Mães e professoras: histórias de afeto e amor ao ensinar

Em homenagem ao Dia das Mães, três educadoras contam suas experiências e seus desafios em lecionar para seus filhos

por: Educardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: AdobeStock

Ser mãe é uma experiência única e, talvez, uma das mais desafiadoras na vida de uma mulher. E quando a função é ampliada e a mãe também vira professora do seu filho? Muitas são as mulheres que assumem essa dupla função no ensino privado do Rio Grande do Sul. E para homenagear essas e todas as mães pelo próximo dia 14 de maio, o Educação em Pauta foi atrás dessas histórias, para saber como foi a experiência de educar e ensinar ao mesmo tempo, confira: 

Estudante e filho

Profe Graci e seu filho Bernardo durante uma aula de geografia | Crédito: Milena Wittekind / MKT CFJL 

Em Horizontina, a professora de Geografia do Ensino Fundamental do Centro Tecnológico Frederico Jorge Logemann, Graciele Raquel Wagner, vive experiências especiais durante a semana. O seu filho Bernardo, de 16 anos, é um dos seus alunos. 

Também conhecida como “profe Graci”, ela recorda que, quando Bernardo nasceu, ela tinha 24 anos e já era professora. Ela relata que ter sido uma mãe de primeira viagem foi desafiador, considerando a questão profissional, “a adaptação foi difícil, porém necessária”. A sua organização mudou, precisou reorganizar seu tempo. “Antes de ser mãe, me dedicava integralmente ao planejamento das minhas aulas, das metodologias que iria utilizar em sala de aula, avaliações, correções. Depois do nascimento do meu filho, as prioridades mudaram, mas eu precisava manter a qualidade do meu trabalho”, salienta. 

Ela relata um outro desafio: deixar seu filho, ainda pequeno, para ir trabalhar. “Ao mesmo tempo que ir para a escola me fazia muito bem, deixar ele era bem sofrido. Mas com o tempo, tudo isso foi superado. Lembro até hoje, e conto para as pessoas, que ele cresceu em meio a provas, trabalhos e livros espalhados pela casa”, recorda.

Anteriormente, a educadora confessa que tinha medo de quando esse dia chegasse: ser mãe e educadora. Ela frisa que sempre foi muito rígida com Bernardo nas questões relacionadas à escola, e não sabia como seria. Mas, para sua surpresa, tudo está tranquilo. Ela vê ele na sala de aula realmente como aluno, assim como os outros estudantes da turma. Não cobra mais e nem menos por ser seu filho. Ele também não tem regalias ou privilégios. Atualmente, ela leciona Geografia para o filho, que cursa o 3º ano do Ensino Médio.

A sua essência de professora exige isso, e acredita que precisa ser assim, sem favorecer ou facilitar, e nem ser mais exigente. “Lá ele é meu aluno, mesmo sendo meu filho, uma das pessoas mais importantes da minha vida. Às vezes rola umas brincadeiras, como ‘Bernardo, vou contar pra sua mãe’, ou os colegas falam que vão contar pra mãe dele. Rimos todos juntos da situação”, diz.

Para a professora Graci, ser mãe foi um divisor de águas. “Passei a ver meus alunos de uma forma diferente depois de me tornar mãe, sem perder meu jeito exigente. Consigo perceber de uma forma mais clara e com sensibilidade, que nem sempre estão bem, que nem sempre conseguem dar conta de tudo, que tem uma mãe e um pai por trás desta criança ou adolescente que está lá e acredita nele, que às vezes estão precisando de ajuda, ou de um simples “está tudo bem? Vejo um pouquinho dos meus filhos em cada um dos meus alunos”.

Estabelecendo limites 

“Ser professora já é complexo, imagina ser professora do filho.” A declaração da coordenadora pedagógica institucional da Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem), Elisabete Andrade, ressalta o quanto são representativas essas atribuições na vida pessoal e profissional. 

A especialista aponta que a necessidade de estabelecer limites, especialmente em relação à função materna, vai depender da idade do estudante. Na infância, é mais difícil essa separação sendo necessário desenvolver estratégias para limitar o papel como mãe enquanto estiver como educadora. Já em relação aos adolescentes, a conversa é importante, explicando, antecipadamente, os papéis de mãe e professora. 

