Altas habilidades e Superdotação: múltiplas inteligências ativadas

Condição é presente em cerca de 5% da população mundial, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS)

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: AdobeStock

A imagem da criança que desenvolve a leitura ou tem uma grande facilidade com números é explorada em muitos filmes e séries. Pequenos gênios que resolvem todos os problemas, sejam eles matemáticos ou o desmonte de engenhocas. A máxima de que a vida imita a arte, neste caso, não é verdadeira. Pessoas com altas habilidades e superdotação são bem diferentes dos personagens com esta condição apresentados em obras audiovisuais. 

“A avaliação de altas habilidades pode envolver uma equipe multiprofissional. Desde a família, que pode observar indicadores desses alunos, e também uma perspectiva de avaliação pedagógica, que pode ser realizada por um profissional da educação especial, juntamente com outros professores. Também pode haver uma avaliação psicológica, que envolve testagens e outros processos”

Tatiane Negrini – doutora em Educação Especial

No Brasil, o Ministério da Educação define que os alunos com altas habilidades ou superdotação são pessoas que demonstram potencial elevado em diferentes áreas, como intelectual, acadêmica, liderança e artes. A doutora em Educação Especial Tatiane Negrini, que desenvolve um projeto junto à alunos com Altas Habilidades e Superdotação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), acrescenta que é preciso atentar para alunos que possuem uma maior facilidade dentro do processo de aprendizagem em alguma área específica, conforme a Teoria dos Três Anéis proposta pelo psicólogo educacional norte-americano Joseph Renzulli. 

“De acordo com a teoria, é preciso observar três fatores atuando em conjunto na criança, que seriam a habilidade acima na média em uma área específica ou geral, o grande envolvimento e motivação para executar uma tarefa e a criatividade. São crianças que questionam, produzem e associam novas ideias”, elenca. 

A avaliação de altas habilidades e superdotação envolve uma investigação de aspectos emocionais e cognitivos, incluindo o teste de Quociente de Inteligência (Q.I.). Tatiane, inclusive, alerta que é preciso evitar o termo diagnóstico, já que as altas habilidades são uma condição e não uma doença. 

“A avaliação de altas habilidades pode envolver uma equipe multiprofissional. Desde a família, que pode observar indicadores desses alunos, e também uma perspectiva de avaliação pedagógica, que pode ser realizada por um profissional da educação especial, juntamente com outros professores. Também pode haver uma avaliação psicológica, que envolve testagens e outros processos”, avalia Tatiane, que destaca que, em alguns casos, crianças com altas habilidades podem ter um ‘diagnóstico’ incorreto para condições como o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

“Muitas vezes, por desconhecimento do que são as altas habilidades, uma avaliação equivocada pode acontecer, o que pode acarretar problemas para esse aluno”, conclui. 

Para a pesquisadora e professora Lúcia Lamb, que também é vice-presidente da Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades e Superdotação (AGAAHSD), é importante que pais e cuidadores estudem sobre os marcos referenciais de desenvolvimento das crianças para conseguir identificar traços da condição nos pequenos.

“Se informar sobre esses marcos, que são facilmente encontrados na internet, e ficar atento às crianças que são muito precoces, intensas e sensíveis. Isso é o primeiro passo para identificarmos a presença de altas habilidades”, orienta Lúcia. 

A professora também reforça que é preciso desfazer o mito da criança superdotada como um gênio que vira atração de programas de TV. Existem, segundo ela, no mínimo oito inteligências.

“Quando alguém afirma que uma criança é inteligente, é preciso perguntar: inteligente em quê, para quê, quando e porquê”, aponta. 

União de pesquisadores e famílias

De acordo com o Censo Escolar de 2020, cerca de 1% dos estudantes brasileiros apresentam altas habilidades ou superdotação. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 5% da população mundial se encaixa nessa situação. Parece uma porcentagem pequena, mas há um crescimento constante em pesquisa sobre o assunto, além de um interesse maior sobre o tema, ajudando a quebrar muitos preconceitos. 

“Se informar sobre esses marcos, que são facilmente encontrados na internet, e ficar atento às crianças que são muito precoces, intensas e sensíveis. Isso é o primeiro passo para identificarmos a presença de altas habilidades”

Lúcia Lamb – vice-presidente da Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades e Superdotação (AGAAHSD)

O interesse pelo tema das altas habilidades tem crescido, em especial pela mídia, que tem dedicado reportagens e entrevistas ao assunto. Mas não é de hoje que as AH e a superdotação são assunto central para famílias e cientistas aqui no Estado. A Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades e Superdotação (AGAAHSD) foi criada em 1981 por um grupo de pesquisadores e familiares de pessoas com AH e SD. Lúcia esclarece que o objetivo principal é reunir pessoas interessadas no assunto e promover a visibilidade do tema. 

“Durante muitos anos, a associação realizou um encontro chamado Repensando a Inteligência, que promovia formações e debates. Temos uma parceria muito interessante com a Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para PcD e PcAH (FADERS) para promover capacitações gratuitas para professores e quem mais tiver interesse no assunto, conhecerem todo o processo de identificação, de atendimento e também a legislação que protege os estudantes com altas habilidades”, conta Lúcia, que também é pesquisadora e professora. 

A FADERS também colabora com a associação em um grupo de acolhimento a famílias de pessoas com altas habilidades. As reuniões são mensais, em formato on-line, e gratuitas. As inscrições podem ser realizadas pelo e-mail acolhimento@faders.rs.gov.br

Um dos momentos mais importantes para a entidade é o Agosto Laranja, mês dedicado à conscientização sobre as Altas Habilidades e a Superdotação, que tem como grande momento a data de 10 de agosto, onde comemora-se o Dia Internacional da Superdotação. Em Porto Alegre, a iniciativa conta com um apoio político importante para sua divulgação. 

“A cidade possui uma Frente Parlamentar em defesa das pessoas com altas habilidades. O estado foi precursor na criação dessa frente e Porto Alegre é um dos únicos municípios do país com essa iniciativa”, destaca Lúcia.

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