Professor mediador ganha cada vez mais espaço nas escolas

Neste modelo, profissional deve trabalhar com escuta, diálogo e apresentar estratégias formativas, identificando as necessidades individuais da turma

por: Ítalo Cosme | Especial
imagem: Depositphotos

A professora Mônica Klen de Azevedo começou a lecionar há 13 anos. Naquela época, não era comum encontrar aparelho digital em sala de aula. E quando precisava utilizar um, era como bicho-papão, relembra a educadora do Colégio Marista São Pedro, de Porto Alegre. O sentimento geral foi de desconforto na primeira vez em que teve de fazer o diário de classe pelo computador. A tecnologia mais avançada era levar um powerpoint à sala de aula.

Nos últimos três anos, porém, o salto tecnológico no ambiente foi acentuado. Professora de português, literatura e inglês, Mônica diz que um ano antes das aulas remotas os estudantes já utilizavam os livros digitais e algumas editoras trabalhavam com atividades interativas. “Durante as aulas remotas, isso deixou de ser um acessório para ser um auxiliar.”

Para a docente, as aulas concorrem agora com o jogo no celular, não só com as questões de leitura. O papel do educador é aproximar o estudante da sala de aula, do conteúdo, das atividades, com a linguagem e as ferramentas digitais.

Algo similar ao que sugere Claudia Petri, coordenadora de Implementação Regional do Itaú Social. A especialista considera que o educador precisa cada vez mais estar sensível aos educandos. Claudia comenta que, para o professor ser um mediador do conhecimento, ele precisa trabalhar junto aos seus alunos com muita escuta, diálogo, e ter estratégias formativas para fazer com que a classe consiga avançar.

“Informações e conteúdos hoje a gente tem via internet. Mas para as informações se transformarem em conhecimento, é imprescindível o trabalho do professor em sala de aula. E a sala de aula não precisa ser em quatro paredes. A gente está falando dessa relação entre professor e aluno que pode acontecer em diferentes lugares”, complementa a porta-voz do Itaú Social. 

Na prática, a mediação em sala de aula feita por Mônica requer muito mais atenção para o desempenho dos estudantes. É o que Claudia aponta como característica de um professor mediador: aquele que identifica as necessidades individuais e da turma para fazê-los construir seu próprio conhecimento.

A professora do Marista diz que para questões objetivas os dispositivos são essenciais, trazem resultados rápidos e a interação com os estudantes é excepcional. Porém, há pontos que os aparelhos ainda não conseguem captar. 

“O corretor desses aparelhos adivinha praticamente o que você quer dizer. Quando é uma atividade feita a mão, você precisa refletir sobre o seu texto. É um exercício bom, se for fazer de lápis ou caderno, eles acabam esquecendo como se escreve”, diz, sobre os desafios nos anos iniciais. 

Mônica complementa:

“Às vezes, os menores, em processo de alfabetização, dependendo da letra, eles não reconheciam no quadro. Era preciso fazer uma caligrafia muito perfeita para que reconhecessem e reproduzissem no caderno. Eles não estavam acostumados com esse processo de copiar – não é o mais indicado, mas ainda é necessário.” 

Para superar os desafios, ela tenta diversificar as percepções a partir das leituras, atividades e no exercício da escrita para trabalhar a coordenação motora e organização espacial dentro da folha. “Alguns alunos não sabiam onde começava ou terminava a linha”, relembra. “Muitas vezes, o estudante está dentro de sala aula e manda mensagem para o colega do lado. Poderia simplesmente falar. Não precisa ficar só no tecnológico”, sugere. 

“Um professor mais tradicional não tem essa visão de que o aluno constrói o seu conhecimento. Ele simplesmente vai despejando conteúdos e não faz a investigação para ver o quanto o seu aluno está aprendendo. O professor precisa trabalhar junto aos alunos, respeitando o ritmo de cada um”, diferencia Claudia Petri. 

Projetos conjuntos

O trabalho de Letícia Bilhar, professora de educação tecnológica no Instituto de Educação São José, ultrapassa as próprias aulas. Ela desenvolve junto de outros educadores projetos e esquemas de aulas conjuntas no laboratório. Grupos de até quatro alunos da mesma turma participam de classes que consideram desde peças de lego, conceitos tecnológicos e linguagem de programação.

“Cada integrante do grupo tem sua função. No fim, as equipes se encontram para compartilhar os resultados alcançados.” Ela detalha que as maletas de ferramentas são diferentes para 1º e 2º ano daquelas utilizadas do 3º a 5º ano. A professora conta que tenta trabalhar o máximo de vivências possíveis, do funcionamento de um carro ao de uma furadeira, uma planta. Tudo envolvendo tecnologia.

No Instituto de Educação São José tablet é usado para fazer a programação de robô do 3º ao 5º ano
Foto: Instituto São José / Divulgação

“Eu percebo que nós estamos tentando entrar neste mundo deles. O aluno já é muito tecnológico. Como trabalhamos com ferramentas específicas, há plataformas específicas. Para fazer a montagem, eles precisam de um tablet, e na sala tem. Vemos a importância que dão ao momento”, diz Letícia.

A educadora analisa que antes, apenas com o livro, além de não engajar, o passo a passo dado pelas páginas era insuficiente para que o aluno entendesse o componente curricular. Enquanto no tablet, por exemplo, a tela mostra a ferramenta certa, para o eixo específico. “Hoje, qualquer professor pode dar aula com jogos, é só utilizá-lo em nosso favor.”

Para ela, foi muito difícil o professor aceitar o intenso impacto tecnológico dos últimos anos. Ela comenta que docentes de todas as idades tiveram dificuldade de romper a cultura educacional. “Mas a realidade é que mudou todo o sistema na escola. Hoje, para tudo, usamos a tecnologia: para fazer chamada, falar com os pais… A aceitação foi difícil, mas hoje vemos a praticidade.”

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