Novo Ensino Médio na prática: os caminhos trilhados pelas escolas

Mesmo diante de indefinições, como a atualização sobre como será o novo Enem, os colégios desenvolveram seus itinerários formativos e estão colhendo seus primeiros resultados

por: , Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Depositphotos

De acordo com o cronograma nacional para as ações de implementação do Novo Ensino Médio, o Ministério da Educação (MEC) indicou a implementação a partir de 2022 e de forma gradual. Nos próximos dois anos, é preciso chegar ao final do ciclo, ou seja, contemplar os três anos do Ensino Médio. 

Dois grandes blocos foram constituídos. O currículo geral básico, que tem como referência a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os itinerários formativos, que oferecem a possibilidade de o estudante se aprofundar em uma ou mais áreas de conhecimento e/ou na formação técnica e profissional. 

Os eixos que definem a abordagem de cada itinerário e estão divididos em quatro categorias propostas pelo MEC:

  • Investigação científica 
  • Mediação e intervenção cultural
  • Processos criativos 
  • Empreendedorismo

Esse fomento do protagonismo estudantil, desenvolvendo o estudante como cidadão e profissional, vem sendo foco das escolas. Outro é a ênfase no intitulado “Projeto de Vida”, um componente curricular do Novo Ensino Médio, de acordo com a Lei, com formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.

Todo o trabalho está sendo construído sem uma definição ainda de como será o novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O processo seletivo ainda não teve as diretrizes anunciadas e que devem ser aplicadas em 2024.

Nesse meio tempo, as escolas particulares já trabalham com itinerários formativos. Confira a seguir alguns exemplos.

No caminho da internacionalização

Desde o anúncio do novo Ensino Médio, em 2017, o Colégio Santa Inês começou a análise com o seu corpo docente. Os primeiros desenhos de como seria elaborado foram formatados. “De fato, iniciamos a implementação em 2021 por meio de escutas com os estudantes e suas famílias. Estudamos muito a BNCC e uma série de normativas do Conselho Nacional de Educação. Todo esse estudo foi ao encontro da nossa história de ensino”, enfatiza a coordenadora do Novo Ensino Médio do Colégio Santa Inês, Fabiana Pires.

Aos alunos, o Colégio oferece uma base diversificada, partindo do ambiente de protagonismos de vida e investigação científica. Os estudantes possuem três escolhas por série e, em cada eixo de abordagem, são mais duas opções. No primeiro ano, é possível escolher por “Comunicação, Mídias Sociais e Empreendedorismo”, na área de humanas, ou “Biotecnologia, Ética e Empreendedorismo”, nas exatas.

Para contribuir com o Projeto de Vida adotado, dois tipos de profissionais estão envolvidos. Um professor que faz um papel de mentor de propósito, que estimula o olhar do aluno para seus potenciais, suas fragilidades, sua organização, suas emoções, entre outros aspectos. O outro docente desenvolve temas contemporâneos previstos no plano de trabalho, um entendimento com abordagem, como: tolerância, empoderamento, ética e cidadania e comunicação positiva.

Em relação à formação dos professores, o Santa Inês intensificou a busca por docentes e pesquisadores, que já faziam parte do perfil de promoção à pesquisa. “Em algumas situações pontuais, para ampliar os conhecimentos dos professores, oferecemos algumas consultorias a eles. Também possuímos uma relação próxima com as principais universidades do Estado. Uma vez por ano, promovemos um painel intercâmbio e recebendo os profissionais de fora, construindo a nossa trajetória no exterior”, complementa. 

A assertividade da escolha do que fica na base comum do currículo não foi uma tarefa simples e precisa contar com a administração de tempo tanto de alunos como professores. “Com essa forma diferente de períodos, os estudantes possuem menos exercícios para fazer em sala de aula e a revisão de estudos precisa ser feita em casa. Ao professor cabe elencar os principais conteúdos que precisam ser ensinados”, analisa Fabiana.

