Formação continuada de professores ganha novos formatos

Ouvir e compreender os problemas dos docentes para encontrar as capacitações adequadas é um dos caminhos para ser mais assertivo nas formações

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Depositphotos

Entender a cultura escolar que os professores estão inseridos. Uma formação continuada que mantenha o DNA da abordagem metodológica da instituição.

Esses são os pensamentos de alguns especialistas da área de formação de professores, que acreditam, antes de tudo, que a tomada de decisão de qual método adotar exige um olhar para dentro e diagnosticar onde estão as demandas, as reais necessidades. Em outras palavras, fazer o acolhimento dos docentes.

Uma forma bem utilizada para promover essa “troca de figurinhas” entre os docentes é a mentoria/coaching, técnica que ganha força entre empresas e instituições. Um recente estudo realizado pela FIA Employee Experience (FEEx) indica que entre os 100 lugares considerados mais incríveis de se trabalhar, 55% ofertavam algum tipo de mentoria para suas equipes – desde o colaborador mais experiente ao estagiário. 

As observações de práticas de sala de aula (com critérios estabelecidos) também é um caminho tradicional para criar esse senso de comunidade escolar. 

Em ambos os métodos é proporcionado que os professores se sintam pertencentes a um coletivo, estejam à vontade para avaliar e serem avaliados. No entanto, outras direções podem ser seguidas para adquirir esses novos saberes e proporcionar que as aulas sejam ainda mais estimulantes aos alunos.

Metodologia ativa e homologia de processos

Quando é feita no formato de palestra, a capacitação tira do professor a oportunidade de refletir sobre o próprio trabalho e de produzir, durante a formação, práticas inovadoras que pode levar à sala de aula. “A formação continuada não é só para discutir novos conteúdos, mas sim impactar e repensar as práticas tradicionais”, ressalta o coordenador do conteúdo de formações da Associação Nova Escola, Rodrigo Blanco. 

Para que isso ocorra, são necessárias a metodologia ativa de aprendizagem e que os professores aprendam de maneira semelhante à que irão ensinar. “Só aulas expositivas fará com que o docente apenas replique (aos alunos) o que assistiu. A mudança precisa ser coerente na maneira da formação. O professor precisa ser o protagonista. Esses métodos os gestores precisam garantir nos encontros formativos”, analisa Blanco.

Para o especialista, tanto a metodologia ativa como a homologia de processos não são tão executadas no dia a dia, como deveriam ser, pelas instituições de ensino. “Os professores precisam ser convidados a fazer a sua formação. Se falarmos de adultos, pensando nos princípios da andragogia, eles se envolvem quando vêem sentido para aquela aprendizagem. Como o adulto é autônomo, tem total liberdade para participar ou não, diferente de crianças e adultos”, ressalta. 

Para realizar a formação, é preciso a escuta, saber quais são as dificuldades e pensar coletivamente para resolver essas dores. “Tudo isso pode ser mediado pelos gestores, que podem apresentar novos conteúdos relacionados aos problemas reais, de forma contínua, que vai progredindo”, enfatiza.

Programa de capacitação e tecnologias educacionais

Nos países mais desenvolvidos ocorrem programas que articulam o professor a cada momento. Existem capacitações específicas para outras dimensões como a própria avaliação de estudantes. “No caso do Brasil, como é que a gente pode realizar isso? Um ponto que a gente pode trabalhar é o currículo, ser mais ambicioso, melhor estruturado, para que tenhamos um bom ponto de partida. A partir disso, é possível delinear um programa de capacitação contínua dos professores”, sugere o consultor educacional Fabrício Garcia. 

Ainda, segundo o especialista, é possível criar indicadores quantitativos do trabalho do professor por meio da própria avaliação dos estudantes. “O nível de assertividade do que é realizado pelo docente, com dados estatísticos palpáveis e de forma científica, será mais cirúrgico”, complementa. 

Apenas capacitar o professor e não ter uma ferramenta de controle prejudica o planejamento do gestor educacional. “Os indicadores podem apontar onde estão os problemas, é um diagnóstico. Fazer isso manualmente, hoje em dia, é inviável. Logo, muitas tecnologias no mercado são primordiais para que a instituição de ensino tenha os indicadores qualitativos e quantitativos acerca do trabalho do professor e tomar as melhores decisões para as suas respectivas formações”, sentencia.

Promover a autonomia digital

Uma das tendências nas salas de aula é a Realidade Aumentada, conforme aponta o consultor educacional da Apple, Antonio Ferro. “Estamos começando os processos com o metaverso, ainda mais no momento de importantes anúncios de empresas da área da tecnologia. No caso da Apple, o nosso estudo está dedicado a entender esse conceito. Já estamos fazendo os primeiros pilotos de aulas com professores, entendendo como seria a dinâmica e quais são os riscos do metaverso. Um dos grandes pontos importantes que precisam ser pensados são a segurança de dados e do usuário”, destaca. 

A personalização dos conteúdos é uma capacitação necessária aos docentes, um letramento digital. A Realidade Aumentada, os aplicativos e o metaverso permitem que o professor desenvolva e crie aulas customizadas, fazendo uso desses recursos.

A autonomia digital se mostra essencial para a escolha de qual será a proposta pedagógica. “É possível dar uma aula chata com um super equipamento na sua frente. A escola precisa focar na formação de tecnologia e metodologia ligadas às tecnologias. Se tiver a metodologia e as ferramentas certas, vai ser um sucesso”, enfatiza.

Para o consultor educacional, a pandemia trouxe uma falsa impressão de implementação de tecnologia dentro das escolas, o que, na realidade, foi desenvolvido na medida do possível, o que é insuficiente. “Muitos alunos voltaram para as salas frustrados, não tinham os recursos tecnológicos que estavam se habituando. Uma aula não tão conectada ao mundo que espera não produz o engajamento”, sentencia.

Em um dos episódios da série de podcasts “Educação Muda o Mundo”, produzida pela Fenep, Ferro participou de um bate-papo com o tema: “O uso da tecnologia nas escolas após a pandemia”. 

Fluência em inglês para “entender” o mundo 

Atuar nesse mundo tão globalizado ultrapassa qualquer fronteira. “Na internet, mais de 60% da big data é na língua inglesa. Para ler, interagir e informar melhor com o mundo, precisa ter o domínio desse idioma adicional, faz muita diferença, é super valioso”, reforça a consultora educacional e mestre em Educação pela Griffith University Australia e pela PUCPR, Carolina Stancati. 

A formação de professor, independentemente que seja dedicada à língua inglesa, necessita da criação de espaços e tempos para os professores ampliarem seus conhecimentos linguístico e cultural. “Dessa forma, vão conseguir ensinar esses repertórios adquiridos aos seus alunos”, complementa.

Ainda mais em um cenário no qual existe um crescimento exponencial de instituições de ensino bilíngues e a aprovação das Diretrizes Nacionais para a Educação Plurilíngue no Brasil por parte do Conselho Nacional de Educação (CNE).

A educação bilíngue no país foi tema debatido por Caroline em uma live do maior evento de Educação e Tecnologia da América Latina, a Bett 2022

>> Sugestões de leituras

A Fundação Carlos Chagas – que é uma instituição sem fins lucrativos e que atua na área de formação de professores – desenvolveu dois livros, disponíveis gratuitamente, que são norteadores sobre o assunto. 

Ensinando futuros professores: experiências formativas inspiradoras

Formação continuada de professores: contribuições da literatura baseada em evidências

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