Avaliação pedagógica será debatida no 18º Congresso do Ensino Privado do RS

Com quase 40 anos de experiência na área da Educação, o professor Alexandre Ventura, do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro, em Portugal, é um dos palestrantes confirmados do 18º Congresso do Ensino Privado Gaúcho. O evento ocorre nos dias 23, 24 e 25 de julho, no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre.

O acadêmico sobe ao palco no segundo dia do congresso com a palestra intitulada “Desafios da avaliação das aprendizagens dos alunos”. Doutor em Ciências da Educação, Ventura vai falar sobre estratégias para tornar a avaliação um processo mais justo, formativo e alinhado às necessidades dos estudantes, enfrentando obstáculos práticos e pedagógicos.

Nascido em Lisboa e filho de pai militar, Ventura morou em diferentes países como Angola e Moçambique, ambos no continente africano. O pesquisador atua na área da educação desde 1986, tendo sido docente dos ensinos básico, secundário e profissional, além de gestor escolar e inspetor de educação. Desde o ano 2000, ele atua como professor da Universidade de Aveiro, em Portugal, onde construiu sua carreira acadêmica.

Foi em Aveiro que, em 1987, Ventura se licenciou em ensino de Português e Francês e, em 1994, concluiu sua pós-graduação em Administração Escolar. Em 1998, ele tornou-se mestre em Análise Social e Administração da Educação e, em 2006, concluiu o doutorado em Ciências da Educação.

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Entre 2015 e 2016 viajou para o Brasil e morou em Brasília, no Distrito Federal, onde trabalhou como consultor e foi professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Católica de Brasília.

De 2017 a 2020 foi inspetor sênior em escolas privadas de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde trabalhou para a entidade governamental Dubai School Inspection Bureau (DSIB) da Knowledge and Human Development Authority (KHDA).

Em 2024, o professor passou a integrar o Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro. Ele também já ocupou cargos públicos em Portugal como subinspetor-geral da Educação, presidente do Conselho Científico para a Avaliação de Professores e secretário de Estado Adjunto e da Educação (vice-ministro da Educação).

Ao todo, o pesquisador já palestrou sobre temas educacionais em 20 países. Em entrevista ao Educação em Pauta, Ventura antecipa os principais tópicos que serão discutidos no congresso. Confira:

Educação em Pauta – Quais temas você pretende abordar durante o Congresso?

Alexandre Ventura – Falarei dos principais aspectos que são identificados como boas práticas de avaliação que contribuem para a aprendizagem e de como os professores podem servir-se dessas ferramentas para promover a motivação, o envolvimento e a aprendizagem dos alunos.

Educação em Pauta – O que os participantes podem esperar da sua palestra?

Ventura – Podem esperar uma abordagem muito pragmática, na perspectiva do chão de fábrica do professor e do coordenador pedagógico que têm no cotidiano de avaliar o desempenho dos seus alunos e que sabem que é possível fazer ainda melhor neste domínio. Procurarei inspirar os participantes no sentido de lhes oferecer ideias que os possam ajudar a desempenhar o seu papel fundamental no âmbito da avaliação das aprendizagens. O fato de eu ter uma experiência muito diversificada no setor educacional em vários países — professor do ensino fundamental, médio e universitário, pesquisador, inspetor, decisor político, consultor, palestrante, avaliador — permite-me ter uma visão alargada e contrastada.

Educação em Pauta – Qual o papel do professor na atualidade?

Ventura – O professor é um orquestrador que, em face de um ambiente cada vez mais desafiante, mas ao mesmo tempo repleto de recursos com um potencial extraordinário, procura desempenhar um papel de intermediário entre os alunos, o conhecimento e as competências. O professor tem, atualmente, de ser antes de tudo mais um promotor do pensamento crítico dos seus alunos para os ajudar a navegar num mundo cada vez mais complexo, ardiloso e desafiante.

Educação em Pauta – Quais os principais desafios para educadores e gestores de escolas?

Ventura – O principal desafio é a erosão da imagem social da profissão docente. Para além disso, o professor deixou de ser visto como o detentor do saber. Os diferentes tipos de mídia, as plataformas eletrônicas, as redes sociais, a inteligência artificial disputam com o professor o papel de fonte e árbitro do conhecimento. Para além disso, continua a ser indispensável fazer evoluir o ecossistema da educação de um paradigma do ensinar para um paradigma do aprender em que o aluno é efetivamente o epicentro de todas as estratégias e ações dos profissionais da educação.

Educação em Pauta – Qual a principal diferença entre ser professor ou gestor de instituição de ensino em 1986, quando você iniciou na carreira, e em 2025?

Ventura – Fui membro da direção de escola durante seis anos, também fui diretor pedagógico escolar. A principal diferença é que hoje o ensino está se profissionalizando mais. Em relação à gestão, a tendência, embora não seja em todos os países, é de uma profissionalização crescente, tanto para diretores como também coordenadores pedagógicos e de projetos. Diferentes instâncias estão buscando qualificação. É uma tendência, mas em alguns países isso também se choca com a falta de profissionais. Em países como Portugal, Espanha, Inglaterra, Canadá e Austrália já há um déficit de professores tanto para o ensino público quanto privado.

Educação em Pauta – Quais conhecimentos você traz de Portugal para o Brasil?

Ventura – Apesar de atualmente eu estar vivendo em Portugal, o meu conhecimento é internacional e a minha perspectiva procura identificar de forma eclética e crítica às tendências que comprovadamente têm maior probabilidade de serem benéficas para todos os intervenientes no processo educativo, colocando sempre os alunos no centro de todas as estratégias e práticas. O que me interessa é desocultar e partilhar com os profissionais da educação o que tem potencial para ajudar os alunos a aprender mais e melhor.

Educação em Pauta – No Brasil, há projeções que indicam uma redução considerável no número de professores em atividade nas próximas décadas. O que você diria para um profissional que está ingressando na carreira agora?

Ventura – Essa redução de profissionais no mercado é uma boa notícia para quem está entrando no sistema. Quando se tem abundância de profissionais, a demanda é menor. O que é raro é mais valioso. Nos Estados Unidos, que já sofre com a falta de profissionais, tem motoristas de ônibus que dão aula. O déficit é tão grande que se adota aquela política do “quem não tem cão caça com gato”. Em Portugal, por exemplo, durante anos os professores não recebiam para fazer os estágios no início da carreira e agora o governo determinou que esses estágios sejam remunerados. Para quem está entrando no sistema, os atrativos se mantêm.

Mas ainda há desafios importantes, que passam por situações de falta de disciplina dos alunos com os professores até a Inteligência Artificial (IA), que afeta as dimensões de ética, em todos os níveis de ensino, do básico ao superior. Muitos profissionais ainda não sabem como lidar com isso. Em relação à velocidade de produção de dados, nenhum ser humano consegue competir com essas ferramentas como o ChatGPT. Mas o papel do professor está justamente em ajudar o aluno a desenvolver o pensamento crítico para se proteger da porosidade das informações e até mesmo das fake news. Não há Inteligência Artificial que possa ensinar isso. Eu diria que a profissão docente se mantém atrativa e interessante e que o grande divisor de águas segue sendo a paixão por ensinar e por ajudar os alunos a se desenvolverem.

Como participar

Para participar do Congresso, basta se inscrever no site do evento. Os ingressos adquiridos até 31 de maio terão até 40% de desconto em relação ao valor integral, cobrado a partir de 1º/06, dependendo da categoria. Clique aqui e saiba mais.

Todos os inscritos receberão um certificado, que estará disponível no portal oficial.

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