Como a sala de aula invertida engajou alunos do Colégio Sant’Anna

Neste artigo, pedagoga comenta como a instituição de ensino tornou o aprendizado mais dinâmico e próximo da realidade dos alunos

imagem: Gemini

*Giana Weber de Oliveira é doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mestre em Engenharia de Produção e especialista em Educação Ambiental. É graduada em Pedagogia pela UFSM e em Letras – Português e Inglês pela Universidade Franciscana (UFN). Atua como coordenadora pedagógica do Colégio Franciscano Sant’Anna, em Santa Maria.


Com um projeto pedagógico que tem como propósito formar a pessoa em sua integralidade, o Colégio Franciscano Sant’Anna, localizado em Santa Maria, promove um espaço de crescimento, construção do conhecimento e valorização das experiências relacionais. Integrante da Rede mantida pela Sociedade Caritativa e Literária São Francisco de Assis – Zona Norte, a instituição católica pauta sua proposta educativa nos princípios franciscanos da paz, da verdade, da justiça, da ética, da solidariedade e da confiança em Deus — valores que compõem o ideário da espiritualidade franciscana.

Como instituição, compreendemos que as aprendizagens mais significativas da vida são aquelas que tocam o coração e agregam valor às trajetórias pessoais. No entanto, cada vez mais os estudantes têm sua atenção disputada por diferentes estímulos, o que muitas vezes compromete o foco na aprendizagem.

Diante desse cenário, vale destacar matéria publicada no Educação em Pauta, que mostrou que o Brasil alcançou, em 2024, o menor índice de analfabetismo entre jovens e adultos dos últimos nove anos. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em junho, o indicador recuou de 5,4% em 2023 para 5,3% em 2024. Ainda assim, o levantamento revela que 9,1 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais continuam sem saber ler e escrever.

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Nesse contexto, resgato a reflexão do professor e sociólogo Hartmut Rosa, que afirma: “a modernidade, a percepção e a organização do tempo transformam-se fundamentalmente: em vez de uma concepção predominantemente cíclica do tempo, como era característica das sociedades tradicionais, prevalece uma concepção linear e orientada para o futuro, que se manifesta no princípio da aceleração”.

Ou seja, vivemos transformações nos imaginários sociais, na aceleração do ritmo de vida e, consequentemente, nos processos de aprendizagem. Atentos a essas mudanças, a professora de Geografia Bruna Caetano Nascimento, juntamente com a coordenadora pedagógica Giana Weber de Oliveira e com a orientação da coordenadora do Serviço de Orientação Religiosa, Célia de Fátima Rosa da Veiga, desenvolveram com os estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental a metodologia ativa conhecida como sala de aula invertida — uma resposta às dificuldades de foco em meio à quantidade de dispositivos e distrações que competem com a atenção dos jovens.

A professora explicou aos alunos a dinâmica da sala invertida e, nas aulas seguintes, em grupos, eles passaram a compartilhar as explicações com os colegas de forma cada vez mais participativa e dinâmica. Os próprios estudantes relataram a relevância da experiência, destacando que aprendiam melhor porque “falavam a mesma língua dos colegas” na forma de explicar.

A sala de aula invertida é uma metodologia que inverte a lógica tradicional do ensino: em vez de o professor apresentar o conteúdo em sala e os alunos fazerem exercícios em casa, o estudo é feito previamente, e o espaço da aula é dedicado a atividades práticas, discussões e resolução de dúvidas, com o professor atuando como mediador. No Colégio, observou-se que a participação dos alunos aumentou durante as aulas, ampliando o engajamento e favorecendo a aprendizagem.

Esse trabalho foi apresentado no V Congresso Internacional de Geotecnologias e Contemporaneidade (Cintergeo), realizado na Universidade da Bahia, em junho de 2025, de forma online, com a participação da aluna Manuela Tassinari Barbosa. O objetivo foi mostrar as possibilidades oferecidas aos estudantes e refletir sobre a formação de professores diante dos desafios da produção do conhecimento na Educação Básica e da necessidade de conteúdos que dialoguem com a realidade dos alunos.

A adoção dessa metodologia se justifica pelos desafios contemporâneos da aprendizagem, marcados pela desmotivação e pela dificuldade de atenção. Além de aproximar teoria e prática, metodologias ativas promovem maior engajamento, permitindo que o estudante deixe de ser apenas receptor de conteúdo e passe a ter um papel protagonista — preparando-se antes da aula e participando ativamente durante os encontros. O tempo em sala, assim, é melhor aproveitado para discussões, resolução de problemas, debates e aplicação prática. Isso possibilita ao professor dedicar mais atenção às dúvidas individuais ou de pequenos grupos, ajustando o ritmo às necessidades da turma.

É fundamental que a educação busque novas possibilidades por meio de propostas pedagógicas significativas e planejadas com responsabilidade. A formação docente, hoje, é atravessada por múltiplos desafios e transformações, exigindo novos olhares sobre o papel do professor, a construção dos saberes e as exigências de um mundo em constante mudança.

A educação é, por essência, um território de interatividade, experiências e compartilhamento de saberes. Precisamos ser criativos para usar as tecnologias de forma planejada e a serviço da aprendizagem, promovendo práticas que aproximem teoria e prática e preparem as próximas gerações para o futuro. Nessa perspectiva, as metodologias ativas se consolidam como ferramentas valiosas para o desenvolvimento e aprofundamento no espaço escolar.

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