A educação é uma das principais propulsoras da economia

Dia Mundial da Educação é celebrado em 28 de abril. Especialistas avaliam como a qualidade do ensino pode favorecer o crescimento econômico dos países, de forma justa e saudável

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Freepik

“A qualidade da educação está positivamente associada com maiores taxas de crescimento econômico. Um aumento nas notas em testes padronizados internacionais está relacionado a um aumento na taxa de crescimento do PIB per capita entre 1 e 2,2 pontos percentuais ao ano”. Essas são algumas informações de um estudo elaborado pelo Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para a África Lusófona e o Brasil, da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP Clear), com o apoio da Fundação Lemann.

Além disso, o estudo mostra que o aumento da qualidade do ensino básico nos municípios brasileiros está associado a ganhos expressivos na geração de empregos entre jovens. Também sinaliza que o capital humano é considerado um fator extremamente relevante para explicar as diferenças de crescimento econômico entre países e a escolaridade está associada com a produtividade e explica boa parte da diferença da renda dos trabalhadores.

A reportagem do Educação em Pauta aproveitou o Dia Mundial da Educação, comemorado no dia 28 de abril, para entrevistar alguns especialistas para comentar este levantamento e fazer reflexões de como a qualidade da educação pode favorecer a economia de um país como o Brasil, já que a data incentiva a construção de valores essenciais para uma sociedade justa e saudável, por meio da educação e participação familiar. 

“A primeira ação para termos uma população com uma educação de qualidade é garantir a qualidade dos nossos professores, e a segunda é garantir as condições necessárias para que estes possam exercer o seu papel no ensino de nossas crianças e jovens”

Economia atrelada à educação

Segundo a gerente de Laboratório de Dados do Instituto Ayrton Senna, Daiane Zanon, há muitos anos, a teoria econômica já tratava a educação como um dos principais propulsores do crescimento econômico dos países. Para ela, o que as evidências do estudo trazem à luz, e reforço, é a importância de que além de garantir que essa população acesse, que ela permaneça no sistema de ensino. “É necessário oferecer uma educação de qualidade que a permita participar de forma plena de oportunidades econômicas, sociais e cívicas de um mundo globalizado e competitivo”, salienta.

Daiane acredita que a economia de um país está fortemente atrelada à educação. Ela frisa que existem indicativos que demonstram que um trabalhador que teve todo o seu potencial desenvolvido por meio da educação tem mais chances de encontrar emprego e, quando empregado, ser mais produtivo e ter rendimentos maiores ao longo da vida. 

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (último trimestre de 2022) apresentam um exemplo simples de que oito em cada 10 pessoas com Ensino Superior estavam ocupadas, enquanto em torno de um quarto das pessoas sem instrução ou com menos de um ano de estudo estavam na mesma situação.

Já informações coletadas no projeto Caminhos para Melhorar o Aprendizado, liderado pelo Instituto Ayrton Senna, mostram que os alunos dos melhores professores de uma rede de ensino aprendem cerca de 68% a mais do que o aprendizado médio dos alunos durante o ano letivo. “A primeira ação para termos uma população com uma educação de qualidade é garantir a qualidade dos nossos professores, e a segunda é garantir as condições necessárias para que estes possam exercer o seu papel no ensino de nossas crianças e jovens”, complementa.

Para isso, Daiane aponta que é de suma importância aprimorar os cursos de licenciaturas para a formação de professores e criar oportunidades de formação continuada e em serviço que desenvolvam competências técnicas e os mantenham atualizados, como formações que incorporam os avanços da Neurociência com foco na educação. “Outra ação importante para impulsionar a economia por meio da educação é a promoção intencional nas escolas de competências voltadas para a regulação, comportamento, relacionamentos e emoções, como as socioemocionais”, sinaliza.

Qualidade social da educação

O investimento em educação acaba sendo maior em países de renda mais baixa, compreendendo a elevação dos índices educacionais como elemento potente sobre o crescimento econômico, para além da garantia do direito à educação sem necessariamente o aumento desses mesmos índices. Essa é a avaliação do professor do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Julian Silveira Diogo de Ávila Fontoura. 