Em qualquer um dos casos, o fundamental é deixar claro para os filhos que na escola a professora não deixará de ser mãe, mas que, em sala de aula, todos seguirão as mesmas regras e serão tratados de acordo com as suas necessidades. “Tanto a criança quanto o adolescente precisam se sentir seguros emocionalmente para aprender. Logo, as regras precisam ser claras”, pontua.

Mesmo não sendo a mesma situação, Elisabete recorda, com bom humor, de um fato marcante que dimensiona o quão é desafiador essa dupla jornada. Quando era professora, seu filho estudava na mesma escola e, em um determinado dia, resolveu fugir da sala de aula. Resultado: foi pego em um dos corredores enquanto subia as escadas para encontrá-la.

No entanto, a especialista acredita que à medida que se vai passando por esse tipo de experiência é possível aprender a lidar com ela. “Não há um manual para ser mãe e muito menos um manual para ser mãe e professora dos filhos. Seguimos sempre aprendendo a ser mães e a ser filhos, nos mais diversos contextos da vida e da profissão”, salienta.

Mãe de aluna

Nas aulas de Língua Portuguesa, Raquel ensina sua filha Antonella | Crédito: Comunicação Colégio Gonzaga / Divulgação

No sul do Estado, mais especificamente em Pelotas, um caso semelhante ocorre com Antonella, de 12 anos. Ela estuda no Colégio Gonzaga e a sua professora de Língua Portuguesa, do Ensino Fundamental, é sua mãe.

A professora Raquel Corvello destaca que essa situação ocasionou mudanças representativas, pois percebeu que tem sido mais analisada e observada por sua filha. “O lado crítico dela foi aflorado. Algumas vezes, noto que me admira como mãe e professora. Em outros momentos, ela questiona minhas atitudes ou aparência, sempre em casa e nunca na frente dos outros”, frisa.

Em relação à dinâmica em sala de aula, a mãe e professora comenta que ambas conseguem deixar a convivência bem imparcial. “Na medida do possível, trato ela como aluna e, em casa, a Antonela é muito autônoma. Então, não preciso cobrar nada”, complementa.

Sobre esse “cuidar maternal” ser transmitido para os outros alunos, Raquel frisa que ser professora vem antes de ser mãe. “Com certeza, todas nós professoras temos um olhar de preocupação e cuidado que é inerente a todas as mães. Sou um pouco mãe, uma mãe muito exigente, de meus alunos e de meus filhos”, ressalta.

Em dose dupla

No colégio, Audrey e Günther tem educação física com sua mãe Karina | Crédito: Leandro Duarte / Colégio Rosário

Um dia dando aula para a filha, em outro para o filho. Em Porto Alegre, esses momentos são vividos pela professora de Educação Física do Ensino Fundamental do Colégio Marista Rosário, Karina Pacheco Dohms. 

Desde o ano passado, a educadora começou a dar aulas para o filho Günther, de 10 anos, e, a partir deste ano, para a filha Audrey, de 8 anos. Segundo a professora, a sua profissão possui semelhanças com a maternidade, pois é preciso dar acolhimento e afeto aos estudantes para que possam se desenvolver e constituir uma caminhada de aprendizado. “Creio que o cuidado maternal se estende aos estudantes por meio do acolhimento, do afeto, da atenção e do cuidado ampliados. Ser mãe é uma benesse para o meu fazer docente”, analisa.

Karina enfatiza que lecionar para seus dois filhos tem sido muito positivo e gratificante. Ela confessa que não tinha imaginado que essa situação iria acontecer, mas, quando seus filhos estavam se aproximando do 3º ano, perguntavam quando seria professora deles. “Nessa época, comentava que na escola todos os estudantes eram tratados de maneira igual e que eles deveriam me chamar de professora, mas se escapasse um ‘mãe’ não haveria mal nenhum”, lembra. 

Para a docente, é uma grande felicidade saber que seus filhos estão podendo acompanhar um pouco daquilo que ela tanto se dedica e se esforça para proporcionar aos seus estudantes. São momentos para eles observarem o quanto a “profe” contribui para o desenvolvimento motor e experiências corporais diversificadas e significativas para diversas crianças.

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