Mentoria é uma tendência em programas de formação de professores

Algumas escolas estão trazendo esse processo de acompanhamento e orientação aos docentes, tanto na formação profissional como pessoal

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: AdobeStock

Em crescimento em muitas empresas nos últimos anos, a mentoria, que, condensando sua essência, é uma forma de facilitar a trajetória do mentorado. Essa relação colaborativa tem um mentor, que pode ser um professor mais experiente ou outro tipo de profissional, que acompanha as práticas do educador iniciante. A ele serão transmitidos feedbacks e compartilhados estratégias formativas. Cada vez mais, este processo prático está presente na área da educação.

Para o escritor, palestrante e pesquisador de projetos inspiradores na educação atual e do futuro, José Moran, o período atual é de transformação nos ecossistemas da educação básica e superior. Na sua visão teórica, os educadores precisam compartilhar práticas, experiências e visões. “Dialogar soluções mais inovadoras e compartilhar a experiência que já têm, ajudará nas suas formações”, reforça. 

Segundo Moran, o professor tem a missão de ser, cada vez mais, proativo, sendo necessária a personalização da atenção dada ao estudante. A escola precisa entender o aluno, saber como está aprendendo e suas expectativas de aprendizagem. “O educador precisa ser um mix de tutor e mentor, acompanhar cada estudante e seu percurso tanto intelectual, socioambiental e ético”, diz.

Ele sugere que a tecnologia, mais especificamente uma plataforma com Inteligência Artificial, pode sim ajudar a gerenciar todo esse percurso. “A própria mentoria pode servir de apoio para a gestão das escolas, isso para que o professor possa ter um amplo desenvolvimento de suas competências”, complementa.

No campo da prática, o CEO da Kanttum, Pablo Sales, comenta que a mentoria tem crescido em ambientes escolares, sendo considerada como um relevante benefício concedido aos professores. Por atuar em uma edtech especializada em comunidades de aprendizagem, ele frisa que os professores têm se interessado por assuntos como: gestão, plano, atividades inovadoras e utilização de recursos pedagógicos em sala de aula. 

O especialista observa que ainda existe uma maior necessidade de estruturação de um programa de desenvolvimento por parte das escolas. Na maioria dos casos, a Kanttum inicia o serviço por meio dos coordenadores do colégio, que precisam de orientações para definir critérios e metodologias, e, a partir disso, atuar na mentoria com os professores. “Em função dessa demanda, pretendemos ampliar a mentoria focada nos gestores escolares”, projeta. 

Para a diretora pedagógica do Colégio Farroupilha e diretora do Sinepe/RS, Marícia Ferri, a maioria das escolas ainda não usa o termo “mentoria”, associado à formação de professores, porém esta é uma necessidade, um caminho a ser seguido, de apostar no desenvolvimento do educador.

Marícia enfatiza que a educação privada precisa abrir espaço para esse conceito, principalmente na formação de educadores no início da carreira. No Colégio Farroupilha, por exemplo, é comum profissionais recém formados ingressarem nos laboratórios como auxiliares, aprenderem com os professores mais experientes e assim, aprimorarem sua prática docente. “Muitos professores que atuam na escola iniciaram como estagiários, foram promovidos a auxiliares e, posteriormente, assumiram a sala de aula. Isso ocorre desde a Educação infantil até o Ensino Médio” complementa.

Acompanhar o mapa de competências

A premissa da Rede Marista tem como característica um forte plano de formação continuada. No caso do Colégio Marista Ipanema, em Porto Alegre, são promovidos encontros semanais em todo ano, além das jornadas pedagógicas, que ocorrem no início, no meio e no fim de cada ano. 

Entre capacitações e mentorias, os temas com mais aderência entre os professores são tecnologias e metodologias ativas. Outro assunto é o aprimoramento em relação à inclusão, especialmente com estudantes com espectro autista, Síndrome de Down e aqueles que ainda não foram diagnosticados.

O vice-diretor educacional do Colégio Marista Ipanema, Fernando Degrandis, comenta que, independente do setor, ao ingressar na instituição de ensino, o profissional conhece o seu mapa de competências, que é dividido em três frentes: o que se espera dele, seu trabalho em grupo e sua atuação como colaborador marista. A partir desta análise, decorre uma série de formações e os acompanhamentos têm aspectos gerais que entram no plano de formação continuada e, individualmente, há um processo personalizado. “A ideia é fazer essas contribuições de maneira mais assertiva”, frisa.

