Autocuidado na educação: a importância da pausa para educadores e gestores

Atenção plena às atividades e tempo longe dos eletrônicos são algumas das estratégias para aproveitar o tempo livre durante o recesso escolar

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: Freepik

Imagine um ambiente escolar onde a rotina agitada de trabalho e estudos se mistura com a busca constante por produtividade. O que, num primeiro olhar, pode parecer a movimentação normal de um ambiente de aprendizagem é também um retrato de uma geração com acesso a muito conteúdo e pouca profundidade. Nesse cenário, o conceito de ócio – entendido como o tempo livre de tarefas e de conexão constante com tecnologia – se torna cada vez mais escasso. Mas, e se o ócio fosse a chave para um ensino mais profundo, tanto para educadores quanto para gestores? Como é possível aproveitar a pausa, especialmente durante o recesso escolar, para renovar as energias e repensar a prática educacional?

A jornalista Luciana Bueno atua como palestrante em Gestão do Cuidado e é especialista em Saúde Integral. Ela é uma das que acredita que a palavra ócio pode ser substituída por outra, com um significado mais potente e provocador para os nossos tempos: pausa. Para ela, é essencial que tanto gestores quanto educadores aprendam a ‘parar’ de forma consciente. Ela acredita que, ao se dedicar a um momento de reflexão e descanso, os educadores se tornam mais capazes de cuidar dos outros, refletindo sobre a importância do recesso escolar como um período vital para recarregar as energias. “É importante parar. Um gestor e um professor cuidam de outras pessoas mas, antes de tudo, devem cuidar de si. A pausa vem depois. Primeiro eu tenho que olhar para o auto-amor, para essa autoestima que eu tenho que calibrar. A pausa é uma consequência disso”, explica. 

Os cuidados com corpo, mente e alma, segundo Luciana, são essenciais para que se consiga um momento de pausa pleno e renovador, como o recesso escolar, que é algo conquistado e que não acontece em um passe de mágica. A rotina atribulada, os compromissos profissionais e pessoais e também uma certa cobrança pelo autocuidado, inclusive nas redes sociais, podem acentuar o pensamento acelerado e tornar a tão sonhada pausa mais uma entre tantas demandas. “Antes de tudo, é preciso um despertar da consciência. Como eu estou? Como eu acordo? Eu tenho motivação para aprender, para trocar com as outras pessoas? Esse é o primeiro passo para se encontrar e iniciar uma pausa que trará benefícios”, orienta Luciana. 

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Observar pequenos hábitos e atitudes que nos trazem vigor pode ser o começo de uma jornada de autocuidado que pode durar por toda a vida. Melhor do que aproveitar períodos como férias ou folgas, é trazer a pausa para o cotidiano. Luciana também sugere pequenas atitudes diárias para promover o autocuidado, como fazer uma pausa de 10 minutos para um café ou uma caminhada. Esses momentos de descanso podem ser inseridos na rotina sem grandes esforços, mas com grandes benefícios para a saúde mental e emocional dos educadores. “Na troca de professores, por exemplo, é interessante que o educador chegue devagar, puxe uma conversa, entenda o ambiente para saber como começar o trabalho com aquela turma. Mas isso só é possível com atenção plena e observação dos alunos, algo conquistado com o autoconhecimento do professor. Isso muda o jogo”, lembra a jornalista, que reforça que uma pausa assertiva e contemplativa é capaz de mudar nossa forma de encarar o mundo e também os problemas do dia a dia.

Parar para poder pensar

Planejar aulas e organizar eventos são tarefas que muitos professores e gestores acabam realizando em casa, expandindo seu trabalho para fora do ambiente escolar. Para o psicólogo Luccas Pippi, atribuir ao período de recesso do calendário escolar um movimento de pausa do trabalho, configura o estabelecimento de um limite entre o profissional e o pessoal, algo importante para se ter um momento de descanso pleno e que traga benefícios físicos e também psicológicos para esses profissionais. Ele sugere que os gestores utilizem o recesso como uma oportunidade para desconectar-se das demandas escolares, permitindo-se uma experiência de liberdade e renovação, o que contribui diretamente para uma gestão mais equilibrada e eficiente ao longo do ano. “Na medida que seja possível desvincular-se das atividades do universo escolar, o sujeito pode permitir existir em um espaço que os desejos e fantasias que o percorrem possam ter materialidade em sua existência, um tempo de liberdade individual que também pode vir a ser coletiva”, orienta. 

Buscar atividades diferenciadas do cotidiano escolar facilita, segundo Luccas, a ocorrência de dinâmicas psíquicas que desvinculam os professores de sua identidade profissional, promovendo a experiência de uma nova lógica de encarar o tempo e a maneira de habitar os espaços, como a casa e a cidade. “Aproveitar o tempo de recesso e deixar-se parar, pode ajudar a estar situado em seu contexto de vida, fruir de momentos de lazer, praticar esportes, dançar e aproveitar a família, o que no decorrer do ano letivo pode ser de grande importância para a manutenção da saúde mental e física”, finaliza o psicólogo. 

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