A experiência de se estar à frente do SINEPE/RS

Ex-presidentes e líder atual lembram fatos marcantes e lançam olhar sobre o futuro da entidade e do ensino privado gaúcho

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: Arquivo Pessoal

A história de uma entidade, assim como as instituições de ensino, é feita fundamentalmente pelas pessoas que passam por ali. Com o SINEPE/RS não é diferente: os 75 anos de atuação junto ao ensino privado gaúcho só foram possíveis porque muitos profissionais dedicaram tempo e disposição na construção de uma trajetória sólida.

E se fazer parte dessa equipe já é bastante significativo, estar incumbido de liderá-la é ainda mais. Para saber dessa experiência e rememorar episódios marcantes, o Educação em Pauta conversou com ex-presidentes do SINEPE/RS e com o atual mandatário da entidade. Eles refletem sobre momentos vividos no cargo, a oportunidade de passar por essa experiência e destacam a importância que o sindicato sempre terá na defesa do ensino privado.

Respeito máximo à história

Antes de começar a responder, Flávio Romeu D’Almeida Reis faz questão de uma saudação. “Inicialmente, cumprimento pelos 75 anos de existência do SINEPE/RS”, frisa. É um sinal de respeito de quem conhece as entranhas do sindicato e continua fazendo jus ao cargo que ocupou nos anos de 2003 e 2004.

“Na época, ocupávamos a antiga sede, no Edifício Planalto, que fica na avenida Borges de Medeiros, bem no Centro de nossa Capital. Foi um período bem desafiador para a nossa diretoria e também para as escolas particulares do Rio Grande do Sul, pois nessa época houve uma mudança forte no comando político de nosso país e a nossa economia ficou bem desordenada”, recorda.

No começo de 2003, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) chegou a 17,66%, patamar impossível de ser repassado para as mensalidades escolares. A saída, segundo Flávio Reis, foi negociar para que a conta chegasse paulatinamente. A conversa demorou alguns meses, mas ficou decidido que o repasse seria escalonado em um período de dois anos – viabilizando o atendimento à postulação de sindicatos de professores e funcionários.

Flávio Reis esteve sempre presente nos principais momentos da entidade, mesmo depois de deixar a presidência. Na foto, na inauguração da nova sede (Foto: Arquivo SINEPE/RS)

“A experiência que restou foi a de tornar possível uma situação de impossibilidade, através de uma longa negociação”, reflete. Mas, apesar desse período de turbulência, ele lembra que o momento de grandes mudanças levou também a uma estabilidade monetária no país, cabendo também ao ensino privado contribuir para essa nova realidade. Além disso, o SINEPE/RS prosseguiu com a diretriz de continuar qualificando intensamente o ensino de livre iniciativa no Estado, por meio de eventos que contaram com grande participação dos educadores e gestores.

“Quanto às boas lembranças, podemos referir a boa convivência que sempre tivemos entre os membros da diretoria, com os funcionários do sindicato e as lideranças da escola gaúcha”, saúda Reis. Ele nunca deixou de acompanhar a gestão da entidade e, sempre que convocado, procura contribuir com sua experiência. Assim como o SINEPE/RS, que não foge da raia quando é acionado, lançando mão de sua credibilidade para se posicionar firmemente na defesa do ensino privado.

Consolidação da imagem

Na sequência, a entidade ficou sob a administração de Osvino Toillier, que continua fazendo parte da diretoria. Sua gestão perdurou entre 2004 e 2013, um período que define como de intensas emoções e fortalecimento da imagem do sindicato.

“As principais marcas foram a consolidação da imagem da entidade e o respeito ao SINEPE/RS como entidade representativa do ensino privado”, acredita. Já os maiores desafios foram ocupar o espaço político, sem extrapolar a dimensão geográfica – e mantendo a humildade.

Osvino contribuiu para o fortalecimento da imagem (Foto: Arquivo SINEPE/RS)

Uma das maiores lembranças de Osvino Toillier à frente do SINEPE/RS é a interlocução com a categoria dos professores, no sentido de construir espaços de fortalecimento de sua identidade. “Continuo acompanhando o trabalho do sindicato, empenhado na missão de auxiliar as instituições educacionais na superação dos grandes problemas de se preparar para o futuro”, garante. Para isso, aposta que o sindicato manterá sempre a capacidade de ler evidências da pós-modernidade, antecipando-se à realidade que exige coragem e determinação.

Estrutura renovada

Bruno Eizerik assumiu o SINEPE/RS em 2013, permanecendo até 2022. Antes de começar sua reflexão, ele faz questão de destacar a força das escolas particulares gaúchas. E justifica: o sindicato vai ter a força que a escola também tiver. 

Durante sua gestão, ele lembra de um dos momentos mais desafiadores vividos pelo setor, a pandemia. Com ela, a ordem de fechar as escolas – e a consequente a luta para reabri-las, encabeçada pelo sindicato. “Importante ressaltar, sempre, a relação harmoniosa com os sindicatos laborais, mas defendendo que para termos professores e funcionários, também precisamos ter as escolas. Toda vez que a liberdade das escolas foi colocada em questão, o SINEPE/RS agiu”, sustenta.

