TDAH: tudo ao mesmo tempo e agora

Momento pós-pandêmico tem trazido novos desafios para o diagnóstico do transtorno e um aumento de sintomas em estudantes de diferentes idades e contextos

por: Bianca Zasso | Especial
imagem: AdobeStock

Professores e gestores escolares com alguma experiência já devem ter se deparado com alunos que apresentam dificuldade para realizarem algumas tarefas que exigem atenção ou mesmo os que não conseguem sequer permanecerem sentados em sala de aula. O que parece, num primeiro olhar, apenas uma característica da personalidade do estudante, pode ser indício do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). 

De causa genética, o transtorno neurobiológico costuma aparecer na infância e, com certa frequência, segue até a idade adulta. A psicóloga Ana Nathália Eduarda Farias da Silva destaca que o TDAH acabou ganhando mais atenção a partir do surgimento de novas mídias digitais e o aumento do acesso à informação. Esse contexto social particular constrói um ambiente que exige, de adultos e crianças, uma atenção total a diversos estímulos. 

Nota-se um aumento dos sintomas de TDAH, especialmente em crianças em fase de alfabetização. É um período de construção do raciocínio lógico, de todas essas linguagens e interações e houve um atraso nesses pontos em decorrência dessa suspensão das atividades presenciais

Ana Nathália Eduarda Farias da Silva, psicóloga

“O nosso social espera que consigamos focar com a maior produtividade possível a todos os estímulos que são oferecidos. No entanto, o nosso cérebro escolhe uma tarefa para colocarmos o nosso foco”, explica Ana Nathália. 

Caracterizado por sintomas como desatenção, inquietude e irritabilidade, o TDAH é de difícil diagnóstico e, muitas vezes, é na escola que algumas dessas características costumam ficar mais perceptíveis. Ana alerta que o processo de aprendizagem é, do âmbito psicológico, desgastante, demandando muita energia dos estudantes e, ainda mais, para os que convivem com o transtorno.

Para atingir melhores resultados, ela destaca a importância de um ambiente escolar que valorize e facilite o foco dos alunos. 

“Sabemos que isso não é uma tarefa fácil na atualidade. É muito comum que celulares e outros aparelhos eletrônicos estejam presentes nas salas de aula ou mesmo que haja um uso dessas mídias por parte dos estudantes antes de entrarem no ambiente da escola. Acaba que o processo de aprendizagem é uma espécie de intervalo da bomba de estímulos, quando deveria acontecer o contrário”, explica a psicóloga. O resultado disso são alunos que já chegam para a atividade escolar dispersos e apresentando irritabilidade. 

O TDAH acomete cerca de 3% da população mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pode parecer um número pequeno, mas o momento pós-pandemia tem trazido novos desafios para o diagnóstico e um aumento de sintomas de TDAH em estudantes de diferentes idades e contextos. Ana ressalta que, enquanto alguns alunos passaram a ter aulas no ambiente virtual, outros tiveram que realizar atividades enviadas pelas escolas. Em ambos os cenários, os estudantes passaram a ter maior acesso às mídias e, por consequência, ao excesso de estímulos. 

“Nota-se um aumento dos sintomas de TDAH, especialmente em crianças em fase de alfabetização. É um período de construção do raciocínio lógico, de todas essas linguagens e interações e houve um atraso nesses pontos em decorrência dessa suspensão das atividades presenciais”, reforça Ana. Com o retorno das atividades presenciais nas escolas, é preciso uma nova adaptação e a baixa tolerância dos alunos é perceptível. Os resultados são, além da irritabilidade, dificuldades de autoestima e ansiedade. 

Para a psicóloga, o papel da escola é ter como norte o acolhimento destes estudantes, buscando compreender o tempo de cada um. “O tempo é uma questão da nossa sociedade. Estamos sempre atrasados. As crianças são sensíveis a isso. É importante que pais e educadores trabalhem para tolerar esse tempo, que é diferente para adultos e crianças. Se há a possibilidade de suporte para isso, a criança responde muito bem, e assim teremos uma criança mais tranquila, mais segura”, esclarece. 

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