Planejamento é chave para crescer de forma sustentável

Instituições de ensino contam como decidiram e se organizaram para abrir novas unidades ou migrar para prédios maiores. Especialista alerta sobre pontos a serem considerados

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: Freepik

O grande objetivo das instituições de ensino é ter uma atuação sólida e crescente, ampliando a atuação junto às comunidades onde estão inseridas. Mas tudo precisa ser calculado, pensado e planejado minuciosamente quando chega a hora da expansão. No Rio Grande do Sul, diversas instituições da rede particular têm dado passos importantes rumo ao crescimento.

Algumas aumentam a estrutura, outras abrem novas unidades. Há, também, as que passam a atender mais séries da Educação Básica. Em comum, o fato de observarem oportunidades e se lançarem em um novo desafio.

“Em virtude da crise no Ensino Superior, especialmente depois das restrições do Fies nos últimos anos, a Educação Básica é a grande oportunidade, com aluno permanecendo muito mais tempo e tíquete que chega a ser três ou quatro vezes mais alto”, destaca o coordenador de Estudos de Mercado da Hoper Educação, Paulo Presse.

Esse contexto fez com que grupos antes focados no Ensino Superior abrissem os olhos para a Educação Básica. Fundos nacionais e internacionais começam a desembarcar com uma gestão de excelência e opções para todos os bolsos, de low cost a premium, incluindo escolas bilíngues e afins. O que exige uma condução cada vez mais profissional das escolas gaúchas.

“A gente encontra um grande grupo de mantenedores derivados dos idealizadores, que estão ou saindo, ou cansados. Há todo um movimento em que se encontra o mercado, um cenário competitivo, em que a gestão mais profissional prevalece. Eles trazem um nível de comunicação, diferenciais competitivos, protocolos que há duas décadas pareceriam exageros. Estão se qualificando na operação”, alerta Presse.

Com a vantagem de conhecer muito bem a realidade local, as instituições do ensino privado gaúcho apostam na relação com a comunidade para oferecer um ensino cada vez melhor. É isso que tem levado algumas delas a ampliarem a atuação.

Avanço no mapa

Com sede em Porto Alegre e unidades em cidades da Região Metropolitana, como Gravataí e Cachoeirinha, a Rede São Francisco continua com o olhar atento para novas oportunidades. Entendendo que Canoas tem um mercado consolidado, a diretoria ponderou que a nova ponte do Guaíba traria ainda mais proximidade com as cidades de Guaíba e Eldorado do Sul – onde a instituição já tem alguns alunos, que hoje se deslocam diariamente até a Capital.

Diante dessa leitura, surgiu a possibilidade de adquirir um terreno em um dos tantos empreendimentos que têm sido lançados em Guaíba, distante cerca de 30 km de Porto Alegre. O bairro planejado Guaíba Park conta com outras operações comerciais relevantes e o colégio chega para completar a experiência dos moradores da região, além de atender ao desejo de expansão da rede.

“É um município que tem futuro. Como vamos construir, o projeto arquitetônico ainda não está bem definido. O desafio é qual escola vamos construir: redonda, quadrada, retangular, porque a estrutura de escolas do passado não são mais adequadas para muitas situações de hoje. Temos diversas ideias”, conta o gerente administrativo e financeiro da Rede São Francisco, Ademar Joenck.

Essas decisões ainda têm tempo, já que o terreno de quase 10 mil m² será entregue para construção em junho de 2024. O certo é que terá uma igreja junto, a exemplo das outras unidades. Mais uma forma de se aproximar da comunidade – ainda que fique dentro do loteamento, será aberta para toda a população.

A estratégia começa pela contratação de um diretor pedagógico e um administrativo para a unidade. A ideia é buscar profissionais da própria cidade, que passarão pelo menos um semestre trabalhando junto à sede para absorver conhecimento e a cultura da instituição. 

A capacidade de atendimento será de mil alunos, quando concluída a instalação. No primeiro ano serão oferecidas Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Gradualmente,  serão inseridas as séries posteriores, até o Ensino Médio, ano a ano.

A estrutura física vai acompanhar este processo. “Montamos à medida que vai tendo necessidade. Teremos a estrutura do prédio pronta, mas às vezes as tecnologias já estão obsoletas quando vamos usar, por isso esperamos. Em Gravataí ainda temos umas quatro ou cinco salas prontas para serem montadas, com classes, ar-condicionado e kit multimídia”, exemplifica.

Prédio novo

Prestes a completar 35 anos de atividades, a Escola Projeto, de Porto Alegre, começou com uma unidade, onde oferecia da Educação Infantil até o quinto ano do Fundamental. A implantação seguiu a mesma lógica do São Francisco: avançando uma série por ano. 

Alguns anos mais tarde, em 2001, a escola ganhou uma irmãzinha, como conta a diretora, Neca Baldi. A ideia era separar fisicamente os pequenos dos maiores, para facilitar o atendimento.

Depois de 22 anos com as duas unidades em funcionamento, era chegada a hora de dar um novo passo. Muitas famílias precisavam se deslocar para deixar um filho em cada prédio, isso quando a própria escola não resolvia oferecer alternativas.

