Conheça os relatos de quem concilia ser mãe e professora

O Dia das Mães celebra a maternidade e representa um momento para reconhecer como é árdua a tarefa de educar os filhos e atuar dentro e fora da sala de aula

imagem: Divulgação

Combinar a tarefa de educar com a experiência da maternidade é um dos grandes desafios das mulheres que escolhem a Educação como profissão. E elas não são poucas na rede de ensino. De acordo com o Censo Escolar de 2018, entre os mais de 2,2 milhões de professores da Educação Básica brasileira, 80% são mulheres. São elas que estão à frente do ensino e do acolhimento de crianças e jovens nas escolas. 

À prova de toda romantização que maternar e educar possam sofrer, três educadoras contam como organizam suas rotinas entre casa e escola, suas angústias e aprendizados no exercício da profissão e no papel de mãe.

Maratonas maternal e profissional

O Dia das Mães celebra a maternidade e representa um momento para reconhecer como é árdua a tarefa de educar os filhos e atuar dentro e fora da sala de aula
Laura e o filho Mateus em momento de carinho e diversão

Há quase dois anos, a educadora física Laura Luna Martins, 40 anos, encara uma maratona diária, que combina a preparação das aulas práticas do curso de Educação Física da Faculdade Anhanguera, trabalhos de pesquisa no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e os cuidados com o filho Mateus, um ano e oito meses. A rotina de exercício e cuidados com alimentação garante resistência física, e a terapia espanta culpas, mas Laura reconhece que nem sempre o esforço de organizar a maternidade e a vida profissional resulta em tranquilidade.

“Às vezes, não consigo fazer tudo o que preciso, porque ele está me demandando. Então, isso acaba gerando certa ansiedade. Por isso, procuro preparar minhas aulas, estudar e fazer minhas coisas pela manhã, quando ele está na escola”, conta.

Laura é professora de jovens e adultos universitários, não trabalha com crianças. Mesmo assim, a docência tem ajudado muito na construção dela como mãe. A formação em Educação Física e a constante busca por atualização na área balizam seus cuidados com o filho, com a valorização das atividades físicas e a oferta de uma alimentação saudável. Mas não é só neste ponto que a professora se conjuga com a mãe. Laura conta que a maternidade modificou seu olhar sobre as crianças e suas mães. Ela convive com alunas que já têm filhos e enfrentam dificuldades semelhantes para ajustar anseios profissionais com seus papéis maternais.

“Antes de ser mãe, eu não prestava muito atenção em crianças. Acho que ganhei um olhar mais afetuoso para com elas e com as mães. Tenho um olhar mais solidário com minhas alunas que são mães também”, avalia.

Uma nova história para contar

Os pais Liriana e Saul com a pequena Isabella, que nasceu em abril deste ano

O desejo de lecionar sempre foi algo que acompanhou a professora Liriana Zanon Stefanello, 38 anos. A trajetória como docente começou em 2016, depois de anos dedicados à pesquisa em História, disciplina que comanda junto a turmas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio na rede estadual e também no Colégio Riachuelo, instituição privada de Santa Maria, na região central do Estado.  A dedicação às salas de aula reforçou outro desejo que acompanhava a professora: ser mãe. O projeto foi adiado em razão da pandemia, assim como os planos de casamento que ela e o marido, o militar Saul Elias Pranke, vinham construindo e tiveram de ser reorganizados por conta da crise sanitária. Com o arrefecimento da contaminação por coronavírus, o casal priorizou a ideia de ampliar a família. Liriana engravidou no final de 2021, e Isabela Stefanello Pranke chegou em 19 de abril deste ano.

“A minha profissão sempre despertou em mim o desejo de ser mãe, porque nós, como professoras, acabamos não só instruindo, mas desenvolvendo afeto, um carinho maternal pelos alunos. Então, quando se quer ser mãe, essa relação faz crescer esse sentimento. Eu olhava para os meus alunos e pensava: ‘eu quero passar por essa experiência’.  Na sala de aula, a gente é mãe, amiga, psicóloga… é uma mescla de funções que nos faz pensar em como seria se fossemos mães”, diz.

O caráter investigativo que tanto se aplica ao ensino de História agora também tem servido para que Liriana vá tateando a maternidade combinada com os desafios profissionais. Como é marinheira de primeira viagem, busca o apoio das colegas que já são mães para, aos poucos, ir se reorganizando. As angústias quanto à divisão do tempo entre preparação de aulas, avaliações e trabalhos e os cuidados com a filha, claro, já fazem parte desse processo. Mas o lado professora é o que parece ajudá-la nessa reconfiguração:

“Sempre penso nesse retorno, mas sei que será um período de readequação. É um processo, que a gente vai aprendendo, com erros e acertos. Se eu errar, vou errar tentando acertar.”

Rotinas modificadas

Roberta e o filho Francisco compartilham momento de estudo e de preparação de aulas

Roberta Sant’Anna enumera com facilidade a rotina de uma professora. Além do período em sala de aula, é preciso organizar materiais, preparar as aulas, elaborar e corrigir trabalhos e provas, pontuar e lançar nos sistemas de avaliação das escolas. Mas ela ressalta: essa é a rotina de uma professora…sem filhos. Roberta é professora de Biologia na rede pública e na rede privada de Guaíba, no Instituto Educacional Dimensão. Leciona desde 2001 e, há seis anos, tornou-se mãe.

“Com a chegada do Francisco, tudo mudou. Precisei otimizar mais meu tempo na escola, porque agora, em casa, além das tarefas de professora, há uma criança que demanda atenção e cuidados. Às vezes, paro as minhas coisas para ajudá-lo no tema ou brincar junto”.

Roberta não esconde que se desdobrar para dar conta das demandas do trabalho e do filho ao mesmo tempo exige paciência e não deixa de ser um aprendizado diário e, neste ponto, a profissão de educadora se torna uma aliada. Isso porque, reflete ela, o convívio com os alunos, em diferentes fases da vida, dá subsídios para que ela compreenda as fases do filho de uma forma mais serena e natural, assim como tem a chance de observar, sem a pressão da maternidade, os erros e acertos na educação familiar.

“Vejo, por exemplo, como é importante dar atenção, confiança e autonomia para uma criança em casa. Como professora, percebo os reflexos disso na sala de aula e, muitas vezes, é um reflexo negativo, da falta disso, que vai aparecer num mau desempenho”,  avalia.

Roberta também vê uma simbiose entre os papéis de mãe e educadora. Tanto em casa, quanto na sala de aula, ela sabe que é uma referência, que precisa dar bons exemplos e proteger princípios básicos, como respeito ao outro e solidariedade, sendo amorosa e firme:

“O segredo da docência é esse. O da maternidade, também.”

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