Já na sua 15ª edição, o Painel de Profissões do Colégio, realizado em 2022, contou com workshops com professores de universidades dos Estados Unidos e de Portugal. “A intencionalidade dos estudantes é um dos nossos Projetos de Vida. Temos um alto índice de proveniência em idiomas. Estamos crescendo essa organização e sem deixar de dar opções aos nossos alunos em relação a cursos específicos no Brasil. Permitimos essa liberdade de pensamento aos estudantes de onde querem atuar”, reforça.

Os planos do Colégio é justamente seguir essa trilha da internacionalização, ainda mais que está em seu sétimo ano de educação bilíngue. “Queremos aproveitar esse trabalho realizado, aliado à tecnologia para encurtar os caminhos dos jovens”, sinaliza.

No caminho do mercado de trabalho e alunos 

Os preparativos para o novo Ensino Médio no Colégio Farroupilha começaram em 2019. Houve um envolvimento dos estudantes a partir da visão do que gostariam de vivenciar. “Focamos nas diferentes experiências que ajudem os nossos estudantes em seus projetos de vida”, ressalta a diretora pedagógica do Colégio Farroupilha, Marícia Ferri.

Neste ano, no auditório da escola, ocorreu as “Eletivas Farroups”, uma aula com os estudantes da primeira série do Ensino Médio e os professores das eletivas obrigatórias voltadas para esse grupo. 

Na ocasião, foram demonstradas as 10 eletivas disponíveis: Estatística aplicada à pesquisa científica; Comunicação e expressão; Ateliê de linguagens visuais; Escape Room: atualidades por meio da gamificação; Ciência forense; Cultura maker e prototipagem digital; Programação e desenvolvimento de web+games; Inovação e Saúde; Escrita criativa e Poder e território: a construção da sociedade ocidental. 

O “aulão” foi o momento para os alunos escolherem suas áreas de interesse / Foto: Divulgação

Para o segundo semestre, novas disciplinas serão propostas. “Já estamos em movimento de construção e avaliação com rodas de conversas com as percepções do nosso atual currículo”, sinaliza a diretora pedagógica.

Com o novo Ensino Médio, o envolvimento dos alunos é perceptível, com depoimentos favoráveis. “Promover essas escolhas de disciplinas é importante, permitir essa experimentação de área de interesse qualquer que seja”, ressalta.

Entre as principais mudanças curriculares do colégio, a Educação Financeira e o Empreendedorismo se tornaram disciplinas obrigatórias. Outra são os projetos integrados entre as matérias de química, física e biologia no primeiro ano do Ensino Médio. Está dentro da metodologia STEAM, que permite que os alunos resolvam problemas por meio do trabalho colaborativo e como protagonistas.

Os próximos passos do Colégio estão relacionados à ampliação do acesso do aluno ao mercado de trabalho. “Vem contribuir com os projetos de vida que estamos desenvolvendo”, conclui.

No caminho de novas possibilidades de estudos

O trabalho desenvolvido no Colégio Mauá para a construção dos itinerários formativos é autoral, por meio de uma parceria entre a coordenação, área de psicologia e alunos, com foco no autoconhecimento e transição profissional. “Queremos que a preparação do aluno seja para entrar em uma universidade, com processos comunicativos, sociais e pessoais desenvolvidos. A nossa feira de profissões é um exemplo de inserção no mercado de trabalho”, frisa o coordenador do Novo Ensino Médio, Waldy Lau, lembrando que a formação geral básica foi constituída em 2022. 

A opção definida é proporcionar as escolhas de caminhos a partir da segunda série do Ensino Médio. Os interessados em Medicina poderão escolher disciplinas eletivas, como ciências naturais (química e biologia) e filosofia. Quem optar por engenharia mecânica vai estudar mais matemática e natureza, por exemplo. 

O Laboratório de Química é um dos espaços de desenvolvimento dos alunos / Foto: Divulgação

O colégio enxerga como um movimento muito positivo o novo Ensino Médio. Os alunos já percebem as diferenças de abordagens. “Agora, o próprio aluno vai construindo com a escola, desenho do próprio currículo”, comenta Lau.

Para os planos do Mauá, reserva continuar a formação básica mais intensa e ampliar o bloco de combinação de itinerários aos alunos.

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