Inovar em educação é fazer o essencial bem feito

Silvio Bitencourt

Professor e diretor da Unidade de Inovação e Tecnologia (Unitec) e gestor executivo do Parque Tecnológico de São Leopoldo (Tecnosinos)

O mundo pós-pandemia trouxe à tona alguns desafios para a educação que não são novos, mas foram intensificados por esta condição. O combate à evasão escolar, a garantia das aprendizagens e as mudanças ocasionadas pela tecnologia digital talvez sejam os mais significativos. 

Tornou-se lugar-comum dizer que para fazer frente a estes desafios ou outros é necessário inovar e diversas soluções têm sido apresentadas por formuladores de políticas públicas, gestores escolares, professores e, também, edtechs (startups dedicadas a desenvolver soluções para a educação, tendo a tecnologia como principal ferramenta) além dos já tradicionais fornecedores de produtos e serviços educacionais e outros formadores de opinião. 

Entretanto, discutir inovação na educação depois de John Amos Comenius, filósofo tcheco do século XVII e um dos pioneiros da educação moderna, parece não ter um significado prático. Em sua ‘Didática Magna’ também conhecida por ‘Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos’, promoveu métodos pedagógicos inovadores que são replicados até os dias de hoje, como a aprendizagem por meio de línguas vernáculas (em vez do latim) apresentando aos alunos diversos assuntos com graus de complexidade que aumentavam com o tempo, aprimorando o raciocínio lógico em lugar da tediosa memorização. 

Mas, diante da complexidade do mundo contemporâneo os métodos se distinguem, até certo ponto, das ações definidas para cada situação ou contexto por meio das quais os métodos são implementados. Nesta direção, a inovação em educação pode ser desenvolvida a partir de uma abordagem de aspectos contextuais em que métodos consagrados possam ser efetivamente implementados. Inspirações para a inovação em educação podem ser obtidas a partir do pensamento de John Dewey, Maria Montessori, Célestin Freinet, Jean Piaget, Lev Vigotski, Carl Rogers, Paulo Freire e, a partir de uma perspectiva da inovação em educação mediada pela tecnologia, as contribuições de Saymour Papert, Manuel Castells, Pierre Lévy e Michel Reznick. 

Importante destacar que a tecnologia representa um conjunto de recursos modernos desenvolvidos para aperfeiçoar, automatizar e digitalizar operações e serviços. Ou seja, a adoção de tecnologia não é sinônimo de inovação, especialmente em educação. Quatro rotas para inovação em educação podem ser destacadas, a título de exemplo:

1) A adoção de estratégias de marketing, comunicação e relacionamento institucional com seus públicos de interesse (alunos, pais, professores, funcionários, fornecedores, comunidade, formadores de opinião, imprensa, órgãos públicos, entre outros). 

2) O uso de metodologias ativas que colocam o aluno no centro do processo de aprendizagem estimulando o seu protagonismo. 

3) O reforço do compromisso para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico. 

4) O refinamento de práticas de gestão e a busca continuada de maneiras de trazer mudanças e novidades no âmbito pedagógico, como também administrativo. Um tipo de ambidestria organizacional para desenvolver, simultaneamente, duas competências: inovação (pensando no futuro, no longo prazo e no aumento da qualidade pedagógica) e eficiência administrativa. 

De fato, o objetivo último da inovação em educação é assegurar a qualidade da educação, pensada na medida das suas dimensões extrínsecas (o do espaço social e o dos direitos, das obrigações e das garantias) e intrínsecas (condições de oferta do ensino; gestão e organização do trabalho escolar; formação, profissionalização e ação pedagógica; e acesso, permanência e desempenho escolar). Talvez, diante da ânsia de se criar coisas mirabolantes, tenha se esquecido de se fazer o essencial bem feito e seja necessário promover a redescoberta da finalidade da educação para Comenius, também resgatando os fundamentos e os métodos necessários para que o seu modelo proposto de educação pudesse ser desenvolvido sem deixarmos de compartilhar de seu idealismo.

Aqui estamos, de volta ao básico.

Prêmio Inovação SINEPE/RS 2023

Desde o ano passado, o SINEPE/RS tem valorizado iniciativas voltadas à inovação dentro das instituições de ensino com o Prêmio Inovação SINEPE/RS. São destacados trabalhos que geram valor para a instituição e sociedade e que tenham capacidade de resolver problemas com uma solução criativa, inédita, não necessariamente relacionada à tecnologia.

As inscrições para participar da edição 2023 estão abertas e podem concorrer projetos nas áreas de  Comunicação e Marketing, Estudante Protagonista, Gestão Institucional e Responsabilidade Social. As inscrições são gratuitas. No hotsite do evento é possível conferir o regulamento, conhecer os projetos vencedores de 2022 e acompanhar as últimas notícias da premiação. 

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