Novo Ensino Médio: o fim da escola única

Vice-presidente do Sinepe/RS e presidente da Fenep, Bruno Eizerik defende que novo modelo, já instituído por lei, deve ser implementado e que mudanças não podem ser suspensas

imagem: Freepik

Bruno Eizerik

Vice-presidente do Sinepe/RS e presidente da Fenep.

“Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. A frase é de Albert Einstein, mas qual a relação dela com o Novo Ensino Médio?

Vamos a alguns dados.

De acordo com os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB),  anteriores à pandemia, ao terminar o Ensino Médio, 95% dos alunos não têm o conhecimento esperado em Matemática. Em relação a estes mesmos alunos, 69% deles não têm o conhecimento esperado em Português. Além disso, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que aplica o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) – exame realizado em estudantes de 15 anos – 67% dos estudantes brasileiros não sabem diferenciar o que é fato de opinião. Por fim, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 50% da população brasileira com mais de 25 anos não concluiu o Ensino Médio.

Essas informações são a prova da falência de um sistema educacional e são o resultado de uma escola única, compartimentada, igual para todos os alunos, ou seja, um modelo ultrapassado de Ensino Médio, em que grande parte dos nossos jovens não frequentam a etapa e, quando o fazem, na maioria das vezes, não aprende. 

Se olharmos para as Américas e para a Europa, o Brasil era um dos únicos países que tinham uma única opção de Ensino Médio.

Era e ainda é fundamental a mudança, a implantação do Novo Ensino Médio, para termos resultados diferentes, como sentenciou o grande cientista.

Esta mudança começou há pouco mais de cinco anos, no dia 17 de fevereiro de 2017, quando foi publicada a Lei 13.414, que instituiu o Novo Ensino Médio em nosso país. A partir daquele momento, iniciou-se uma contagem regressiva para implementação de uma política de Estado que ressignificaria essa etapa importante na formação de nossos jovens.

Passamos por uma pandemia, que postergou o início da implementação, inicialmente prevista para 2021, mas que começou em 2022, quando passamos a ter uma escola mais plural, com maior carga horária, com protagonismo dos alunos e com a possibilidade de que o estudante realizasse seu projeto de vida e passasse a trilhar seu caminho. O Novo Ensino Médio é uma evolução e trará resultados, mas para isto precisa ser implementado. 

A maioria das críticas feitas ao novo Ensino Médio não se sustentam. O fato, por exemplo, de que somente as disciplinas de Matemática e Português são obrigatórias nos três anos do Ensino Médio, não significa que as demais disciplinas deixarão de existir. O que não é mais necessário é uma caixinha com o nome da disciplina. Faz muito mais sentido estudarmos História e Geografia de forma conjunta, do que a turma ter um período de Geografia na segunda-feira, completamente dissociado de um período de História em outro dia da semana. A história da Civilização Mesopotâmica, por exemplo, tem total conexão com sua localização geográfica. Para que o aluno possa aprender melhor, as antigas “disciplinas” se interligam e fazem mais sentido quando não estão compartimentadas. Esta é uma das principais características do novo Ensino Médio, além do protagonismo do aluno.

É sempre importante lembrar que precisamos, primeiro, que a educação seja prioridade em nosso país e também de políticas perenes para o setor. Desta forma, é impensável que a mudança no Ensino Médio, iniciada em 2022 e que terá sua implantação terminada em 2024, seja abortada, em meio ao processo, que sequer chegou ao seu final, mas que existem forças pedindo sua suspensão. Milhares de horas de estudo e trabalho de nossas escolas, públicas e privadas, não podem ser jogadas no lixo.

Não podemos padecer da Síndrome de Gabriela: nosso Ensino Médio é assim, foi sempre assim e será sempre assim, independente do abandono escolar e dos péssimos resultados alcançados por nossos alunos. Como pátria, temos a obrigação de oferecer a nossos jovens um novo Ensino Médio, sintonizado com o nosso tempo e repleto de oportunidades e escolhas.

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