Por que apostar em podcast como recurso pedagógico

Com a diversidade de alternativas tecnológicas, baixo investimento para gravar e grande adesão por parte dos alunos, o programa em áudio deve ganhar espaço nas salas de aulas

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Depositphotos

Youtube, Spotify, iTunes, SoundCloud: muitos formatos estão disponíveis na internet para desfrutar de conteúdos por áudio, seja em casa, no trabalho ou na sala de aula. O Brasil é o terceiro que mais consome podcast no mundo, com mais de 30 milhões de ouvintes, ficando atrás apenas da Suécia e Irlanda, segundo pesquisa da plataforma CupomValido.com.br, com dados da Statista e Ibope. 

Mais de 40% dos brasileiros escutam podcast pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. A grande preferência em relação à plataforma de áudio é pelo Spotify (25%). Em segundo e terceiro lugar estão a Apple Podcasts e Google Podcasts, com 25% e 20%, respectivamente.

Essa popularização dos podcasts no país, principalmente na área do entretenimento, abre caminho para a aplicação em sala de aula. A adesão por parte dos estudantes para esse tipo de aprendizagem já é uma realidade e pode ainda ser mais explorada pelos professores. 

Podcast na educação foi objeto de estudo

Antes da pandemia, mais precisamente em 2019, Maurício Severo da Silva, atual coordenador do setor de Educação a Distância (EaD) da Univates, escreveu uma dissertação sobre o recurso de aprendizagem que possibilita aos docentes estimular a autonomia de estudos e autoria discente. O estudo fez parte do trabalho de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ensino, na mesma universidade. A proposta foi estudar o impacto do podcast na educação e foi aplicado em alunos de graduação da Computação.

Neste trabalho intitulado “O uso do podcast como recurso de aprendizagem no ensino superior”, é referido que: “Sua percepção é que os estudantes compreenderam a importância de seu papel frente ao próprio aprendizado. Outro ponto a ser destacado foi o engajamento demonstrado pelos estudantes ao longo das aulas, algo que o pesquisador nunca havia experimentado enquanto docente. Além disso, os desdobramentos da análise das aulas fizeram com que o pesquisador compreendesse alguns dos possíveis motivos que levam alguns estudantes a se manterem passivos em sala de aula.”

Há 15 anos em contato com podcast, o coordenador de EaD da Univates comenta que nesse estudo, apesar da reclamação da quantidade de leitura para elaborar um conteúdo mais denso para produzir o podcast, essa dedicação partiu dos próprios estudantes. “Identifiquei muitos pontos de aprendizado a partir deste objeto de pesquisa”, conclui.

Recurso deve ser mais usual no ensino

Para o professor da Escola de Comunicação, Artes e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e podcaster, Tércio Saccol, os docentes podem usar o recurso de áudio dentro de uma construção de elementos. “O que conta é a portabilidade, escutar a qualquer momento, em deslocamento; além disso, traz o conceito de acessibilidade, pois todo mundo pode escutar. Os conteúdos da aula se expandem e avançam a discussão sobre os temas propostos”, frisa.

Soccol acredita na produção colaborativa dos alunos. “Vai caber ao professor transmitir o beabá aos estudantes, definir as atividades, as funções dos grupos, os fluxos, as estratégias de distribuição de tarefas, os prazos e como será organizado em sala de aula”, sinaliza.

Já o especialista em podcast e fundador da Voz e Conteúdo, Gustavo Passi, relata que, no ano passado, teve uma grata surpresa ao ensinar docentes e seus alunos sobre a criação de programas de áudio. “Em uma instituição de ensino superior realizei uma aula de transformação digital sobre intraempreendedorismo. O formato de entrega de trabalho de conclusão de MBA dos estudantes foi tanto em vídeoaulas como em conversas mais gostosas via podcast. No ensino médio, notei que o movimento ainda está tímido, mas com bom interesse”, comenta.

Passi discorda do pensamento que o podcast é um entretenimento disfarçado de ensino, pois todo o tipo de conversa tem um aprendizado e a educação sempre teve incluída a troca de diálogos. Pelo potencial de recursos disponíveis, a movimentação do podcast na educação ainda é tímida. “As plataformas têm interesse por esse tipo de conteúdo, tanto no gratuito como no pago. É um caminho sem volta, o podcast será obrigatório nos próximos três a cinco anos. Se pode visualizar a partir do investimento das empresas em tecnologias relacionadas, como, por exemplo, na Alexa (tecnologia da Amazon) e no Google Assistente”, projeta.

Geografia ensinada por streaming

No início de 2021, ainda na incerteza da Covid-19, o professor de geografia do Colégio Anchieta, Diego Neves Sampaio, teve um momento para fazer as reflexões acerca das novas estratégias de ensino. Dessa forma, houve a necessidade de reinventar práticas pedagógicas aplicadas ao então chamado novo normal e, assim, foi criado o podcast Geografia do Dieguito, transmitido pelo aplicativo Anchor e distribuído para as principais plataformas como, por exemplo, Spotify e iTunes. 

“Essa prática visa a analisar e a difundir práticas pedagógicas associadas ao ensino e à aprendizagem em Geografia, bem como refletir sobre as diferentes formas de ensinar e aprender, utilizando ferramentas digitais, especificamente o podcast. Ainda assim, o uso de ferramentas digitais, no ensino e aprendizagem, potencializa e ressignifica as relações entre o estudante e a sua noção sobre a importância do componente curricular, na resolução de situações problemas”, comenta o professor.  

Conforme destaca Sampaio, a ferramenta é um agente potencializador nas relações estabelecidas em sala de aula, principalmente em tempos pandêmicos. 

“O professor é muito mais que um mero transmissor de objetos de conhecimentos, é aquele que conduz o sujeito estudante ao seu mundo, através da crítica e da construção das relações existentes na sociedade”, complementa.

Com diversos episódios já gravados, em uma média de duração de 10 a 20 minutos cada um, e com grande interação, o professor utiliza a ferramenta para ensinar cerca de 700 alunos do colégio. “É uma forma de fixar o conteúdo, tornar a aprendizagem mais significativa. Pode ser para uma revisão de prova ou reflexão. Já é um processo pedagógico. Futuramente, pretendo chamar os estudantes para dar relatos no podcast, isso para contarem como foi a experiência”, enfatiza.

Apresentação de trabalhos por podcast

Do aluno para o docente. O caminho inverso da aplicação do programa de aúdio gravado também é utilizado em salas de aula. Desde 2019, a professora e coordenadora da Área de Ciências Humanas da UniRitter, Raquel Bello Vázquez, deixa à escolha dos seus estudantes apresentarem os seus projetos de semestre por meio de podcasts ou artigos científicos. “É um formato que muitos estudantes gostam, se identificam, pois costumam consumir, escutar. Percebo que eles se sentem mais engajados. Tem toda a facilidade em incluir música e coletar depoimentos via Whatsapp”, complementa. 

Segundo a professora, metade dos alunos de cada turma aderem a expor seus trabalhos por meio do podcast, que são veiculados por Spotify, SoundCloud ou Youtube (em formato fechado). “Notei que esses alunos pesquisam bastante, com conteúdos bem completos. Os resultados são muito bons, a motivação é maior para fazer esse produto e, além disso, os colegas querem escutar, se empolgam”, relata.

Para encerrar essa reportagem, segue uma lista de podcasts para se inspirar.

Escriba Café

Fronteiras da Ciência

Papo Reto

Xadrez Verbal


>> Além da sala de aula: conheça o podcast ‘Caminhos da Educação’, produzido pelo Sinepe/RS

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