Saiba como evitar propagação de fake news sobre violência nas escolas

Acontecimentos das últimas semanas provocaram reflexão nas instituições sobre como agir diante dessas situações e quais medidas devem ser tomadas diante de mensagens ameaçadoras

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: AdobeStock

Depois de uma sequência de ataques e ameaças em escolas brasileiras, as instituições de ensino viveram momentos de insegurança até mesmo para alunos e professores que vivem longe dos locais atingidos. Outro problema foi que os ataques ensejaram o envio de mensagens ameaçadoras, Brasil afora. Brincadeira de mau gosto, tentativa de chamar atenção ou ameaça real: não importa, o fato é que o cenário gerou insegurança e medo na comunidade escolar. 

Para evitar que esse tipo de subterfúgio funcione, prejudicando o ambiente escolar como um todo, o primeiro passo é promover um espaço livre para diálogo e o tráfego seguro de informações. O trabalho consiste em informar, no primeiro momento, e acolher, em seguida.

“Primeiro, a escola deve trazer para uma campanha, digamos, educativa. Principalmente porque não podemos ceder ao medo, ao terror. É um tipo de campanha que também orienta sobre os canais de denúncia, como a família deve agir se tiver suspeita, identificar sinal de perigo ou de risco”, entende a advogada Patricia Peck, especialista em Direito Digital e presidente do Istart de Cidadania Digital.

Estabelecer e frisar os canais oficiais de comunicação é peça-chave. Em caso de dúvida, as famílias e os alunos devem procurar a fonte mais confiável e segura. Para isso, precisam saber qual é e ter fácil acesso a ela. Definir um fluxo de atendimento e estar sempre disponível, com respostas rápidas e certeiras, reduz a insegurança e combate mais rapidamente as fake news.

Responsabilização

Com o crescimento das fake news nos últimos anos, em todos os aspectos, houve maior preocupação em apurar e responsabilizar quem as cria ou repassa. Há um cuidado porque muitas vezes as pessoas não conseguem discernir se é boato ou não, daí a importância de terem sempre uma fonte confiável à mão – no caso das ameaças, a própria escola.

“Disseminar medo e pânico é a prerrogativa do terrorismo, então temos que ter muito cuidado. Isso deixa mazelas sociais, ainda mais quando estamos lidando com crianças, adolescentes, públicos mais vulneráveis, que podem demorar emocionalmente para se recuperar, voltar a sentir autoconfiança para sair de casa e voltar para a escola”, alerta Patricia Peck.

Para a promotora Luciana Cano Casarotto, coordenadora do Centro de Apoio da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS), o momento é de entender o fenômeno, já que essa realidade recém agora bateu à nossa porta. Segundo ela, o acolhimento dos estudantes pode ajudar a coibir a disseminação de ameaças falsas, na raiz do problema.

“É hora de traçar estratégias para que se consiga fazer frente a esse problema. A solução não passa, me parece, por aumento de segurança dentro da sala de aula. Passa mais pela observação, antes. A falta de debate me parece um grande problema. O caminho é o do diálogo. Mais do que uma palestra, é ouvir os adolescentes, suas angústias, dar voz de verdade. Ao professor e à professora, também”, defende.

Como agir

Sobre as mensagens de ameaça, o MP/RS tem definido que o gestor da instituição de ensino tem liberdade para tomar as decisões que julgar adequadas, mas a sugestão é que isso seja feito em parceria, ou sob a orientação, das forças de segurança. “É muito fraco e baseado em nada. Nós vimos, neste mês [abril], ameaças iguais em todo o Estado, algumas até vindo de fora, e que não tinham valor nenhum. Como um sistema inteiro vai se dobrar a uma mensagem de WhatsApp?”, questiona Luciana Casarotto.

A orientação é procurar as autoridades sempre que houver suspeita de ameaça real. Enquanto não se tem certeza, as autoridades podem ser acionadas para avaliar, mas é fundamental orientar os estudantes e seus responsáveis para que não propaguem em grupos na internet. Em vez disso, a comunidade escolar deve enviar aos canais competentes, como a Brigada Militar (190), Disque-denúncia da Secretaria de Segurança Pública (181), o serviço de denúncias do Ministério da Justiça ou indo até a sede do Ministério Público na respectiva cidade.

O importante é que seja contatado algum órgão oficial, pois são eles que têm expertise para auxiliar. “É um esforço de todos nós, a responsabilidade não fica só em um, até para a escola dividir esse problema. A suspensão das atividades sugere que poderia ter alguma coisa, os pais deixam de levar os filhos”, observa Casarotto.

A promotora entende que essas notícias acabam causando grande comoção porque lidam com os filhos das famílias, mas pondera que é preciso aprender a lidar com essa nova realidade. Daí a importância de não propagar informações falsas ou que não tenham relação com o contexto local ou temporal. Fatos antigos ou ameaças em regiões distantes, por exemplo, causam apreensão desnecessária.

Rede de proteção

Com uma boa estratégia de comunicação e abertura para o debate, as instituições de ensino podem ter sucesso na missão de mitigar danos causados pelas fake news. Para Patricia Peck, é imprescindível que família, escola e autoridades se unam para promover a segurança, e a sensação de segurança, aos estudantes. “O importante é conseguir que todos que identificarem situação de possível ameaça denunciem, para que autoridades respondam rapidamente e se estabeleçam no Brasil, finalmente, protocolos oficiais de segurança no ambiente escolar, como já acontece nos outros países”, sustenta.

Luciana Casarotto vê mais um ingrediente: a forma como a sociedade tem lidado com os meios tecnológicos, especialmente após a pandemia. “Ficamos ainda mais virtuais, o que gerou uma ansiedade. No adolescente isso tem um peso ainda maior. Outra coisa que acontece é preferir não lidar a se incomodar. Não é fácil a missão, mas quero deixar a visão de que passa muito mais pela prevenção e pelo diálogo. E que eventuais medidas de segurança sejam tomadas com tranquilidade e não para dar uma resposta imediata porque cria um clima de terror, sim”, acredita.

Vastidão da internet

O combate ao problema das fake news – com ameaças às escolas, em específico, e com conteúdos falsos, em geral – passa, ainda, pelo acompanhamento parental. Habituada a acompanhar uma série de casos que envolvem as relações familiares, Casarotto acredita que os pais devem estar próximos de seus filhos e entender o papel que eles têm na internet.

“Precisa estar próximo de um filho adolescente para conversar. Temos que saber que o controle da internet é muito baixo. Não dá para ter certeza do que o filho acessa. O diálogo dentro de casa é fundamental, além de não achar normal o adolescente dentro do quarto para sempre”, aponta a promotora.

Acompanhar, na medida do possível, o que crianças e adolescentes acessam, treinar o olhar crítico para o que consta em qualquer site, conversar sobre os conteúdos. Tudo isso ajuda a construir uma relação de confiança a fim de que esse jovem fique menos propenso a arroubos violentos ou a criar factóides para chamar atenção.

“Estamos em aprendizado para lidar melhor e o foco das instituições de ensino é liderar, pela educação. Educar a família, os próprios profissionais de ensino, jovens e alunos para saber, prevenir e responder a esse tipo de ameaça, não ficando refém do medo”, conclui Patricia Peck.

TAGS





Assine nossa newsletter

E fique por dentro das novidades