“Sem muito esforço, podemos identificar inúmeros exemplos mundo afora de nações que, ao efetivamente investirem na educação, puderam ver efeitos significativos no seu desenvolvimento social e econômico”

Jorge Feldens – coordenador do curso de Letras Português/Alemão do Instituto Ivoti

Para ele, os dados da pesquisa da FGV EESP Clear reforçam esta ideia ao indicarem o aumento dos índices educacionais simultaneamente ao acesso à educação, tendo como resultado o aumento em até 28% para países de renda média-baixa, 16% para países de renda média-alta, e menos de 10% para países de renda alta.

Os índices brasileiros em uma das principais avaliações internacionais, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), não são animadores na comparação com os países desenvolvidos e até mesmo em diversos países em desenvolvimento. “Os resultados dos exames de matemática e ciências de 2018 colocam o Brasil na 54ª posição entre 79 países participantes da avaliação, ficando atrás de nações como Costa Rica, México e Uruguai”, frisa.

Fontoura salienta que há uma urgência em investimentos qualificados em educação, que auxiliem os sistemas de ensino e unidades escolares a atendam aos objetivos educacionais esperados nos contextos que se aplicam. O que implica na compreensão de uma frente estratégica da nação em um projeto de desenvolvimento e crescimento econômico e social. “O debate é complexo e relaciona-se com a materialidade da vida dos sujeitos do espaço escolar, com funcionários, estudantes e comunidade escolar”, ressalta. 

Pensar em desenvolvimento econômico nesse cenário é pensar um tipo de qualidade educacional ainda pouco explorado em nosso país, porém extremamente necessário: a qualidade social da educação. Um conjunto de elementos e dimensões socioeconômicas e culturais que circundam o modo de viver e as expectativas das famílias e dos estudantes em relação à educação. “Aliado a isso, se incorporam princípios da inclusão social e da democracia de forma a permitir por parte dos partícipes do processo educativo uma atualização histórico-cultural em termos de uma formação sólida, crítica, ética e solidária, articulada com políticas públicas de inclusão e de resgate social”, pontua.

Experiência educacional criativa e transformadora

A educação possui um impacto enorme no desenvolvimento de um país, no entanto não basta somente garantir que crianças e jovens tenham acesso à escola. A experiência educacional precisa ser de qualidade e que prepare os estudantes para terem sucesso em um mundo cuja complexidade e velocidade de transformação crescem a cada minuto. É o que acredita o pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e diretor executivo da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, Leo Burd.

Os tempos modernos exigem uma escola que seja mais “mão na massa”, mais criativa e mais relevante para todos. Um lugar onde os alunos sejam incentivados a “pensar fora da caixa” e a colaborar na solução de problemas que sejam significativos para si mesmos e suas comunidades. A questão é que a implementação deste novo modelo de escola não é nada trivial e não é algo que possa ser simplesmente importado. “Felizmente, o nosso trabalho vem demonstrando que o Brasil tem muitas secretarias de educação e milhares de professores que já estão abrindo caminhos para essa nova escola”, ressalta. 

Valorização do magistério

Com uma visão de quem atua no Ensino Superior, o coordenador do curso de Letras Português/Alemão do Instituto Ivoti, Jorge Feldens, afirma que não há dúvidas de que a educação é uma força propulsora crucial para a economia de um país. “Sem muito esforço, podemos identificar inúmeros exemplos mundo afora de nações que, ao efetivamente investirem na educação, puderam ver efeitos significativos no seu desenvolvimento social e econômico”, diz.

Diante deste cenário, Feldens frisa que investir em diferentes modelos de ensino e garantir taxas de escolaridade mais altas é extremamente importante. No entanto, é igualmente essencial investir na formação inicial e continuada dos educadores, para garantir a qualidade da educação e a efetividade desses investimentos. “Um professor bem formado é capaz de inspirar e motivar seus alunos, além de fornecer um ensino de qualidade, que estimula a criatividade, a inovação e o pensamento crítico”, reforça.

Ele aponta que o grande ponto de virada para que se possa rumar na direção de uma educação de qualidade é somar esforços para tornar a profissão docente mais atraente. “Seja como for, é urgente o desenvolvimento de políticas que tenham como prioridade não só a valorização do magistério, mas que as pessoas que optem pela docência sejam assistidas na sua formação inicial e em seu desenvolvimento profissional”, conclui.

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