Escola Projeto precisou mudar de endereço, para um espaço maior. Hoje, a instituição funciona na Avenida Ipiranga. | Crédito: Divulgação

“Fizemos muitas coisas para ficar com essas famílias. Mesmo que tivesse contrapartidas, como deixar os filhos mais cedo ou buscá-los em um endereço só, chegou um momento que vimos que estava demais. Era um desejo muito grande da equipe. Perdia muito em termos financeiros, mas também no sentido de não estar com todo mundo junto. Começamos a procurar um local que pudesse ser bom para nossa escola”, conta Neca. 

O prédio escolhido fica na Avenida Ipiranga e pertencia ao Lar São Domingos, que fechou na pandemia. Definido o novo endereço, imediatamente as famílias foram comunicadas para que ficassem sabendo pela própria escola. A equipe também recebeu uma surpresa: em uma manhã de sábado, quando se preparavam para uma suposta atividade, foram colocados em um ônibus e levados à nova sede.

“Foi uma choradeira, porque era um desejo de toda a equipe”, lembra a diretora. Segundo ela, o custo com o prédio, locado, ainda é menor do que o montante gasto mensalmente com as duas antigas sedes, que também eram alugadas. Os quatro andares e o pátio foram totalmente reformados, pintados e adaptados para receber as turmas.

Além de informar às famílias, o prédio e o projeto arquitetônico ficaram disponíveis durante toda a preparação do local. Também foram promovidos diversos encontros para explicar como tudo funcionaria. Ainda assim, houve perda de alguns alunos. “O infantil perdeu um pouco mais. A gente tem alguma dúvida se tem a ver com a questão do endereço, de ser na Ipiranga, do barulho… Mas é um lugar muito alto astral. Estamos encantados”, pondera Neca.

A equipe também acompanhou e deu sugestões para que tudo saísse de acordo com as necessidades dos educadores e alunos. A preocupação era viver o último semestre com tranquilidade na antiga sede. Gradativamente, as decisões eram tomadas e os espaços, apresentados. 

A direção agora trabalha na “descoberta” da região, que conta com soluções para o dia a dia. O pedaço da avenida que não tinha tantos pedestres já passa a ter movimento, algumas pessoas optam por buscar os alunos de bicicleta, aproveitando a ciclovia, ou mesmo a pé.

O novo ambiente tem cantina com cardápio assinado pelo chef Marcelo Schambeck. As crianças podem passar o dia, almoçar, os pais contam com drive-thru para deixá-las e buscá-las – entram em um portão e saem pelo outro. “É um espaço com cara de escola. Antes era casa, mas a nossa cara é um pouco isso: uma escola acolhedora. Mesmo em um prédio de quatro andares, temos enfeites, quadros nas paredes. A gente trouxe aquela casa aqui para dentro”, reflete Neca Baldi. “Continuamos com Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Agora vamos captar o número de alunos que queremos”, projeta.

Pedido da comunidade

Fundada há 22 anos, em Santa Maria, a Rede Totem começou com curso pré-vestibular e, 11 anos mais tarde, inaugurou o primeiro colégio, em Cachoeira do Sul. Há dois anos, foi a vez da cidade natal estrear na Educação Básica, começando pelo Ensino Médio e já com expansão confirmada, em prédio maior. Por fim, a terceira unidade foi aberta este ano, em Cruz Alta.

“Nosso sócio-fundador, Leonardo Terra, é da cidade, tem grande apreço e muitos amigos lá. Quando abrimos o pré-vestibular em Ijuí, começaram os pedidos para irmos também para Cruz Alta, uma cidade que está crescendo e se desenvolvendo”, lembra o diretor dos colégios da rede e que também cuida da unidade de Cachoeira do Sul, Roberto Müller.

A sociedade local fez um movimento para receber a rede, com apoio do poder público, empresários e comunidade em geral. Com 65 mil habitantes e em um momento que a direção do Totem avaliou como próspero, a cidade já contava com uma escola particular, mas entendeu que havia muito espaço para crescer.

“A ideia era começar com sexto e nono anos do Ensino Fundamental, além do primeiro do Ensino Médio, para depois ampliar. Mas teve um abaixo-assinado solicitando a turma de sétimo ano. Temos uma gestão bem participativa, gostamos de ouvir a comunidade escolar, então acabamos abrindo o sétimo ano”, conta Müller. Deu certo, já que hoje o sétimo ano é a maior turma do colégio.

Mas mesmo diante de tantos apelos, a ligação do fundador com sua terra natal e alguns alunos já garantidos, a rede se planejou. Antes de tomar a decisão, houve um estudo de mercado, considerando, entre outras coisas, o cenário de educação na região e o poder aquisitivo das famílias. ”Buscamos entender nosso público-alvo dentro da região e optamos por aderir a toda essa oportunidade”, explica o diretor.

As instalações já foram de um restaurante, por isso o prédio foi totalmente reformado e adequado às metodologias da rede. A ampliação já está no radar, com mais dois andares para atender aos ensinos Fundamental e Médio. 

Já em Santa Maria, a rede também vai atender todas as séries, em novo prédio, que já está em obras. A partir de 2024, o Totem contará com duas unidades na cidade: o pré-vestibular, no Centro, e o colégio, no regionalmente conhecido “trevo da Uglione”.

O movimento também contou com muito estudo. “O que nos motivou a ir para lá é o crescimento da escola, o aumento de oferta para a comunidade. Também precisamos facilitar o fluxo de trânsito para os pais. Realizamos algumas pesquisas e verificamos que seria o melhor local em termos de acessibilidade”, explica Müller.

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