Oportunidades e desafios para a educação híbrida no Ensino Médio

O Conselho Nacional de Educação abriu consulta pública para criar diretrizes orientadoras. Especialista aponta que é preciso experimentação para que cada escola encontre o melhor modelo de trabalho

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: AdobeStock

O chamado Novo Ensino Médio, aprovado em 2017, movimentou alunos, professores, gestores e até as famílias dos estudantes. Novas possibilidades surgiram no horizonte deste momento tão importante da vida educacional. Entre as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), está a possibilidade dos estudantes do Ensino Médio realizarem 20% das aulas a distância, no caso do Ensino Médio regular, e 30% no caso de cursos noturnos. 

“Quando surge um tema dentro do CNE, ele é discutido pelas Câmaras de Educação Básica e Superior, dependendo do foco, para montarmos uma comissão para estudar a temática proposta. É nesse momento que buscamos profissionais ligados ao assunto, especialistas e pesquisadores para estruturarmos o texto que vai para a consulta pública, que vai validar a participação social dos educadores e estudiosos em relação a esse tema”

Suely Melo de Castro Menezes – vice-presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação

Em janeiro deste ano, o CNE também abriu um edital de chamamento para realizar consulta pública, com o objetivo de colher contribuições ao documento que apresenta propostas para Diretrizes Nacionais Orientadoras para o desenvolvimento da Educação Híbrida e das práticas flexíveis do processo híbrido de ensino e aprendizagem no nível da Educação Básica. A relatora da comissão e vice-presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, Suely Melo de Castro Menezes, explica que consultar a sociedade civil é um rito importante para a construção dessas diretrizes.

“Quando surge um tema dentro do CNE, ele é discutido pelas Câmaras de Educação Básica e Superior, dependendo do foco, para montarmos uma comissão para estudar a temática proposta. É nesse momento que buscamos profissionais ligados ao assunto, especialistas e pesquisadores para estruturarmos o texto que vai para a consulta pública, que vai validar a participação social dos educadores e estudiosos em relação a esse tema”, explica Suely. 

Sobre as questões legais a respeito da educação híbrida, a conselheira relembra que a legislação brasileira já autoriza que as escolas do país trabalhem com a tecnologia e com a possibilidade de atividades não presenciais, fatores que ampliam as possibilidades de aulas a distância. Na visão do CNE, a educação híbrida é ampla e traz diversidade do mundo para dentro da escola. 

“É a ampliação de um currículo, que hoje é muito linear e voltado para as provas seletivas, que não olha para o que está acontecendo no mundo. Nos baseamos muito na visão do sociólogo argentino Néstor García Canclini. Ele mostra que a hibridização é a mistura de todos esses temas que a sociedade discute para o cotidiano das escolas e das nossas vidas. A tecnologia é um fator fundamental para ampliar essa acessibilidade curricular, para agilizar o contato das pessoas com esse currículo maior, que tem significação no mundo”, avalia a conselheira. 

Aulas a distância no Ensino Médio também podem colaborar muito na recuperação de conteúdos que acabaram se perdendo no período mais crítico da pandemia de Covid-19. Para Suely, é preciso diagnosticar os vazios curriculares e ajudar os alunos a resgatar a sua aprendizagem. Neste ponto, a questão de tempo pode ser potencializada com a educação híbrida, como a proposta de aulas em contraturno.  

“Com a volta da presencialidade, as atividades não presenciais se tornam complementares, enriquecedoras. Não estamos tirando os alunos da sala de aula. Durante a pandemia, o exercício era emergencial. Agora, ele é planejado, para poder enriquecer e hibridizar o conteúdo. O planejamento será feito por cada escola, que vai dizer como ela vai desenvolver a hibridização”, conclui. 

Tempo de experimentar

Mas o que podemos esperar e como escolas e alunos podem se preparar para essas novas possibilidades de formato de aula no Ensino Médio? Na visão do educador e pesquisador José Moran, professor convidado da PUCRS Online em cursos voltados para aprendizagens e novas tecnologias, a discussão sobre o ensino híbrido se acelerou durante a pandemia e, no último ano, se tentou encontrar um marco legal para inserir este formato no cotidiano do Ensino Médio. Mas isso é apenas o começo de um longo caminho que deve exigir pesquisa e experimentação.

“Creio que ainda não chegamos a uma definição. Estamos ainda no processo de implementação do novo Ensino Médio e pensando ainda nas diretrizes das possibilidades de trabalhar nos espaços presenciais e digitais. Não podemos ficar no imobilismo nem no utopismo. Ou seja, nem deixar tudo como estava, nem achar que vamos trabalhar com uma proposta que é inexequível para a maioria das escolas”, explica o professor.

Um dos fundadores da Escola do Futuro, projeto de pesquisa desenvolvido na Universidade de São Paulo, Moran já implantou e gerenciou diversos programas de Ensino Híbrido e de Educação a Distância. Por conta de sua experiência, ele acredita que o ensino brasileiro se encontra em uma fase destinada a experimentos e validação das propostas para a construção de um currículo mais ativo e personalizado de acordo com a realidade de cada escola. Ele também destaca a importância de buscar parceiros para complementar algumas áreas nas quais alunos e educadores apresentam mais dificuldade.

Ao avaliar as vantagens e desvantagens de um Ensino Médio com formato híbrido, o professor acredita que é preciso distinguir duas realidades: uma é o avanço de um currículo que mistura todas as possibilidades de aprendizagem possíveis no mundo atual, e a segunda visando as possibilidades de aplicação legal na realidade educacional brasileira. 

“De um lado, nós precisamos avançar em como fazer esse Novo Ensino Médio ser realmente novo, que faça sentido para esses jovens que não separam o mundo físico do digital, que estão constantemente pesquisando, produzindo, compartilhando. Como fazer isso em uma escola cheia de ritos, de formalizações? A minha visão é que estamos em uma fase em que as escolas que já estão avançadas na preparação do currículo, na visão ecossistêmica, com professores que dominam as metodologias e cultura digital, experimentem como engajar os estudantes nessa nova modalidade de uma forma que faça sentido”, avalia o professor. 

TAGS





Assine nossa newsletter

E fique por dentro das novidades