Como o lúdico pode ser usado como ferramenta de aprendizagem

A partir de um projeto de literatura, professoras dos segundos anos do Colégio Sagrado Coração de Jesus, de Ijuí, ensinaram as crianças a lidar com números e letras, desenvolvendo sua própria autonomia

por: Tatiana Py Dutra | Especial
imagem: CSCJ / Divulgação

Quem é educador sabe: a ludicidade é um instrumento facilitador da aprendizagem. Especialmente na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. E foi pensando no background dos alunos que chegariam ao 2º ano do Colégio Sagrado Coração de Jesus, de Ijuí, que três pedagogas bolaram uma iniciativa que acabou reconhecida no Prêmio Inovação SINEPE/RS 2023. As professoras Andressa dos Anjos, Andrieli Bueno e Aretussa Fagundes idealizaram o projeto “As Aventuras dos Chapeuzinhos Coloridos no Reino Encantado do CSCJ”, que recebeu a prata na categoria Estudante Protagonista. 

Implantada em 2022, a iniciativa usou a imaginação dos pequenos como aliada para desenvolver neles o amor pela leitura e pela escrita, a autonomia e a segurança nessas práticas.

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“O segundo ano é uma fase desafiadora porque, ao mesmo tempo que eles já conseguem ler, muitos ainda não compreendem bem o que estão lendo. É uma fase em que eles têm que ler e aprender a interpretar. E nós percebemos que as crianças, quando chegavam do primeiro ano, vinham de uma prática educativa bem lúdica e quisemos dar continuidade. O objetivo nosso era ampliar o gosto pelos livros, a capacidade de leitura e de interpretação, mas que isso ocorresse de forma marcante, alegre, colorida e leve”, explica Aretussa.

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A experiência visava surpreender os estudantes. Desde a primeira semana de aula, eles receberam bilhetinhos com desafios vindos do enigmático Reino Encantado. Uma das primeiras tarefas envolveu confeccionar um chapéu mágico e organizar um alfabeto (igualmente mágico) junto com a professora. Outra atividade era construir “sussurrofones”, espécie de telefones feitos em material alternativo com o objetivo de ajudar as crianças a perceber como articulavam as palavras ou se o som era baixo ou alto, por exemplo –uma percepção importante para atividades de leitura. 

Crianças criaram “sussurrofones” para ter noção da articulação das palavras e do som das próprias vozes  | Foto: CSCJ / Divulgação

Atividades de outras áreas do conhecimento também foram aproveitadas no projeto de leitura. A partir do poema “A Invenção dos Números”, as 68 crianças das três turmas de segundo ano formularam suas próprias rimas, que acabaram compondo livros eletrônicos, que podem ser conferidos através de um QR Code.

Vindas do Reino Encantado, as Chapeuzinhos 1, 2 e 3 propunham diferentes desafios para os alunos em várias áreas do conhecimento | Foto: CSCJ/Divulgação

E foi só depois disso que a magia se materializou na frente das turminhas: numa atividade especial, surgiram três Chapeuzinhos Coloridos. Além de contar quem eram e de onde vieram, elas trouxeram aos pequenos um alfabeto com letra cursiva – outra habilidade que precisavam aprender de forma divertida.

Eram as próprias professoras que encarnaram os personagens, vestindo o figurino e aliando a fantasia ao complexo processo de fazer a transposição para a “letrinha emendada”.

“Nós entrávamos lá [na sala de aula] direto do mundo da imaginação para desenvolver atividades. Às vezes, trabalhávamos juntas, outras vezes, com cada uma em sua sala de aula. Foi assim que lançamos para eles o desafio do podcast com rimas e trava-línguas. Também trouxemos diversas formas de eles fazerem as leituras, utilizando QR Code, pelo celular, ou pelo computador, através do clique”, descreve Aretussa, que além de pedagoga  tem licenciatura em Computação.  

A cada tarefa proposta, as crianças eram instigadas a colocar a mão na massa, seja construindo sussurrofones, confeccionando chapéus ou fazendo versinhos. Dali por diante, era desenvolver habilidades como ler em voz alta e criar suas próprias histórias. Protagonismo puro, que não tardou a chamar a atenção das famílias dos pequenos leitores.

“Os pais entraram nesse mundo da imaginação junto com as crianças para incentivá-las. Na escola, eles perguntavam ‘É verdade, professora, que existe uma chapeuzinho?’. Incentivadas e desafiadas, as crianças se desenvolvem mais, porque depende delas. Elas querem aprender, entender qual é o desafio. Eles diziam: ‘Eu quero ler bem para eu poder ler para a turma, para minha família’”, conta a professora, orgulhosa.

Sucesso dimensionado

O resultado do empenho das crianças, incentivadas pelos adultos, pode ser mensurado. No primeiro semestre, das 68 crianças participantes, 24 tinham leitura fluente, 25 lenta, e 15, silábica. No semestre seguinte, 55 eram fluentes, 8 liam de forma lenta e 5 estavam silábicos. Na produção textual, 45 alunos começaram o ano com a escrita em desenvolvimento e 23 apresentavam ortografia correta e vocabulário enriquecido. Ao fim do período, 55 haviam atingido a meta da boa escrita e 13 seguiam se desenvolvendo.

“Em um momento em que muitas de nossas crianças, saindo da pandemia, estavam apegadas ao celular, esse projeto, com certeza, contribuiu para ajudá-las a descobrir o valor e o prazer de ouvir e de assistir uma história bem contada. Com esse trabalho, tive uma ótima oportunidade em ler com minha filha por iniciativa dela, tomada pelo interesse despertado por esse lindo projeto idealizado e executado por essas profissionais que são incansáveis em oferecer uma educação de qualidade e cheia de carinho”, elogia Cristina Keller Solano, mãe de Bárbara, da turma 1121.

Assim, não foi por menos que a escola sugeriu que as professoras inscrevessem o projeto no Prêmio Inovação SINEPE/RS 2023. Segundo Aretussa, o reconhecimento do sindicato foi uma agradável surpresa – e, talvez, um estímulo para uma segunda edição da iniciativa.

”Este ano, os Chapeuzinhos não vieram. Mas para 2024 ou 2025 temos pretensão, sim, de dar uma renovada no projeto e uma atualizada nas atividades para retomá-lo”, planeja Aretussa.

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