Estudantes assumem papel de protagonismo na proteção do meio ambiente

Instituições colocam em prática a construção de cidadãos por meio de uma formação integral, com projetos que incentivam o cuidado com a natureza e práticas sustentáveis no dia a dia

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: Divulgação

Diante das recentes (e graves) tragédias climáticas que o Rio Grande do Sul viveu, o papel dos jovens chama atenção. Seja no atendimento dos mais necessitados, em demandas urgentes, seja olhando para o futuro, é nas gerações mais novas que a humanidade deposita esperança.

Dentro das instituições de ensino, onde eles devem ser preparados para todo tipo de desafio, diversos projetos trazem o assunto à tona. Em todas as faixas etárias e etapas do desenvolvimento, os estudantes são treinados para não apenas cumprirem seu papel, como também fiscalizarem o entorno.

Engajamento que começa cedo

É o caso dos Monitores Ecológicos, da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH). Os alunos aguardam ansiosos a chegada ao segundo ano do Ensino Fundamental, pois é quando têm a oportunidade de participar do programa. Uma série de atividades são desenvolvidas ao longo de todo o ano letivo, capacitando-os no papel de monitores, com seus devidos coletes. Até que, no começo do ano seguinte, eles recebem seus certificados e entregam os coletes dos sucessores. “A gente trabalha com a perspectiva de que uma vez monitor ecológico, sempre monitor ecológico”, explica a professora Sheila Nienow, da unidade IENH Oswaldo Cruz.

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As atividades incluem palestras, participação em eventos, campanhas de conscientização e arrecadação de materiais recicláveis – alguns deles bem específicos, como esponjas, que têm grande impacto ambiental. Empresas e entidades parceiras se encarregam de recolher e dar o devido encaminhamento. No caso de lacres e tampinhas, por exemplo, organizações assistenciais fazem a troca por cadeiras de rodas. 

“Este ano, começamos com uma trilha para descobrir a natureza que existe dentro da escola, identificar plantas, animais, ter proximidade e conhecimento do ambiente em que estamos inseridos. No final da trilha, eles chegaram ao prêmio, que foram os coletes de monitores ecológicos que vestem em cada ação”, conta a professora Simone Ledur Marks, da IENH unidade Pindorama.

O contato com a natureza também se dá por meio do cultivo de plantas. As hortas mantidas em cada unidade permitem que os próprios estudantes semeiem e acompanhem o desenvolvimento de hortaliças e chás, que depois são preparados e consumidos por eles. Sheila explica que eles mantêm cadernos de anotações, experimentando o fazer científico a partir da observação e do aprimoramento constante dos experimentos.

Monitores Ecológicos são capacitados para atuar na orientação da comunidade e no tratamento de resíduos | Foto: Comunicação IENH/Divulgação

Compreender os efeitos do descarte incorreto de materiais vem aumentando a conscientização dos estudantes e, consequentemente, das famílias e de toda a comunidade, que acaba impactada pelas campanhas. “Falamos muito com os monitores ecológicos sobre o que leva às tragédias climáticas, como contribuímos para que chegasse a esse ponto e o que podemos fazer. Desde situações mais simples do dia a dia, como manter a sala organizada, sem lixo no chão e fazer a coleta seletiva”, exemplifica Simone.

Sheila destaca outros aspectos, como a oportunidade de desenvolver diversas aptidões a partir da conscientização ambiental. Na unidade Oswaldo Cruz, o projeto dos Monitores Ecológicos ganha também o nome Eco Friends, pois é uma atividade bilíngue. Em uma das atividades deste ano, um vídeo foi produzido para alertar sobre os riscos da dengue, intitulado Stop Dengue. O material foi veiculado para todas as turmas, que também receberam um jogo educativo. “É muito interessante porque a criança se envolve muito. A melhor idade para fazer essa sensibilização é na infância. Eles se comprometem com isso e levam muito a sério a postura de monitor ecológico”, elogia.

Caçadores de resíduos

Também na IENH, outro projeto coloca o meio ambiente em primeiro plano. O que começou com o objetivo de reduzir o uso de copos plásticos descartáveis no bebedouro, em 2017, acabou ensejando a criação de um núcleo que trabalha na perspectiva de lixo zero. Tudo graças ao engajamento dos estudantes do Ensino Médio, que compraram a ideia logo de cara.

O primeiro movimento ocorreu na unidade Fundação Evangélica e, assim que engrenou, os alunos quiseram levar adiante. Eles foram até as unidades Pindorama e Oswaldo Cruz e sensibilizaram outros colegas.

Se existe coincidência, foi o que aconteceu naqueles dias. A instituição recebia um fórum municipal para discutir ações de melhorias na cidade. A assistente social da IENH convidou dois grupos de alunos para apresentar o projeto dos copinhos, mas eles não sabiam que, na platéia, estava a embaixadora do Lixo Zero em Novo Hamburgo, Geraldine Leão. Ao término do fórum, ela procurou a equipe para sugerir que o projeto adotasse uma abordagem mais abrangente.

