Eis a questão: o que o novo Enem vai avaliar no 2º dia de provas?
Sem as definições quanto às matrizes do Novo Enem por parte do Ministério da Educação, especialistas apontam respostas e preocupações sobre o que precisa ser desenvolvido
As questões objetivas de múltipla escolha são bem comuns em qualquer prova, como bem sabem nossos leitores. Nada mais do que possibilidades enunciadas de resposta entre as quais se escolhe a única correta para o problema proposto.
Para responder corretamente, é preciso ter uma base de estudo. Mas e quando não houver orientação quanto aos conteúdos a serem estudados? As tentativas de marcar o “X” correto é o que as escolas no Brasil estão tentando fazer em relação ao Novo Enem, a ser realizado em 2024.
Com menos de dois anos para a prova, muitas lacunas estão em branco porque seguem indefinidas pela organização do exame, que cabe ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Gestores, professores, alunos e envolvidos com a comunidade escolar realizam seus itinerários formativos sem ter a certeza de que são os ideais para o exame.
Para tentar sanar algumas dúvidas, a reportagem contatou a comunicação do Inep. A resposta foi de que não estava apta, no momento, a responder, sendo sugerido o contato direto com o Ministério da Educação (MEC). Este, por sua vez, não retornou com respostas até o fechamento desta reportagem.
De concreto, sabe-se que o Inep não divulgará as matrizes da segunda etapa da prova do Enem em 2022. Essa informação foi confirmada em entrevista para o Educação em Pauta pela presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) e relatora do Novo Enem, Maria Helena Guimarães de Castro.
O que foi sinalizado pelo MEC até o momento?
O Novo Enem deverá ser constituído de dois instrumentos: um comum a todos os participantes, para avaliar as competências e habilidades da formação geral básica, conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com ênfase em Língua Portuguesa e Matemática. Outro constituído de quatro blocos, dos quais o participante escolherá apenas um e será avaliado pelos itinerários formativos de acordo com o percurso formativo e a direção desejada para sua formação superior.
Fruto de um Grupo de Trabalho específico para o exame, com especialistas da educação envolvidos, um documento, de 53 páginas foi desenvolvido e intitulado de Parâmetros de atualização do Exame Nacional do Ensino Médio.
>> Acesse aqui a Portaria MEC nº 1.432/2018:
Articulações das entidades e responsabilidades das escolas
O desafio para as escolas se tornou muito maior em decorrência da ausência da matriz das provas do Novo Enem. O trabalho de cada gestor escolar consiste em construir as perspectivas de todos os públicos, envolvendo alunos, famílias e professores. Em cada escola de cada Estado vão ocorrer aproximações, ajustes e atualizações progressivas. Algumas possuem itinerários mais ousados, outras mais prudentes. “Vamos voar sem instrumento, navegar sem bússola”, frisa o diretor da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) e coordenador do Colégio de Assessores Pedagógicos do Ensino Privado (Capep), Pedro Flexa Ribeiro.
O diretor da Fenep participou das discussões para a construção do documento que define os parâmetros do Enem, que, em tese, é o norte para a matriz do exame. Conforme comenta Ribeiro, são necessários ajustes. Uma proposta da Federação foi apresentada, mas não incluída. A ideia era reduzir em três blocos. Um no modelo STEAM, com integração de conhecimentos de Artes, Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática; outro de humanidades e um de biomédica. Essa composição seria satisfatória e razoável para as escolas.
Uma grande preocupação do executivo da Federação, que faz questão de deixar em “negrito e grifado”, é de que não se pode transferir a responsabilidade da Educação Básica no aprofundamento dos conhecimentos dos alunos antes de ingressarem no Superior.
O instrumento precisa ter lucidez nos tipos pré-requisitos. “Ao futuro médico tem que caber a formação na graduação do Ensino Superior e não ao itinerário formativo de biomédico do Ensino Médio”, ressalva.
Em nota, o Fenep informa que fez uma consulta ao MEC sobre os itinerários formativos e o Novo Enem. Um ofício completo foi elaborado com questionamentos em relação aos parâmetros de atualização do Enem.
Muita cautela na preparação para o exame
“Pode ser estudado pelas escolas, porém deixa muitas lacunas”. É o que aponta em relação ao documento de parâmetros a pesquisadora e professora associada da Faculdade de Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no Departamento de Ensino e Currículo, Roselane Zordan Costella.
Para ela, os gestores de educação podem estudar o documento, coletando os dados principais e os apresentando em reuniões com os professores. No entanto, a especialista ressalta que “somente isso não vai dar vazão, pois os contextos de sala de aula são outros, e esses parâmetros podem ter interpretações em cada escola.”
Desde a sua construção, o Novo Ensino Médio apresenta complexidades. Envolvida há anos nesse movimento da educação brasileira, Roselane acredita que a Educação Básica deva valorizar as quatro áreas e que sejam essenciais: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. “É importante que as escolas conduzam essas quatro áreas juntas”, salienta.
Num universo tão heterogêneo de propostas pedagógicas de norte a sul do Brasil, pensar os itinerários formativos tornou-se um enorme desafio para os gestores das escolas, principalmente em função de ainda não haver sinalizadores que demarcarão a realização do Enem, que é um dos objetivos do Novo Ensino Médio.
Os caminhos dos itinerários formativos definidos por algumas escolas do Rio Grande do Sul renderam reportagem no Educação em Pauta.
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