Como o ESG pode ajudar as instituições de ensino, da direção à sala de aula

Conceito de gestão alia os quesitos social, ambiental e de governança para dar sustentabilidade aos negócios

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: AdobeStock

Sustentabilidade é um termo que nunca fica ultrapassado. Aliás, muito pelo contrário: ganha novos significados à medida em que os desafios se impõem ao homem e às organizações. Para se adaptar às necessidades dos novos tempos, especialistas em gestão cunharam o termo ESG, que ganha cada vez mais espaço nas empresas e precisa, também, ser visto com atenção pelas instituições de ensino.

A sigla ESG vem do inglês “Environmental, Social and Governance” e significa a sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa. Assim, os três pilares andam de mãos dadas para garantir que as empresas tenham saúde financeira sem comprometer – ou justamente por priorizar – o cuidado com a natureza e o bem-estar de funcionários, clientes, fornecedores e parceiros.

É aí que entram as instituições de ensino. O ESG é uma grande oportunidade para que ampliem o olhar, hoje um tanto restrito às questões ambientais. “Tem muito projeto na área de ciências da natureza. Isso é muito forte na maioria das escolas privadas em que trabalhei ou dou formação, mas ainda há uma carência muito grande na área de gestão de pessoas, diversidade, incluindo como lidar com sexualidade, combate ao racismo, etarismo”, observa o professor Luís Alexandre Cerveira, doutor em Ciências Sociais, coordenador do Núcleo de Estudos de Diversidade e consultor na área de Gestão de Pessoas e Diversidade da Faculdade IENH.

Ele lembra que, por lei, o combate à violência contra a mulher e as culturas afro-brasileira e indígena devem ser trabalhados em sala de aula, então é preciso que o corpo docente e os gestores estejam preparados para estes e outros temas sensíveis à sociedade. Essa atenção garante o acolhimento de todos e tem reflexo nos resultados.

É importante ter acesso a informações sobre novos modelos de gestão de pessoas e do próprio negócio. Na visão de Cerveira, a gestão dos professores ainda passa quase que exclusivamente pela coordenação pedagógica, ficando longe do que se tem de mais moderno no mundo dos negócios. Uma das medidas tomadas pela IENH, por exemplo, é investir em uma ouvidoria, para dar atenção a todas essas demandas.

“Ainda trabalhamos sob uma visão que não conseguiu dar conta, por exemplo, de qual é o papel da escola no que diz respeito a entregas, para usar um termo de mercado. Hoje, temos o Novo Ensino Médio, que traz uma demanda de que o aluno e a aluna tenham mais contato com o mundo dos negócios. Cadeiras como liderança, sustentabilidade, uma série de coisas, todas ministradas por educadores que, na maioria, não têm experiência de mercado”, aponta o especialista, que também ministra aulas sobre o assunto no MBA sobre ESG oferecido pela IENH.  

Habilidades 

A saída passa pelo contato desses docentes com o mundo dos negócios, a fim de fazerem links que os alunos compreendam. A escola precisa dialogar com o ambiente externo para fazer sentido para os alunos, para que se identifiquem com o que é trabalhado em sala de aula. O empreendedorismo é um desses exemplos, pois passa, cada vez mais, por todas as profissões.

A fluidez dos conceitos também aparece quando se fala de soft skills, que é como o mundo dos negócios denomina a capacidade socioemocional dos profissionais. Ainda faltam ferramentas para que se trabalhe efetivamente em grupo, então é preciso criar estratégias para que o aluno possa testar o que está aprendendo, em experiências mais práticas.

“Trabalho em grupo é, basicamente, cada um fazer sua parte, juntar e apresentar no dia. Como estamos fazendo realmente a gurizada trabalhar em grupo?”, questiona Cerveira. Ele conta que promove uma feira medieval junto aos alunos de História: eles precisam criar e vender um produto relacionado ao período, calculando o custo, apurando se houve lucro, avaliando as barracas mais procuradas. Assim, aplicam conhecimentos teóricos e colocam em prática as soft skills, trabalhando em grupo e se preparando para o mundo do trabalho.

