre a montagem de uma estratégia para lecionar. O que é necessário para ter grandes resultados?

Paulo Tomazinho – Se você concordar que aprendemos por associação, aprendemos por repetição e aprendemos por emoções. Parece óbvio que o processo didático tem que ir ao encontro da forma natural que aprendemos. Assim, uma estratégia didática que utiliza três momentos distintos, que favorece à forma como o cérebro aprende, me parece a forma correta e mais efetiva de lecionamos e termos melhores resultados de aprendizagem, ou seja, ajudarmos nossos alunos a aprender mais e melhor. Esses momentos são: instrução, interatividade e interação. 

A instrução é o momento que o professor instrui, explica, apresenta, demonstra.  Atende ao mecanismo de aprendizagem por associação. A interatividade é fazer. Toda vez que pedimos uma atividade aos nossos alunos e eles têm que fazer algo, estão na verdade ativando redes neurais para recuperar, lembrar, processar informações e conhecimentos prévios. Enfim, estão usando o mecanismo de aprendizagem por repetição. E por fim, sempre que pedimos para os alunos conversarem, interagirem, apresentarem, trocarem entre eles, estamos promovendo interação e acionando o mecanismo de aprendizagem baseado nas emoções. 

Em essência, somos seres sociais e aprendemos com os outros, muitas vezes observando e imitando o que nossos pares fazem, como fazem e até como pensam. Se você quer ter grandes resultados use o Método 3is (Instrução, Interatividade e Interação) em todas suas aulas.

Educação em Pauta – Você estimula o uso do conceito de “didática assimétrica”, que é um conjunto de estratégias de aprendizagem. Em linhas gerais, em que consiste na prática?

Paulo Tomazinho – A Didática Assimétrica é um conceito que criei, venho desenvolvendo e divulgando nos últimos anos. São estratégias de ensino aprendizagem muito simples, fáceis e rápidas de usar, que podem ser utilizadas no início, meio e fim das aulas. O uso de estratégias didáticas assimétricas promove um ganho de aprendizagem desproporcional ao tempo investido no ensino. São estratégias baseadas em neurociências da aprendizagem e nas melhores evidências científicas  das ciências da aprendizagem. 

Educação em Pauta – Para os educadores que já adotaram esse conceito, quais foram os resultados mensuráveis?

Paulo Tomazinho – Sou suspeito, mas os resultados são maravilhosos. Hoje, cerca de 20 mil professores, talvez um pouco mais, usam estratégias didáticas assimétricas no Brasil. São educadores de escolas pequenas, grandes redes de ensino, professores da rede pública e privada. Também professores universitários que “temperam” suas aulas com estratégias para ganhar a atenção dos alunos no início das aulas, estratégias para aumentar a participação e o engajamento dos alunos durante a aula, e estratégias para ajudar os alunos a reter e fixar o essencial da aula no fim da aula. Os resultados são aulas mais leves para o professor e mais efetivas para os alunos. 

Educação em Pauta – Quais são os seus planos para disseminar ainda mais a didática assimétrica nas escolas?

Hoje, estou envolvido em dois grandes projetos, um com uma grande rede de ensino onde estamos capacitando todos os professores numa metodologia que chamo de Transformação Didática, que envolve neurociências, didática assimétrica, método 3is, aprendizagem combinada e aprendizagem cooperativa. Também estou ajudando uma importante fundação na sistematização de uma filosofia e metodologia de ensino pronta para o futuro. Também tenho alguns cursos e workshops online, para ajudar professores interessados em experimentar algo novo, simples mas muito efetivo nas suas aulas.

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