Uma vida dedicada à Educação

Novo presidente do Sinepe/RS, Oswaldo Dalpiaz, relembra sua trajetória e reflete sobre o momento do ensino para pensar nos próximos passos à frente da entidade

imagem: Rodrigo Bestetti (SINEPE/RS)

“Eu sou filho de pais quase analfabetos”, frisa Oswaldo Dalpiaz, em um misto de orgulho e compaixão, antes de rememorar os primeiros contatos com os livros. Talvez este tenha sido o propulsor para que percebesse, logo cedo, o valor da educação. Atento, já gostava de estudar e fazia os deveres de casa sob a luz de querosene. 

“Estudo nunca foi uma dificuldade para mim, sempre quis aprender cada vez mais”, completa o novo presidente do Sinepe/RS, que tomará posse nesta terça-feira.

Depois de cursar o primário e o ginásio no interior de Santa Catarina, onde nasceu, optou pelas Ciências Sociais e formou-se em História, Geografia e Filosofia. Em 1968 voltou, na condição de professor, ao lugar que o acolheria por toda a vida: a sala de aula.

Concluiu o mestrado em Filosofia da Educação e construiu a vivência de professor universitário, período em que começou a se dedicar também à gestão de uma instituição de ensino. E aí não poderia ser diferente: continuou estudando. Fez MBA em Gestão Educacional e Gestão Colaborativa, além de cursos de planejamento estratégico.

“Nesta caminhada na gestão da escola acabei participando do Sinepe. Esses dois setores, gestão de escola e Sinepe, fizeram com que eu amadurecesse, crescesse e entendesse melhor as dimensões de uma escola, pedagógica e administrativamente”, conta.

Em entrevista ao Educação em Pauta, Oswaldo Dalpiaz olha para trás, há 18 anos, quando passou a fazer parte da diretoria do Sinepe/RS, reflete sobre tudo que aprendeu até agora e projeta o futuro. Ele vê, na simbiose entre o Sindicato e as instituições de ensino, a pedra angular de sua gestão, que deve levar às associadas o conhecimento e o suporte necessários para o desenvolvimento educacional, econômico e social.

Qual sua percepção sobre a atuação do Sinepe/RS?

A gente não pode dizer que há 18 anos o Sinepe/RS não era tão bom quanto agora. São momentos distintos. O trabalho era diferente porque a história, as circunstâncias, os parâmetros eram outros. Mas sempre, nestes 18 anos, eu vi a preocupação de ir ao encontro das instituições no que elas precisam. 

Esse movimento caracteriza o sentido da inovação, da criatividade. Soluções diferentes para situações diferentes. Chegamos a este ponto da história com um reconhecimento muito grande perante às instituições. O que me faz trabalhar com esse entusiasmo é a oportunidade de ajudar as instituições a serem melhores, com uma gestão mais eficiente e eficaz. O Sinepe/RS é isto.

Dentro do meu planejamento no Sinepe/RS, penso em chamar as escolas, mas principalmente ir ao encontro delas. E talvez isto seja um desafio da própria diretoria, porque há dificuldades de tempo, locomoção e mobilidade. Mas, se queremos ter um sindicato forte, precisamos fazer.

Quais as primeiras medidas e os principais objetivos à frente da entidade?

A finalidade principal do Sindicato é representar as instituições perante os setores públicos e privados, na defesa dos interesses das escolas. O importante é estar preparado quando os desafios aparecem. Por exemplo: alguém de nós se preparou para enfrentar a pandemia? Não. Mas se preparou para ajudar as escolas. 

Diante dessa perspectiva, somos sindicato para ajudar as escolas. Em quê? Na mudança de cultura, dos paradigmas e, na medida em que os problemas surgem, o sindicato deve estudar e dar resposta convincente para a escola.

A pandemia foi um momento de muito aprendizado. Que outras questões podem desafiar as instituições de ensino nos próximos anos?

Eu não posso dizer que haja apenas um desafio. Há vários a serem enfrentados. Primeiro, o meu desejo era que todas as escolas fossem uma referência pedagógica e administrativa à sociedade e aos outros estados. Estar bem estruturada é o maior desafio da escola, mas também uma responsabilidade para o Sinepe/RS. Temos que nos colocar à disposição, oferecendo os ingredientes necessários para se organizar.

Que desafio que pode interferir ou prejudicar o trabalho das escolas?

No meu entender, o maior desafio das escolas não está no lado de fora, mas dentro dela: é capacitar as direções e demais setores para que se instrumentalizem e enfrentem as dificuldades que aparecem. Não há problema insuperável se você está preparado.