Resultado

Conforme a atenção ao ESG avança, é natural que os três pilares se sustentem mutuamente. O social, por exemplo, aumenta a sensação de acolhimento por parte dos professores, alunos e familiares, elevando também o índice de retenção. Cerveira conta que a IENH oferece um programa de bolsa para mulheres que tenham interesse na área de tecnologia, em seus cursos de Nível Superior. No começo, quase todas eram repelidas por turmas formadas majoritariamente pelo público masculino. Conforme o trabalho social avançou, naturalmente o tratamento mudou, de modo que o problema foi resolvido.

É uma roda que começa a girar mais uniformemente. Melhora na entrega de resultados, inclusive financeiros. Se o ambiental reduz o uso de plástico, a reutilização de materiais impacta na tesouraria. O uso de energia solar, também. Já no aspecto social, quanto mais diversa uma equipe, maior a chance de boas entregas, pois aumenta a criatividade e a antecipação de problemas – dá conta melhor dos clientes, que são diversos.

“[Aplicar os conceitos de ESG] ajuda na gestão de risco, inclusive jurídico, de compliance, além de aumentar a atração e a retenção de talentos. A geração mais jovem tende a ficar menos tempo no emprego, mas quando são ouvidas, fidelizam-se”, acrescenta Cerveira. “As empresas privadas que não são do ramo educacional estão muito à frente das escolas e universidades, sem nenhuma dúvida. E isso as tem tornado mais eficientes”, alerta. 

Eco Clube 

Uma importante semente vem sendo plantada no Colégio Dom Bosco, de Porto Alegre. O Eco Clube nasceu de um projeto do curso técnico em Meio Ambiente oferecido pela instituição, que leva palestras e capacitações aos alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

As ações se multiplicam e ganham o entorno da comunidade escolar. Os estudantes pensam em medidas que tenham impacto ambiental, social e de saúde coletiva. O Projeto Ambiental Mirim, por exemplo, trabalha com alunos do quinto ano por meio de oficinas, gincanas e jogos orientados à questão dos resíduos, formando os agentes ambientais mirins.

Eco Clube Dom Bosco promove iniciativas de cunho ambiental, social e de saúde pública junto à comunidade, além de integrar coletivo internacional | Foto: Muri Kateline de Andrade / Divulgação

“Eles ganham certificado e se preparam para serem representantes. Ficam empolgados porque ficam responsáveis por cuidar das lixeiras, cada grupo uma semana. Fazem etiquetas e identificam resíduos”, conta a mestre e doutora em Química Analítica, com ênfase na área ambiental, Isabel Damin, professora do curso técnico.

A iniciativa faz parte do coletivo internacional Dom Bosco Green Alliance, que reúne jovens da rede Salesiana que contribuem para a ação, o pensamento e a política ambiental global. Em função disso, os alunos também se envolvem com a elaboração de relatórios e outros trabalhos em grupo, desenvolvendo competências de gestão e as soft skills.

No aspecto social, os alunos criaram o Brechó Consciente, junto à entidade Novo Lar, de Viamão, que apoia famílias de baixa renda. Os estudantes arrecadam roupas e promovem um brechó, depois de aprenderem no curso técnico que a produção de roupas gera resíduos e gasta bastante água. Com a reutilização das peças, outras pessoas são beneficiadas e os recursos naturais, poupados.

A integração é completada pela interação entre alunos da Educação Básica com alunos do curso técnico e também da graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental da Faculdade Dom Bosco. Os alunos dos últimos semestres fazem ações com os de nível médio que, por sua vez, capacitam os de nível fundamental. 

As ações do Eco Clube Dom Bosco partem de 26 alunos do curso técnico e já somam mais de 1,3 mil pessoas impactadas. “Tudo isso chega nas famílias e tem retorno. O público escolar, as famílias, a comunidade do entorno, todos gostam e vão espalhando a ideia”, destaca Isabel.

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