Bruno esteve a frente de um dos momentos mais desafiadores para as escolas, que foi a pandemia. Na foto, em encontro com o governador Eduardo Leite para tratar do tema (Foto: Arquivo SINEPE/RS)

Do prisma administrativo, talvez o maior destaque fique por conta da nova sede. Ainda que o trabalho tenha sido de toda a equipe, incluindo a diretoria, foi no mandato de Bruno que a mudança foi feita. Além disso, missões internacionais a países como Portugal, Itália, Chile e Israel ajudaram na formação de lideranças das escolas privadas do Estado. Como prova disso, Eizerik atendeu a reportagem do Educação em Pauta diretamente de Helsinque, na Finlândia, onde estava em missão com a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), acompanhado de educadores gaúchos que tomaram gosto por esse tipo de atividade graças às missões do SINEPE/RS.

Mas além de olhar para fora, sua gestão também fez questão de lançar um olhar atento ao interior do Estado. Pelo menos uma vez por semestre, todas as regionais eram visitadas. Um giro que durava alguns dias, passando por Novo Hamburgo, Caxias do Sul, Santa Maria, Ijuí, Santa Cruz e Santo Ângelo, entre outras cidades.

Ainda participando da diretoria da entidade, Bruno Eizerik se mantém atento aos desafios que devem se apresentar nos próximos anos. Em especial, a questão da inclusão. “A inclusão de todos os alunos, em qualquer turma, em qualquer momento, não pode acontecer. Não existe em nenhum lugar do mundo”, alerta. “A própria implantação do Novo Ensino Médio é um assunto que o SINEPE/RS está trabalhando muito, também. Temos departamentos pedagógico e jurídico muito fortes dando atendimento especializado aos associados”, destaca.

Desafio e oportunidade

O atual presidente do SINEPE/RS, Oswaldo Dalpiaz, chegou ao cargo depois de uma vida dedicada à educação e também à entidade. Refletindo, define a experiência como um desafio e uma oportunidade.

“O desafio é dar continuidade ao trabalho dos ex-presidentes, que conseguiram trazer o sindicato até agora com muita capacidade, organização, projeção e eu diria até protagonismo. Cada um no seu tempo, mas todos fazendo um belo trabalho”, explica. 

Já a oportunidade é a de conduzir a entidade neste momento histórico, que é também diferente. A tecnologia avança a olhos vistos, em uma velocidade que espanta, e colocar a escola nesse cenário é uma responsabilidade muito grande. 

“Esta oportunidade é que me dá entusiasmo e vontade de levar adiante esta missão que o SINEPE/RS tem de estar junto às escolas e, ao mesmo tempo, fazer um elo com outras instituições que também trabalham com educação”, entende.

Dalpiaz destaca desafio de ajudar as escolas a buscarem novas formas de gestão (Foto: Arquivo SINEPE/RS)

O caminho do ensino privado precisa encontrar um caminho alternativo à bifurcação que se observa entre os valores tradicionais, com um projeto institucional sólido, e os novos cenários apresentados pela tecnologia. “A escola que nem se abre para esse mundo digital, saindo da perspectiva do mundo físico, certamente não vai resistir aos novos tempos”, sentencia.

E esses novos tempos, continua Dalpiaz, são significativos porque projetam a escola para a missão de preparar cidadãos, pessoas, realizadas e felizes – mas por meio de outras metodologias. O ponto positivo é que um dos valores que norteiam a atuação do sindicato é justamente a inovação. 

O desafio, segundo o atual presidente, é incentivar as escolas a buscar novas formas de gestão. A necessidade se impõe porque o processo de gestão das empresas está mudando bastante e, nas instituições de ensino, é ainda mais complexo: a gestão institucional, com seus aspectos financeiros e administrativos, se junta à gestão pedagógica. E tudo precisa funcionar muito bem.

“Tivemos, este ano, um evento significativo que foi o nosso congresso. Ele não fica apenas naqueles três dias, as escolas ficam contentes”, saúda Dalpiaz. Além disso, ele destaca o lançamento da plataforma SINEPE/RS Play, um acervo com dezenas de vídeos para que os associados busquem a educação continuada. São palestras, orientações e reflexões com alto valor formativo.

“Outro avanço que entendo é a mudança da nossa revista, que era física, para digital, que é o nosso Educação em Pauta. Hoje encontramos temas semanais, profundos, orientadores, formativos e informativos às escolas”, aponta.

Para Dalpiaz, o papel essencial do SINEPE/RS é defender as escolas no seu trabalho, proporcionando condições para que consigam desenvolver suas atividades. “Uma das funções, talvez a principal, é a sindical. As negociações coletivas são essenciais para o bom andamento das escolas, ajuda no ambiente. Essa função não pode ser esquecida”, pondera.

Mas ele vai além, concluindo que o sindicato também tem como responsabilidade iluminar o caminho das escolas, apresentar alternativas. “Como sindicato, estamos em situação privilegiada e desafiadora: temos que antever certos cenários e apresentar para as escolas. Por exemplo: incentivar a utilizar novas metodologias, buscar novas ferramentas digitais, mais e melhores caminhos de como ensinar – e entender o processo de como aprender. O SINEPE/RS tem de levar isso às escolas. Esse é o grande desafio”, finaliza.

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