“Os jovens querem tudo para agora: é preciso atender o que é real”

Psicólogo e autor de diversos livros, Rossandro Klinjey fala de segurar a ansiedade dos jovens na escola, uma geração acostumada com a rapidez de processos

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Divulgação

Em uma sociedade em que “tudo é para ontem”, alguns jovens – até crianças – conseguem alcançar grandes objetivos profissionais e financeiros. Estamos falando, é claro, dos meios digitais como Instagram, TikTok e YouTube, onde proliferam os influencers – algo que acomete uma falsa expectativa de que todos podem conquistar pela internet esses mesmos sucessos. Essa necessidade de ter algo em uma alta velocidade pode levar a muitas angústias e impactos nos estudos. 

Em conversa o Educação em Pauta, Rossandro Klinjey, que é palestrante e escritor, psicólogo clínico, mestre em saúde coletiva e doutor em psicanálise, foca na importância do diálogo com pais e educadores. Lembra que o problema da ansiedade pode ser atacado com antecedência, e que a sociedade acelerou seus processos. Parece que tudo precisa ser rápido, mas aqui estão família e escola para colocar o pé no freio e dar às coisas o tempo correto.

Autor de livros como O Tempo do Autoencontro e Eu escolho ser feliz, Klinjey também é coautor de Educando para a paz. Atualmente, atua nas áreas de recursos humanos, motivacional, liderança, perspectivas da educação, relações interpessoais, desenvolvimento emocional, gestão de pessoas, serviço público, cultura de paz, entre outros.

Confira a entrevista:

Educação em Pauta – Como compreender os anseios de uma criança ou adolescentes em sala de aula? 

Rossandro Klinjey – A primeira coisa que a gente pensa com relação a isso é que não se aprende a lidar com ansiedade muito depois, temos que aprender com a ansiedade de forma antecipada. Hoje em dia, não se ensina mais as crianças a esperarem. No passado, os pais falavam: “meu filho, espera!”. Atualmente, tudo é tão rápido e instantâneo, por exemplo, para comer, temos microondas e comidas prontas. Anteriormente, as coisas mais simples levavam mais tempo e as pessoas sabiam lidar com isso. Com uma sociedade mais acelerada, segue a lógica da rapidez. Uma boa relação com isso é o streaming. Hoje, posso ver a qualquer momento a minha série favorita e, quando eu era jovem, esperava até o próximo domingo para poder ver o próximo episódio na televisão.

A sociedade acelerou seus processos, tudo pode ser submetido na ordem da pressa, porém o conhecimento e o sucesso levam tempo para conquistá-los. As crianças e os adolescentes assistem a influencer jovem como eles e, no pensamento deles, basta fazer um canal no Youtube, mostrar que está no exterior que vai começar a ganhar dinheiro com as visualizações. Isso gera uma ansiedade nessa geração, pensam que tudo precisa ser rápido. O papel da família e da escola é de explicar que não é assim que funciona. É preciso criar estratégias para os jovens perceberem isso. O que a vida ensinava naturalmente, hoje faz ao contrário, você precisa saber esperar, conquistar e consolidar.

Como atendê-los de uma maneira satisfatória?

Antes de tudo, é importante entender o que é satisfatório, atender às suas vontades é enganoso. Os jovens querem tudo para agora. É preciso atender o que é real e possível. Se você pensar somente em satisfazer uma criança ou um adolescente provavelmente vai provocar mais ansiedade. Não vai conseguir os resultados rápidos esperados e vai criar um processo de frustração. A solução é desenvolver estratégias de competências emocionais e explicar que existe tempo na vida e as coisas mais importantes demandam tempo e paciência. É necessário estimular paciência, foco e disciplina ao invés de atender a desejos infantis e juvenis.

Com a pandemia, como ficou o papel da família na escola? 

A pandemia mostrou aos pais que as tecnologias não substituem os educadores. O conhecimento não é apenas acumular saberes, mas também saber se relacionar com grupos de pessoas, no caso, os colegas de sala de aula. Demonstrou a importância de educar na escola, o quão trabalhoso é ensinar crianças e adolescentes e que é essencial reforçar a parceria da família na escola. Vários estudos indicam que quando a família está envolvida na educação dos seus filhos na escola, o rendimento desses jovens vai lá para cima e ao contrário faz o caminho inverso, com os alunos indo para a estudar apenas para “cumprir tabela”. 

Nas suas palestras, você fala muito de autoamor para gerar causas e efeitos. Como gerar esse impacto no ambiente escolar?

O sentimento de não se sentir amado ou respeitado por si mesmo gera uma sensação de incompetência. É uma grande demanda interna de baixa autoestima. Imagine ir para escola para adquirir conhecimento e chegar lá impotente, desanimado ou invalidado. Administrar esse caos mental consome muita energia e sobra pouco para aprender.

Qualquer coisa na vida com grande nível de desamor pessoal vai gerar pouca energia para realizar o resto das coisas que o mundo demanda. Claro, quando estamos falando de crianças e adolescentes existe uma necessidade de aprovação de um grupo, isso é natural e normal, mas não quer dizer que falta amor próprio. Agora, a falta de amor pode existir quando não ocorre um diálogo, uma rotulação das emoções daquilo que se sente e não ter o acolhimento dessas angústias. O jovem viver sem falar sobre esse sentimento de inferioridade o consome mentalmente e fisicamente, sobrando pouco tempo para concentrar-se em estudar matemática ou física, por exemplo. Assim, não consegue ter bons resultados na escola, o que só reforça a falta de autoestima, é um efeito dominó. Menos conquistas reforçam essa sensação de incompetência e incapacidade na vida.

E pode ser ajudado pela família e pelos professores?

Com certeza, a partir do pressuposto de que a pessoa tem que ter o autoamor, não consigo dar a alguém aquilo que não possuo. O socioemocional tem que atender ao professor e à família. Todos têm que ser impactados pelo desenvolvimento do amor próprio e pelas competências socioemocionais. Não pode atingir apenas um dos agentes, senão teremos um furo, uma espécie de “material didático” e não se vão construir essas competências emocionais.

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