No ano seguinte, foram fabricados e preparados móveis para coleta seletiva, de onde os estudantes dão o encaminhamento a cada tipo de material. A maior dificuldade era com o BOPP, embalagem metalizada na parte interna, utilizada para produtos como barras de cereal e salgadinhos. “Isso não se recicla em praticamente lugar nenhum. Entramos em contato até com empresas que produzem. Este ano, a Marjunia Klein, de matemática, orientava estudantes do Ensino Médio na iniciação científica quando descobriram uma forma de triturar e fazer caminhas para pets”, comemora a professora e uma das idealizadoras do Lixo Zero, Rita Cunha.

Visitas a Centros de Reciclagem fazem parte das ações do Lixo Zero | Foto: Comunicação IENH/Divulgação

Logo no primeiro ano de atividades, em 2018, o Lixo Zero alcançou 90% de redução na produção de resíduos. Em 2019, o objetivo foi alcançado, mas logo veio a pandemia. Desde o retorno 100% ao presencial, há um avanço constante em busca da excelência. Fernanda Kolrausch, que idealizou o projeto junto com Rita, teve de se licenciar e deu lugar a Ana Paula Machado, que coordena a área de Ciências da Natureza e participa desde o ano passado. “Tentamos colocar de forma que faça sentido para outros componentes curriculares, por meio de tarefas, trabalhos interdisciplinares, para que possa envolver outros professores e todos vejam que não é uma coisa estanque, só da área de biologia”, explica Rita Cunha. 

Ensino técnico ajuda a promover ações

O Eco Clube do Colégio Salesiano Dom Bosco, de Porto Alegre, é o guarda-chuva em que estão todas as iniciativas de conscientização ambiental da instituição. Ele funciona sob a regência dos estudantes do curso técnico em Meio Ambiente. “Entendemos que o estudante protagonista aprende mais, então colocamos os estudantes do técnico à frente. São eles que mobilizam o trabalho dentro da escola. Inclusive, inserimos na própria prática do curso a possibilidade dessas atividades”, destaca o coordenador pedagógico do Ensino Médio e do Curso Técnico do colégio, Alexsandro Possatto.

Entre essas ações estão medidas como a organização e padronização das lixeiras. O entendimento da instituição é o de que, ao fazerem isso, estão se desenvolvendo enquanto futuros técnicos em meio ambiente. Ao mesmo tempo, ajudam a promover boas práticas em todas as esferas.

Atividades do Eco Clube são lideradas pelos estudantes do curso técnico em Meio Ambiente e alcançam toda a comunidade escolar | Foto: Verônica Streliaev/Divulgação

Um dos resultados foi zerar a utilização de copos plásticos descartáveis na escola. Após um período de adaptação, todos passaram a utilizar canecas próprias – a exceção fica por conta dos visitantes. Em outra ação, os alunos do curso técnico capacitaram agentes ambientais mirins, que estudam no quinto ano e passaram a ser identificados por um bottom no uniforme.

Além disso, um ecoponto serve para arrecadação de eletroeletrônicos, que são recolhidos por uma instituição parceira. Eles fornecem um contêiner adesivado, em que se pode depositar todo tipo de equipamentos, coletados quinzenalmente. Tampas de garrafas e caixas de leite também contam com uma coleta específica. Tudo isso aumentou o envolvimento das famílias e da comunidade em geral, que tem acesso ao ecoponto sem precisar entrar nas dependências da escola. 

“Unimos a questão ambiental à praticidade. A vida das pessoas é corrida. Precisamos disponibilizar lixeiras no pátio para que as crianças criem o hábito, mas também alternativas que sirvam para toda a comunidade”, observa Alexsandro. O coordenador vê com otimismo o envolvimento dos estudantes na preservação do meio ambiente, uma vez estimulados de forma eficiente. 

“Eles reproduzem em casa, surte muito efeito com as famílias. Temos momentos de reflexão e, no ano passado, trouxemos fotos dos ambientes da escola, como banheiros e salas de aula. Isso causou um impacto imenso, por verem o que fazem e que a equipe de higienização precisa limpar. Conseguiram materializar, por meio das imagens, o quanto sua ação impacta nos espaços, positiva ou negativamente”, lembra Alexsandro. Em função disso, até mesmo um mutirão de limpeza foi promovido, incluindo o entorno do colégio – para depois expor os dados da arrecadação de resíduos no pátio interno.

É com iniciativas como estas, que encontram eco em tantas outras instituições pelo Estado, que o ensino privado gaúcho contribui para cuidar da comunidade. Os impactos recentes servem como alerta e demonstração da importância desse processo. A melhor parte, segundo os educadores, é que os estudantes estão aderindo à ideia com alto nível de entrega.

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