Rede busca ajudar professores a desenvolver a criatividade em sala de aula

Conceito surgido a partir da educação infantil, aprendizagem criativa colabora para transformações na educação em diferentes níveis

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: AdobeStock

Observar crianças no jardim da infância pode ser uma atividade mais que divertida, mas inspiradora. Foi justamente com uma observação atenta no modo como os pequenos e pequenas desenvolvem novas habilidades que surgiu o conceito de aprendizagem criativa.

“A aprendizagem criativa é uma abordagem pedagógica proposta pelo grupo de pesquisa Lifelong Kindergarten, do MIT Media Lab, nos Estados Unidos, que se inspira na forma como a aprendizagem acontece no jardim de infância. Na educação infantil, as crianças aprendem motivadas pela curiosidade e interesse, criando projetos, em um ambiente colaborativo e de forma livre para errar, refazer, testar materiais e tecnologias diferentes e refletir sobre o que estão criando.”

André Peres, professor do IFRS e integrante da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC)

A aprendizagem criativa foi proposta por Mitchel Resnick, pesquisador do MIT Media Lab (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos. A ideia central é baseada principalmente no construcionismo de Seymour Papert, também pesquisador do MIT. 

Influenciada por pensadores da educação como Piaget, Paulo Freire e Maria Montessori, a aprendizagem criativa tem como norteadores o que chamamos de 4P’s. São eles:

“A aprendizagem criativa é uma abordagem pedagógica proposta pelo grupo de pesquisa Lifelong Kindergarten, do MIT Media Lab, nos Estados Unidos, que se inspira na forma como a aprendizagem acontece no jardim de infância. Na educação infantil, as crianças aprendem motivadas pela curiosidade e interesse, criando projetos, em um ambiente colaborativo e de forma livre para errar, refazer, testar materiais e tecnologias diferentes e refletir sobre o que estão criando. Esses são os 4 P’s da aprendizagem criativa: Paixão, Projetos, Parcerias e Pensar brincando”, contextualiza André Peres, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e integrante da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC). 

Criada em 2015 por um grupo que engloba educadores, artistas, pais, pesquisadores, empreendedores, alunos e organizações que promovem práticas criativas e processos “mão na massa”, a RBAC possui núcleos regionais que atuam diretamente com as comunidades escolares e também em parceria com empresas e outras instituições de ensino. No Rio Grande do Sul, o Núcleo Porto Alegre iniciou suas atividades em 2018 e é sediado dentro do POALab, no IFRS, em Porto Alegre, e atua em toda a região metropolitana. A iniciativa para a capital ter o seu próprio núcleo da RBAC partiu de Peres, que buscava uma alternativa para renovar os processos de aprendizagem no IFRS. 

“Em 2015, eu criei o POALab e, logo em seguida, em 2016, teve início a primeira turma do Mestrado Profissional em Informática na Educação. Nessa época, eu estava estudando como alinhar um espaço mão na massa com tecnologias digitais e a criação de experiências de aprendizagem. Comecei a estudar os trabalhos de Seymour Papert, Gary Stager, David Cavallo, Paulo Blikstein e Mitchel Resnick. Foi quando conheci a RBAC e, a partir da participação nas reuniões do Núcleo de Pelotas, fui inspirado para criar o de Porto Alegre”, lembra Peres.

O núcleo serve como referência e apoio para professores, alunos e quem mais estiver interessado na adoção da aprendizagem criativa. Peres explica que esse apoio é realizado por meio de encontros, eventos, capacitações e, principalmente, troca de experiências. 

“É um espaço de construção de conhecimento que acontece de forma coletiva. Dá espaço e valoriza as experiências e opiniões de alunos e professores na criação de experiências de aprendizagem alinhadas com a aprendizagem criativa”, explica.

Na última edição do Fórum Econômico Mundial, na cidade de Davos, na Suíça, a aprendizagem criativa ganhou destaque com o anúncio da criação da Education 4.0 Lighthouses (Faróis da Educação 4.0, em tradução livre), uma rede de iniciativas que promovem experiências educacionais inovadoras. Formado por 16 instituições, a ideia é promover e apoiar experiências que estimulem novas formas de aprender e ensinar, elementos que integram a lista de habilidades para o que está sendo chamado de 4ª Revolução Industrial, momento que pede transformações educacionais que coloquem o aluno no centro do processo de aprendizagem. A RBAC ganhou a responsabilidade de representar o Brasil neste espaço de relevância para o tema. Desafiadora desde a sua chegada, a aprendizagem criativa ganha luz após a criação da rede, o que promete uma atenção maior para propostas que coloquem o aluno no centro do processo educativo.

Para que isso ocorra, as tecnologias utilizadas são adequadas à idade: giz de cera, massa de modelar, tinta e materiais não estruturados. Mas quais seriam as tecnologias possíveis para trazer a aprendizagem criativa para a educação básica e superior? Segundo Peres, é esse desafio que move a RBAC. 

“Na prática, o professor realiza um projeto com os alunos, refletindo sobre o conhecimento que deseja que eles aprendam e como despertar o interesse no assunto. Ou seja, como conectar o tema à paixão deles. É uma aula de geografia? O aluno pode estudar sobre times de futebol daquele país, ou bandas de rock, ou simular uma viagem pesquisando hotéis, museus e pontos turísticos. Neste projeto, é importante respeitar as diferentes formas de expressão: um grupo pode fazer um vídeo, outro grupo uma música, um texto”, explica o professor. 

Uma forma de avaliar a adoção da aprendizagem criativa é por meio do produto final: se cada grupo apresenta algo completamente diferente dos demais e surpreende o professor, a aprendizagem criativa aconteceu. Tecnologias digitais entram no processo com o mesmo intuito da massinha de modelar na educação infantil. Criar algo novo, a partir da pesquisa e do estudo, juntamente com o auxílio dos professores, é o que motiva a abordagem e torna a aprendizagem efetiva. 

“Muitos professores já fazem atividades muito alinhadas com a aprendizagem criativa. Às vezes, se sentem isolados em suas escolas, ou gostariam de mudar sua prática. A primeira coisa a fazer é participar de um núcleo da RBAC. As teorias e conceitos estão disponíveis na internet, mas o valor continua nas pessoas. Então, esse é o primeiro movimento a ser feito: se conecte à rede de pessoas”, orienta Peres, que também destaca que o reconhecimento da RBAC e da abordagem da aprendizagem criativa pelo FEM ajuda na construção de uma visão uniforme do que significa essa abordagem, da sua importância e impacto efetivo. 

“Além dos núcleos como comunidades de prática, atualmente o programa Escolas Criativas trabalha diretamente com secretarias de educação na adoção sistêmica da aprendizagem criativa em todo Brasil. Esse reconhecimento traz mais força para a adoção da aprendizagem criativa no Brasil através da influência do FEM na construção de políticas públicas. Também serve como reflexão para que não adotemos essa abordagem pedagógica para a criação de apenas trabalhadores criativos, mas de cidadãos criativos, críticos e conscientes de seu papel, conhecimento e capacidades”, conclui. 

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