Alunas criam inseticida à base de bergamota para combater o mosquito da dengue

Ouro na categoria Responsabilidade Social do Prêmio Inovação Sinepe/RS 2022, estudantes do Colégio Marista Santa Maria desenvolveram uma receita caseira que vem imunizando a comunidade local

por: Eduardo Wolff
imagem: Assessoria de Comunicação do Colégio Marista Santa Maria

O total de mortes por dengue, causada pelo mosquito Aedes aegypti, vem aumentando no Brasil. Em 2022, os casos foram maiores do que os registrados nos últimos seis anos. Até a primeira semana de dezembro do ano passado, foram 978 óbitos confirmados e mais de 1,4 milhão de casos registrados. As informações são do Ministério da Saúde.

Diante desse panorama, um saboroso fruto, muito apreciado no Rio Grande do Sul, ganhou uma nova forma de uso e, especialmente, virou instrumento de aprendizagem. Elaborado por quatro estudantes do 2° ano do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, o Bergacida é um inseticida natural à base de bergamota criado para combater o mosquito da dengue. 

Para contribuir no combate a essa doença, o inseticida teve impacto direto no cotidiano de muitas comunidades de Santa Maria. A ação foi vencedora do troféu Ouro na categoria Responsabilidade Social do Prêmio Inovação Sinepe/RS 2022 e também foi finalista na Feira Brasileira de Jovens Cientistas.

Surgimento da iniciativa

Dentro da sua grade curricular, o Colégio Marista Santa Maria possui iniciação científica, com duas horas semanais. Esse estímulo às pesquisas ganhou contornos expressivos a partir de maio de 2021. 

Em um momento no qual o coronavírus seguia com maior foco, em paralelo, os casos de dengue estavam em crescimento no país. Para ter uma solução que pudesse atender a população da cidade, a orientadora do projeto e professora de Química, Josiéli Siqueira iniciou uma atividade teórica e prática que tivesse um viés sustentável. 

A professora lançou um desafio aos seus estudantes: criar um inseticida que fosse produzido a partir da seleção de vários resíduos comuns em uma casa e que fossem produzidos em grande quantidade, como café, laranja ou bergamota. 

Em época de inverno, com safra em alta e muito consumo, a bergamota foi escolhida, ainda mais porque é bem comum nas merendas dos estudantes durante o recreio. “Com essa opção, começamos a buscar informações sobre as propriedades da fruta. Logo após, realizamos uma campanha para coletar essa matéria-prima”, recorda.

Para desenvolver o inseticida, ingressaram na ação as alunas (na época no 1º ano do Ensino Médio) Ana de Souza, Anthônia Bellochio, Mariana Gadret e Valentina Fraga. As quatro jovens seriam as responsáveis em tornar realidade esse projeto.

Orientadora do projeto (E) e as estudantes envolvidas no desenvolvimento do Bergacida
Foto: Assessoria de Comunicação do Colégio Marista Santa Maria

Dinâmica da pesquisa e receita caseira

Para começar os testes, duas parcerias foram concretizadas pela professora. Uma com a Vigilância em Saúde do Município, que forneceu amostras de larvas do Aedes aegypti para a pesquisa. Outra, um apoio de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que se comprometeram em fornecer subsídios para o aperfeiçoamento do produto.

Com as amostras do mosquito vivo, o grupo começou a entender todos os estágios do agente causador da dengue. Os experimentos com a extração da casca da bergamota foram realizados no laboratório do colégio. Foram diversas tentativas, numa delas, com pH (concentração molar) mais baixo, detectaram que a larva morria instantaneamente, mas a solução era muito ácida, causando uma possível irritação na pele caso alguém a aplicasse. 

Cada passo, cada teste, regressões e evoluções, tudo foi demonstrado para a orientadora, no entanto as jovens precisavam encontrar sozinhas a fórmula para o inseticida. “Ao todo, foram oito meses para achar o pH 5 e a composição ideal”, lembra Josiéli. 

O resultado foi uma receita econômica e fácil de se preparar. Para chegar ao Bergacida são necessários três ingredientes. As medidas são: 500 mililitros de água, 5 cascas de bergamotas e 5 colheres de vinagre de álcool. Com essa mistura, deixe ferver por 10 a 15 minutos. 

Veja a apresentação do produto na Feira Brasileira de Jovens Cientistas

FBJC 22: Bergacida: inseticida natural, a base de extratos de bergamota para combater a dengue. – YouTube

Resultados conquistados

Os resultados apontaram que o inseticida é eficaz no combate ao mosquito, pois elimina suas larvas e pupas. Além disso, o custo do produto é acessível e está muito abaixo de similares industrializados. O valor para produção é baixo, em torno de R$ 6 para 500 mililitros, muito em razão da matéria-prima ser obtida em abundância e de forma gratuita, por meio dos descartes das cascas da fruta.

Outro fator de celebração do Colégio Marista Santa Maria é a oportunidade que os estudantes tiveram de se envolver com pesquisas nas quatro áreas do conhecimento. São elas: Ciências Humanas, da Natureza, Matemática e Linguagens, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

Para a orientadora do projeto, o Bergacida superou as perspectivas, pois as alunas mostraram um grande potencial para pesquisa. Além disso, a comunidade escolar teve um grande envolvimento. “Outros estudantes ajudaram nas entregas das cascas e acompanharam de perto o desenvolvimento do inseticida”, complementa. 

No laboratório do colégio, foram cerca de oito meses para descobrir a receita caseira ideal
Foto: Assessoria de Comunicação do Colégio Marista Santa Maria

Continuidade da ação e novo inseticida 

O grupo envolvido nesta iniciativa seguirá aprimorando o produto, conforme surgirem necessidades específicas, com o auxílio de pesquisadores da área. Outras ações estão sendo planejadas, como realizar uma produção em maior escala do produto, selecionar um recipiente adequado para armazená-lo e distribuir o composto individualmente para famílias da cidade. Outra ideia é promover a instalação de borrifadores automáticos em pontos estratégicos de Santa Maria. 

Um novo inseticida natural está por ser produzido, porém com outra fruta. Desta vez, a melancia será a base da receita caseira. “Por estarmos no verão, é uma matéria-prima mais fácil de se conseguir. Já iniciamos a arrecadação das cascas da fruta e estamos congelando para preservá-las e iniciar as pesquisas”, projeta Josiéli.

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