Agora, temos dificuldades muito grandes. Se pega o Ensino Superior tem a questão da evasão ou a dificuldade dos alunos terem acesso à modalidade EaD em razão de problemas econômicos e tecnológicos. O desafio dos grandes grupos, que oferecem um produto por um preço tão diferenciado que impede as pequenas faculdades de se manterem. Mas se algumas entidades de Ensino Superior conseguem superar, por que as outras não? É uma questão interna, de estar capacitado.

Aliás, o Ensino Superior vem tendo mais problemas que o Básico. Mas ambos devem se preparar para a entrada de novos concorrentes. Assim como hoje temos entrantes no profissionalizante, aos poucos teremos também na organização do Ensino Médio propriamente dito e isso seguramente trará dificuldades.

Onde essa união entre o Sindicato e os associados pode chegar?

A escola tem duas grandes finalidades. Tem mais, mas vamos ficar em duas. A primeira é ajudar a criança, o jovem, a se estruturar como pessoa. No momento em que a escola ajuda uma criança a ser feliz, desenvolve no adolescente princípios de vida, esperança e motivações. Também vai criar no Ensino Médio um jovem mais contente de si, seguro, autoconfiante. Este é um lado formativo, foco enquanto pessoa, que eu gosto muito.

A outra finalidade da escola é preparar este jovem para a sua profissão, para que possa trabalhar em uma estrutura laboral que hoje está se criando. Os valores, competências e habilidades de 15 anos atrás não são os mesmos para um profissional daqui a cinco ou seis anos. Então, a escola tem que buscar uma resposta a essa necessidade. Tem que trabalhar no sentido de formar, de desenvolver no jovem competências e habilidades que são necessárias para o mundo do trabalho que vem aí – e não o que foi.

Se antes o conhecimento era portador de uma dimensão meramente informativa, agora ele tem uma dimensão formativa. O ensino da Matemática, da Física, da Biologia, das Ciências Humanas, quer levar esse jovem para onde? Esta é a pergunta que a educação tem que se fazer. Quem diria, há algum tempo, que as pessoas trabalhariam de casa. Mas precisa de maleabilidade, organização, são competências que o aluno tem que assimilar e quem tem que desenvolver é a escola.

Como vê a participação das escolas junto à entidade e à categoria? Como o Sinepe/RS pode mobilizar ainda mais o setor?

O Sinepe/RS oferece um material de primeira qualidade. E as escolas que se alimentam desse material normalmente encontram mais alternativas para enfrentar suas dificuldades do que aquelas que não buscam essas orientações.

Além disso, as escolas que nos procuram não são iguais. Tem instituições com 2 mil alunos, outras com 300. Normalmente as que mais deveriam procurar são as que menos o fazem, porque muitas escolas não têm condições de manter assessoria pedagógica, administrativa e jurídica. E o Sinepe/RS tem isso a oferecer. Devemos encontrar caminhos para ir até elas e apresentar o serviço, convencer a buscarem essas orientações. É um desafio muito grande que vamos ter.

Como o Sinepe/RS pode estender a atuação junto a outros entes públicos e privados? O que está na mira da entidade?

Um dos caminhos que o Sinepe deverá percorrer para crescer e melhorar sua ação será a parceria com esses entes. Há muitos assuntos, temas e desafios que podemos resolver juntos. Coisas relativamente simples, como estudarmos um calendário comum para as escolas privadas e públicas (estaduais e municipais). A experiência que tenho no Conselho Estadual de Educação é muito positiva neste sentido. Imagine se todos esses entes se sentarem ao redor de uma mesa e debaterem alternativas comuns para alguns problemas que são de todos. 

Há alguns problemas de vida na escola que são mais presentes na esfera pública, mas há elementos comuns – por exemplo, quando se quer elevar o nível de escolaridade da população no Rio Grande do Sul temos que estar juntos. Não podemos alimentar aquela “grenalização” do ensino. Temos metodologias, princípios e finalidades diferentes, mas o processo educativo, enquanto tal, deve ser compartilhado para termos os resultados que todos nós procuramos.

Quero ser caracterizado, principalmente no primeiro ano, como um dirigente do Sinepe/RS que buscou fazer parcerias. O presidente anterior, Bruno Eizerik, abriu muito essas perspectivas. Aprendi muito na pandemia, conversando com secretarias de Educação, Segurança, Ministério Público. Com esse diálogo conseguimos ir para a frente a passos largos, em benefício da educação.

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