ESG, uma sigla que fará parte da gestão das escolas

Ainda pouco difundido nas redes de ensino, o conceito que envolve boas práticas ambientais, sociais e de governança deve ser essencial para a sustentabilidade das instituições escolares

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Depositphotos

Originária do termo inglês, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance) alia o Ambiental, o Social e a Governança (ASG, no português). Mais do que um processo, é um conceito a ser implantado em instituições, empresas e, por consequência, nas instituições de ensino.  

Para que isso realmente se concretize, uma série de iniciativas conjuntas é necessária. Muitas escolas ainda precisam compreender e avançar em relação ao ESG, e essa observação pode ser verificada pela reportagem do Educação em Pauta após diversos contatos com instituições de ensino de dentro e fora do Estado. A constatação foi de que muitas possuem ações pontuais (a maioria voltadas ao A, o Ambiental), porém sem o alinhamento dos três pilares.

Em 2021, a carta anual de Larry Fink, CEO da BlackRock (maior gestora do mundo, com cerca de US$ 10 trilhões de ativos sob gestão), mostrou a relevância da adesão ao ESG. A mensagem direcionada aos executivos do mundo pede que as empresas demonstrem modelos de negócios compatíveis com uma economia neutra em carbono até 2050.

No documento refere: “[…] no futuro, uma maior transparência nas questões de sustentabilidade será um componente persistentemente importante da capacidade de cada empresa para atrair capital. Ela ajudará os investidores a avaliarem quais empresas estão servindo seus acionistas de forma eficaz, remodelando o fluxo de capital de acordo com isso.”

Esse movimento deve impactar não somente em empresas de capital aberto como também em diversos segmentos, inclusive o de ensino. A realidade para que isso ocorra pode estar mais próxima do que se pensa. 

Atuante há mais de 30 anos no mercado educacional brasileiro e ibero-americano, o diretor-presidente da Somos Educação, Mario Ghio, projeta que em três a quatro anos a escola que não aderir à mentalidade ESG vai perder alunos para aquelas que adotaram o conceito.

O que é necessário para ser implantado?

Antes de tudo, é preciso ter uma estratégia de sustentabilidade alinhada aos objetivos do negócio, ou seja, metas mensuráveis que conversem com o propósito da organização. Passa pela definição de temas materiais e o estabelecimento de ações que envolvem stakeholders prioritários.  

Geralmente, significa ter uma área que faça a gestão das iniciativas ESG, por meio de projetos e com a colaboração de atores estratégicos, como consultorias especializadas, ONGs e fornecedores parceiros. 

Segundo a especialista em sustentabilidade, Lara Ely, é importante ter uma equipe que conheça do assunto para contar com o desenvolvimento das pessoas, a busca por certificações e fazer parte de movimentos. Esta área é responsável por dar o suporte necessário para outras áreas da organização agirem no sentido de terem as melhores práticas em sustentabilidade. “Também contribui com o acompanhamento de indicadores, produção de relatório e conteúdo para gerar histórias que ampliem a reputação e a visibilidade das iniciativas”, complementa. 

Por que implantar e como atuar de forma conjunta?

Esse conjunto de valores e critérios é essencial para os negócios, pois proporciona benefícios ao meio ambiente e à sociedade. “A escola pode deixar seu legado para o futuro, deixar menos impactante possível para as próximas gerações. Esse é o primeiro benefício de implantação do conceito”, frisa a especialista em ESG e professora universitária na área de Negócios, Valesca Reichelt.

Outras questões que contribuem são o relacionamento positivo com a comunidade, reputação de imagem da empresa, atrair talentos e buscar um propósito, visando algo para o bem de todos (clientes, comunidade e colaboradores). Além de considerar os investidores, que se pautam nos fundamentos de ESG com investigação de riscos trabalhistas ou ambientais ou crise de reputação. 

O fundamento do ESG é unificar os três pilares e conseguir consolidar uma ação mais ampla, que não seja isolada ou esporádica dentro de uma organização. Para isso, é necessário criar um comitê de sustentabilidade e se concentrar em um gestor ou uma equipe que se responsabilize por trabalhar conjuntamente as ações.

Aliada a isso, uma análise do cenário da escola deve ser feita. Atuante em uma empresa que oferece uma plataforma para diagnóstico de ESG, Valesca comenta que para tomar decisões em relação às três letras se faz necessário implantar um sistema consolidado, que gere indicadores – algo que permite uma visão mais completa das ações presentes e futuras.

Como criar essa mentalidade nas escolas?

O avanço do ESG no ambiente escolar pode ser considerado um fenômeno mundial. Um movimento que se iniciou fora do Brasil e mais rápido para empresas de capital aberto. “O ESG não é uma atividade ou uma norma, mas sim uma mentalidade”, frisa o diretor-presidente da Somos Educação, Mario Ghio.

A mentalidade para uma empresa ou uma escola é a mesma – o que difere é o tipo de pressão. Muitas companhias de capital aberto têm fundos de investimentos que não ampliam seus aportes por política empresarial e por falta de solidez nos relatórios corporativos de sustentabilidade.

Já nas escolas a pressão pode vir das famílias, que vivem em um ambiente competitivo. Aquelas instituições que não se posicionarem não serão escolhidas pelos familiares, ao contrário daquelas com um relatório consistente. 

“Já é medido que o comportamento do consumidor está associado à sustentabilidade e ao respeito das marcas com foco no social”, destaca.

Muitas escolas oferecem descontos, ajudam as famílias, só que deixam de registrar esses esforços e apresentá-los para a comunidade na qual está inserida. Não é o caso de elaborar relatório completo, mas começar pelo pilar em que o colégio tem uma atuação mais clara.

A agenda ESG não anda sozinha, precisa de pessoas responsáveis, de práticas e gestão coletivas. Simples acontecimentos, como um funcionário que passa por uma sala de aula vazia e não apaga a luz, ou um porteiro que nota bullying entre estudantes e não age, são situações que fogem do que é a proposta do conceito.

Pensando nas letras S e G, é consenso de que os grupos homogêneos não conseguem observar as diversidades. Quem é atento a essa mentalidade plural é mais rentável, tem custos menores e se adapta mais facilmente. Na essência, torna uma instituição capaz de atuar com qualquer tipo de aluno e família, exemplifica Mario Ghio: 

“Um corpo diretivo só de homens nunca saberá as reais necessidades de um banheiro feminino. As alunas e suas mães não vão estar contentes diante das suas necessidades específicas.” 

TAGS





Assine nossa newsletter

E fique por dentro das novidades