No caso dos professores, existe um olhar para o planejamento, materiais e avaliações produzidas e também acompanhamento sistemático do gestor de equipe. “Existe um diálogo sobre o projeto de vida destas pessoas para entender o quanto querem se desenvolver enquanto sujeito e profissional”, enfatiza.

Quanto aos resultados alcançados, o Colégio possui uma pesquisa de satisfação entre os docentes, desenvolvida a cada dois anos, que qualifica as oportunidades de formação geradas pelo colégio. Degrandis indica que houve melhoras nos resultados acadêmicos e acredita que essa é uma maneira do professor se sentir acolhido, um dos grandes valores maristas.

Para a professora Paula Braga Medeiros, os momentos de feedback da coordenação, a partir do mapa de competências, e a formação continuada ofertadas, pela instituição, ao grupo de educadores, são fundamentais para a continuidade do aprimoramento acadêmico, profissional e pessoal. “Nestes espaços realizamos trocas significativas entre colegas, promovendo assim, nosso crescimento e formação integral”, reforça.

Orientações para a educação inclusiva

A Rede Educação Scalabriniana Integrada (ESI) realiza um alinhamento com outras 12 escolas de vários estados (respeitando suas características regionais), com práticas em comum. “São capacitações em um modo online, com profissionais de renome nacional e internacional, com assuntos para contribuir na formação de mais qualidade aos alunos”, destaca a coordenadora pedagógica do Colégio São Carlos, Itelvina Prateado.

Quanto ao Colégio São Carlos, em Caxias do Sul, são elencados temas com aprofundamento, observação do cotidiano e repetições das práticas pedagógicas. São as demandas que os educadores trazem, sendo que a instituição realiza um processo de escuta e acolhimento do cotidiano, das angústias e das reflexões.

No ano passado, o Colégio teve um olhar mais atento à qualidade para educação inclusiva. Uma visão ainda mais próxima dos estudantes que demandam atenção maior da equipe do colégio. Por meio dessa formação, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) do São Carlos ganhou um foco para quais práticas seriam mais adequadas. “Tivemos formações coletivas, discussões sobre aspectos da Legislação de Educação Especial e quais são os direitos de pais e alunos”, ressalta. 

Em decorrência disso, a orientadora Educacional do Colégio, Carla Manosso, relata que os professores possuem um acompanhamento com a coordenação pedagógica  devido à criação do PDI (Plano de Desenvolvimento Individual) que é feito para os alunos. Os docentes contribuíram na construção desse modelo e quando há dúvidas de como atendê-lo, existe uma monitoria. “Eles podem vir na minha sala ou na da coordenadora pedagógica quando necessário”, diz. 

Os docentes seguem também todo um plano de política pedagógica e suas diretrizes, do que a Rede ESI acredita ser uma boa educação. Ela relata que esse processo, por ser novo, o de educação inclusiva, acredita que os educadores estão aprendendo novos conhecimentos e sabem que possuem um suporte da escola. 

Por mais que os professores tenham suas especializações, a temática é relativamente ainda recente, esse olhar de como atender um aluno, se é de maneira mais auditiva ou descritiva, saber como a criança com algum tipo de transtorno pode se desenvolver. “Tem professores que estão andando por si só e outros com muitas dúvidas, é uma construção diária”, complementa.

Um caso de profissional bem ambientada ao sistema de mentoria é o da professora do Ensino Fundamental, Ana Rita Nunes. Ela destaca que conta com o suporte de Carla para várias situações, como o de averiguar se houve trocas de medicação de um aluno, o que modifica a forma de atender esse jovem.

Mesmo com o planejamento no início de cada ano, as crianças vão se desenvolvendo e existe a necessidade de se adaptar e mudar a abordagem. “Sinto que estou bem assistida pela Rede ESI. Estamos lidando com algo novo, a mentoria. Acredito que a melhor forma de se conseguir sucesso é trabalhar em equipe, olhando o que precisa cada aluno”, conclui.

4 vantagens que um programa de mentoria pode oferecer: 

1) Feedback individualizado aos professores.

2) Oferecer novas referências e práticas.

3) Fornecer dados à gestão da escola para tomada de decisão eficiente.

4) Promover diferenciais no colégio para atingir uma retenção de docentes.

Fonte: Pablo Sales, CEO da Kanttum

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