As estratégias pedagógicas adotadas pelas escolas para recuperar a aprendizagem

Após retorno às aulas presenciais, trabalho de percepção sobre os alunos precisou ser ampliado pelos educadores

por: ítalo Cosme | Especial
imagem: Depositphotos

Parece simples e já assimilada a necessidade de o professor conhecer cada um dos seus estudantes. No entanto, com o retorno das aulas presenciais, após melhora no cenário epidemiológico da Covid-19, os educadores perceberam que o trabalho de percepção sobre cada um dos alunos precisou ser ampliado –  e isso influenciou diretamente na forma como os componentes curriculares são repassados em sala de aula. 

Os 20 alunos da turma de 2º ano da professora polivalente Tatiane Tomaz, no Instituto de Educação São José, no município de Montenegro, retornaram às aulas presenciais neste ano. A educadora conta que um dos desafios foi restabelecer a criança em sala de aula. 

“A maior dificuldade que os professores estão tendo é o emocional do aluno. É uma questão que influencia na aprendizagem do aluno. A gente precisa lidar com isso para passar o conteúdo, para que ele aprenda de forma harmoniosa. A questão emocional, o socializar de novo, já que eles não brincavam mais em grupo, a troca com o colega, (tudo isso) tem sido alvo de debates e avaliações constantes”, comenta. 

Ela prossegue:

“A gente se adaptou às questões emocionais. Porém, não é o papel do professor, claro que há pontos em que precisamos e devemos contribuir, mas a questão é mais ampla que isso.”

Tatiane lembra que, desde o início da pandemia, os processos para dar aula tiveram de ser adaptados. Explica que foi preciso adaptar o aluno novamente a sentar, a respeitar a classe, a não brincar, o que não se repetiu com tanta força em relação ao conteúdo. A educadora conta que também teve dificuldade com alguns alunos que chegaram de outras instituições sem a habilidade de cortar, de segurar o lápis, e com lacunas na questão fonêmica.

Para readaptação do ambiente escolar, foi feito, no primeiro momento, um diagnóstico a fim de identificar a situação de cada estudante. Tatiane conta que os alunos chegaram em níveis pedagógicos diferentes. “Por ser online, alguns não entenderam, por exemplo, o som de algumas letras. Nosso planejamento mudou porque eu não pude seguir o conteúdo sem entender a necessidade do aluno.” 

A educadora comenta que, geralmente, as estratégias pedagógicas são as mesmas para  toda a turma com o objetivo final de alfabetizá-los. No entanto, diante das necessidades educacionais pós-pandêmica, ela teve de montar outras táticas para alcançar os mais atrasados pedagogicamente. 

Pesquisa divulgada pela Undime em 19 de agosto, com apoio do Unicef e Itaú Social, mostra que a necessidade de reparar os danos causados pela pandemia é uma preocupação de todos. Em mais de 85% das redes municipais pesquisadas, escolas e Secretarias de Educação têm trabalhado juntas para avaliar as lacunas de aprendizagem e criar estratégias para a recomposição de saberes. E os desafios são grandes.

Reuniões com coordenadores e diretores fazem parte da rotina mensal ou bimestral de 91% das redes; seguido de visitas às escolas (90%), reuniões com professores (72%) e monitoramento dos resultados de avaliações internas (71%). As atividades de recomposição da aprendizagem têm ocorrido, majoritariamente, de maneira presencial – com atividades no mesmo turno ou no contraturno escolar.

A escola onde Tatiane trabalha adota estratégia similar. Dois alunos da sala da professora foram encaminhados ao projeto “Fique Fera”. A iniciativa trata de um reforço no contraturno escolar a partir das lacunas identificadas. “É fundamental o olhar do professor para identificar a dificuldade do aluno e conseguir fazer a caminhada dele sem pressão, mas que tu demonstra ao aluno que a caminhada é conjunta.”

Flexibilidade cognitiva

A diretora Educacional do Colégio Marista Medianeira, Cheila Marianof Milczarek, considera que a flexibilidade cognitiva foi o recurso que os professores mais tiveram de desenvolver e acionar nos últimos anos. “Diante de novas situações, o profissional não pode se sentir paralisado por elas. E sim se sentir impulsionado a agir, modificá-las ou construir outras alternativas”, complemente.

Cheila Marianof Milczare foi uma das convidadas do painel “Características fundamentais que definem o Perfil do Professor Mediador de Aprendizagens”, apresentado no encontro de formação para professores, organizado pelo Sinepe/RS.

Ela reitera que a metodologia escolhida pelo professor pode tanto facilitar esse movimento de aprendizagem como em algum momento dificultá-lo. Nós, enquanto sujeitos, aprendemos de formas diferentes. Logo, o educador precisa considerar as diferentes maneiras de o estudante aprender, em especial, a forma de interação entre o alunado e o objeto a ser estudado:

“Se ele quer que o estudante analise, aprofunde o conceito ou resolva uma situação, é necessário pensar uma forma de interação entre o aluno e o conhecimento a ser estudado. Por isso, é importante que o educador conheça cada vez mais o educando.”

E reitera: “É importante que as metodologias sejam diferentes tanto para possibilitar que a criança ou jovem se autoconheçam quanto para que o professor se conheça, de forma a aperfeiçoar e qualificar ainda mais o processo de aprendizagem e potencializar as experiências”, projeta.

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