Caminhos para desenvolver um mindset voltado à inovação na formação escolar

Muito além da tecnologia, o desenvolvimento de competências, tanto em educadores como em alunos, é o caminho para essa transformação nas escolas

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: AdobeStock

A palavra mindset, a “configuração da mente”, é um conceito que procura compreender a predisposição psicológica de uma pessoa. Essa forma de propor e desenvolver uma nova abordagem tem sido cada vez mais estimulada em ambientes escolares. 

Junto a isso, está a inovação, que nada mais é que uma resolução de problemas de uma maneira mais eficiente, que seja útil e factível, não necessariamente envolvendo alguma tecnologia digital, mas sim que possa utilizar a inteligência coletiva.

No entendimento de alguns especialistas da educação, o “compartilhar” e o “colaborar” são ações essenciais para que a mentalidade inovadora esteja presente no ensino-aprendizagem.

Entendimento do que é inovar

Um dos primeiros pontos a se considerar está relacionado ao que se entende por inovação nos espaços escolares. A doutora em Educação e professora na  Faculdades Integradas de Taquara (Faccat), Rachel Karpinski, comenta que já viu e até realizou, em algum dado momento, apenas uma “roupagem diferente” para o mesmo processo, acreditando estar inovando. 

Ela defende a importância e a necessidade de formações permanentes e em serviço. “Claro, não formações continuadas com pontos já fragilizados da formação inicial, mas com construções ao encontro do contemporâneo”, frisa. 

Na sua visão, não há necessidade de implementar uma mentalidade, mas sim construir estratégias coletivas a partir de intencionalidades claras. Em suas dinâmicas de sala de aula, Rachel tem utilizado muito mais a ideia de ressignificar processos do que o próprio conceito de inovação.

Para a docente, ao não conhecer ou fazer sentido, tanto experiências e vivências, dificilmente os professores sairão de suas “zonas de segurança”. Nessa perspectiva, acredita que é necessário promover a cooperação. “Isso é possível pelas narrativas de experiências e vivências significativas já realizadas por outros docentes”, pontua. 

Aos estudantes, a professora acredita que é necessário proporcionar meios, aportes e ferramentas para que se tenha o real sentido com os educandos. Ela reflete: “A partir do que estou propondo? O que mobiliza para sua realização? De que modo há conexões com seus cotidianos? Eu defendo e acredito na construção do processo, não apenas na perspectiva de sua aplicabilidade como produto final.”

Atuar como um facilitador/mentor

“Muitas escolas possuem projetos educacionais que ainda apenas repassam conteúdos”. Esse é o pensamento da líder educacional do programa Nova Geração, Juliana Vieira, que atua nesta iniciativa do Instituto Caldeira. O foco é na aprendizagem ativa para jovens de 16 a 24 anos que estudam na rede pública.

Iniciado em junho deste ano, o projeto envolveu cerca de 2,6 mil alunos que tiveram acesso a cinco trilhas online: programação, marketing digital, computação em nuvem, ferramentas de trabalho e gestão de vendas. Com um novo processo seletivo, 50 jovens estão tendo vivências presenciais, com uma metodologia disruptiva e exploratória, envolvendo tecnologia, empreendedorismo, inovação, conhecimento e habilidade. 

Em sala de aula, a inovação é estimulada por meio de desafios. Um deles foi trazer soluções de transformação digital para cinco empresas fictícias de segmentos diferentes, todas com problemas reais e estruturas diferentes.  

No programa Nova Geração, os estudantes também têm a possibilidade de visitar as empresas, conhecendo seus desafios, seus perfis profissionais e suas dores. “Com elementos do mundo real, do que está ocorrendo hoje em dia, isso sim é uma educação inovadora”, salienta.

Juliana explica que o modo como atua como educadora é de mentora, facilitadora, que realiza a conexão entre os profissionais de mercado convidados com os estudantes. Para ela, não existe ensino sem autoeducação. Para educar como pessoa inovadora, é preciso ter uma bagagem autodirigida, entender a metodologia ativa e ter um olhar voltado para o mercado de trabalho. Tudo isso para trazer essa autonomia aos alunos. 

A importante mudança de mentalidade é fazer com que o professor não seja alguém centralizador em sala de aula. “É falar menos e questionar mais. É ter menos coisas prontas e sim perguntas às quais os alunos possam trilhar seus caminhos”, diz.

Conforme acredita Juliana, o olhar para uma educação inovadora precisa ser algo similar ao conceito que as startups seguem, o always in beta (sempre em teste). “Nunca estaremos prontos, mas sempre melhorando, testando novas possibilidades”, comenta.

Estimular as trocas de experiências inovadoras

Com o intuito de partilhar inovações, a Rede La Salle promove, anualmente, o Experience Day. Ao todo, são três dias de ações online com engajamento de professores que encaminham projetos elaborados com seus estudantes. 

Segundo a líder de Tecnologias Educacionais na Rede La Salle, Meriele Silva, na edição deste ano foram mais de 180 projetos apresentados. Por ser uma das responsáveis pela curadoria das iniciativas, ela salienta que, dependendo das similaridades das ações, as ideias podem ser agregadas. “É um momento de conhecer mais cada uma das 34 escolas da Rede, com padrões e regiões diferentes”, ressalta.

Um caso que chamou a atenção foi a Escola Fundamental La Salle Sapucaia. Em um modelo assistencial, a instituição escolar trabalha o ensino por projetos e dá mais autonomia aos estudantes. Com esse conceito foi possível criar um projeto inovador, iniciado no final do ano de 2021.

Como ainda estava em um período da volta gradual às aulas presenciais, além da região ser em um local de vulnerabilidade social, a diretora da escola realizou a escuta ativa e os alunos contribuíram para a montagem do La Salle Sapucaia no metaverso. Escolhido por eles, o jogo eletrônico Minecraft permitiu que os jovens pudessem, virtualmente, optar por quais salas iriam frequentar, os colegas e as matérias para estudar (de acordo com a grade curricular). “Tudo isso com as orientações dos professores”, complementa.

Para exemplificar a dinâmica, nesse metaverso existem baús em que os educadores inserem informações sobre qual a habilidade do dia será aprendida. Se a atividade é entender como funciona a irrigação de uma horta, após desbravar esse mundo virtual, os alunos precisam demonstrar o que aprenderam ao professor. 

Ações como essa fazem com que Meriele acredite na cooperação na formação escolar, bem como o quão é importante alinhar com situações do mundo real, algo que seja significativo aos estudantes. “É preciso que transformem suas vidas, que tragam algo para o seu comportamento e pensamento”, conclui.

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