Educação e mudanças necessárias

Presidente do Conselho Estadual de Educação (CEEd), Fátima Ehlert fala sobre o uso da tecnologia no contexto educacional e como escolas precisaram buscar alternativas na pandemia

imagem: Depositphotos

Fátima Ehlert
Presidente do Conselho Estadual de Educação (CEEd)

Há tempo deparamo-nos com debates acerca das mudanças necessárias na educação, para garantir, além do acesso e da permanência dos estudantes, sua aprendizagem, sua formação humana integral e preparação para os desafios contemporâneos, voltados à inserção no mercado de trabalho, num mundo em constante transformação, numa era em que a informação, a comunicação e a tecnologia avançam abrupta e rapidamente. Quando ainda relutávamos para inserir o uso da tecnologia no contexto educacional, quando nos preocupávamos em recolher os celulares e concentrar a atenção ao que era apresentado pelo professor, fomos abalroados pela pandemia que exigiu a reinvenção da presença da escola, do professor e suas aulas, mesmo sem a presencialidade não fosse possível. Não conseguimos imaginar a vida de uma criança, de um adolescente e de um jovem sem a interação com seus pares e professores, sem tarefas para acompanhar, atividades, leituras e pesquisas. Como viver sem conviver, sem aprender, sem socializar, sem interagir?

A escola precisou buscar alternativas, a educação desvelou as fragilidades do seu sistema, mas também oportunizou um novo horizonte de possibilidades reais que a tecnologia trazia para aproximar professores e estudantes, escola, família e sociedade. Neste momento, de forma célere, o Conselho Estadual de Educação do RS, por meio do Parecer 001/2020, de 18 de março de 2020, autoriza a realização de atividades domiciliares, mediadas ou não pela tecnologia, e todos, da noite para o dia, fomos aprendizes das diversas funcionalidades dos aplicativos de comunicação e das plataformas digitais, de outros apps e das redes sociais, possibilitando a redução provocada pelo isolamento e afastamento físico. E assim, cada mantenedora, cada rede, cada instituição, cada turma foi buscando alternativas e correspondendo às expectativas para a manutenção dos vínculos da educação, colocando ainda mais a educação em movimento, um movimento diferente e inovador, que trouxe para o centro do debate a sua importância e a urgência necessária em investir na educação básica para a qualidade e a equidade tão desejadas, pois o financiamento da educação é mais do que “gasto”, é investimento.

E assim se foram 2020 e 2021, com idas e vindas, algumas paradas por conta da pandemia, mas sem perder o objetivo de criar condições para que efetivamente o artigo 205 da Constituição Federal pudesse ter o seu cumprimento: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

  Agora, cá estamos: 2022, com o que alguns chamam de “novo normal” e que vem carregado de diferentes vivências, rotinas, costumes e ritmos de aprendizagens, compondo os desafios que precisamos enfrentar. Na escola pública a busca ativa tem unido diferentes entidades, instituições públicas e privadas, bem como os Conselhos para trazer de volta aqueles que por diversos motivos abandonaram a escola. Já a recomposição e a recuperação das aprendizagens passam a ser uma preocupação central das diferentes redes e instituições de ensino, que têm ciência de que não foi possível desenvolver todas as habilidades, objetos do conhecimento e competências previstos para cada um dos anos da Educação Básica, desde educação infantil até sua conclusão com o Ensino Médio. 

Como recuperar os estímulos não trabalhados na Educação Infantil? Como preencher as lacunas do processo de alfabetização e letramento previsto para ser consolidado até o final do 3º ano do Fundamental, sem que o 1º e o 2º anos tivessem a presencialidade na maior parte do tempo? Como garantir aos estudantes do 3º ano do Ensino Médio toda a vivência, experiências e conhecimentos necessários para enfrentar o vestibular, um curso técnico ou até mesmo o mundo do trabalho? Como voltar à rotina escolar, os princípios de convivência e a atenção e a concentração necessárias para alguns processos cognitivos? 

Muitas são as incertezas e as dúvidas, mas sabemos que o enfrentamento a todos estes aspectos impactados pela pandemia requer a união da família e escola, a formação continuada dos professores e demais segmentos da comunidade escolar, a implementação de programas e projetos que recuperem o que não foi aprendido e oportunizem a construção do que não foi oferecido, que ampliem o uso da tecnologia como possibilidade complementar ao processo pedagógico mediado pelo professor, na certeza de que temos o compromisso com o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, dos adolescentes e dos jovens. Sem esse esforço, comprometemos a formação e a construção de uma sociedade humana, solidária e com justiça social, pois só o conhecimento é capaz de transformar. 

Sabemos que a educação com qualidade social se faz por meio do desenvolvimento e aprendizagem de processos emocionais, cognitivos, psicomotores. Certamente, um computador ou qualquer outro dispositivo tecnológico jamais conseguirá substituir os professores, nenhum deles sequer, porque a capacidade humana de aprender só se desenvolve pela mediação entre humanos, pela escolha da melhor intervenção pedagógica de um professor para oportunizar a aprendizagem de seus estudantes. E isso é essencial.

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