Afeto e compaixão: colégio envolve alunos e crianças com câncer

Projeto “Construindo pontes, criando laços” desenvolveu a parceria entre o Colégio La Salle São João e o Instituto do Câncer Infantil

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Colégio La Salle São João, Divulgação

A partir de uma contação de história do livro A Ponte, do autor Eliandro Rocha, o projeto Construindo pontes, criando laços, do Colégio La Salle São João, de Porto Alegre, teve a sua base fundamentada. Voltada para a primeira infância, sendo utilizada para alunos em fase de alfabetização, a fábula é de um coelho que aprende a fazer amizade com seu vizinho (um macaco), tudo graças à construção de uma ponte.

Ao ter acesso a essa história, as crianças demonstraram muitas reflexões. Conforme lembra uma das responsáveis pelo projeto, a professora do 1°ano do Ensino Fundamental do Colégio, Claudia Gai Cini da Cunha, os pequenos ficaram emocionados com a obra, que tem como enfoque a preocupação com o próximo. “Eles começaram a questionar também sobre as doenças (um dos personagens fica enfermo) e de como a gente gosta que alguém cuide da gente. Queriam saber quando acontecem doenças mais sérias e porque não são curadas com um simples remédio, um beijinho ou um abraço”, recorda.

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Desta maneira, as educadoras começaram a conversar a respeito desta dinâmica até que uma das alunas comentou que já tinha ouvido falar de alguma criança que tinha câncer e que não poderia ir até a escola. “Esse foi um instalo. Como tínhamos um contato com uma pessoa do Instituto do Câncer Infantil (ICI), resolvemos construir a nossa ponte”, pontua.

E o reconhecimento dessa ação não demorou muito, pois o projeto conquistou o ouro na categoria Responsabilidade Social no Prêmio Sinepe/RS 2023

>> Confira o vídeo de apresentação do projeto na Defesa Pública do Prêmio Inovação SINEPE/RS

Momento de contação de história do livro A Ponte, de Eliandro Rocha | Foto: Colégio La Salle São João, Divulgação

Gestos de afeto e compaixão

Iniciado em 2022, o projeto ocorreu em um período em que haviam restrições do pós-pandemia da Covid-19. Logo, as crianças desenvolviam as ações no colégio e suas contribuições eram enviadas até o ICI.

A primeira atividade foi chamada de “Cheirinho de Afeto”, alusiva ao Dia das Mães. Conforme destaca Cláudia, as mães dos alunos ajudaram a montar 147 kits compostos por batom, creme, sabonete, entre outros itens de beleza. “Não é uma tarefa fácil, o dia a dia dessas mães de crianças com câncer. Elas receberam dos nossos alunos presentes com recadinhos de fé, esperança, carinho e companheirismo. Esses presentes foram entregues no Instituto e depois distribuídos para as unidades parceiras no Hospital de Clínicas, no Santo Antônio e no Conceição”, comenta. 

Essa ação foi repetida no Dia dos Pais e intitulada “Abraço Amigo”. Desta vez, os papais foram convidados a preparar os presentes. “Tivemos um retorno muito legal nessas duas ações, assim, a coordenação do Instituto nos passou o retorno das famílias de como se sentiram abraçadas, queridas”, complementa.

Última ação realizada no ICI intitulada “Caminhando com você”, em que calçados foram doados e juntamente vinha um recado | Foto: Divulgação Colégio La Salle São João

Outra iniciativa com grande engajamento ocorreu no evento tradicional do ICI, a Corrida pela Vida. Juntamente com seus familiares, as crianças foram convidadas a comprar as camisetas. O envolvimento foi tão grande que, em 2022, o São João foi o colégio com maior número de inscritos e maior venda de camisetas. 

Já em um momento mais propício para ações presenciais, em 2023, houve a oportunidade de levar representantes das turmas, um adulto e uma criança até o ICI. Na ocasião, foram realizadas várias atividades durante o ano. “Os alunos participaram com a gente na contação de histórias e trabalhos de artes. Foi um momento bem importante para elas poderem ver, vivenciar, conversar e brincar com as crianças com câncer”, diz.

Após esses momentos, em sala de aula, os estudantes deram testemunhos para os seus colegas do que experienciaram. Responderam às dúvidas: Como são crianças do Instituto? Como é que elas estudam? Como é que brincam? 

Neste mesmo ano, foram desenvolvidos jogos com o apoio da robótica do Colégio La Salle São João, confeccionados com MDF e pintados a mão. Além dos estudantes, as famílias participaram desta ação. “Fizemos várias oficinas. Pais, filhos e professores, até a de robótica, construíram os jogos…”, relata.

Em meio a todas essas atividades, Claudia destaca que o colégio seguiu trabalhando a alfabetização dos alunos. Tudo que foi vivenciado por eles, de alguma maneira, criando registros, elaborando hipóteses, envolvia leitura e escrita. Também haviam preocupações das crianças, questionamentos, dúvidas, pesquisas e estudos sobre os cuidados com a saúde; bem como reflexões sobre amizade, empatia e  importância da família. “Salientamos a gratidão por tudo que temos e quem somos, de como somos privilegiados. Isso foi muito importante para o amadurecimento deles”, ressalta.

Mascote do ICI, o Leão da Coragem, realizou visitas em salas de aula do colégio | Foto: Divulgação Colégio La Salle São João

Resultados e próximos passos

Entre 2022 e 2023, o projeto envolveu 239 crianças que estudam no colégio. Devido a esse sucesso, o Construindo pontes, criando laços terá sequência. “Esse é um projeto muito inspirador para tantos outros, para tantas pessoas. Existe um pensamento na solidariedade, nas gentilezas, na leveza e na beleza de tudo aquilo que podemos oferecer”, reforça.

Compactuando com esse pensamento, a coordenadora do Núcleo de Atenção ao Paciente do ICI, Monica Gottardi, ressalta que esta parceria com o Colégio La Salle São João deixou um legado, uma bela contribuição social. “Trouxe um propósito, como um significado. Eu sempre falo que é uma troca, a gente aprende também. Levamos muito carinho e ensinamento para a vida”, enfatiza.

Claudia comenta que os retornos das famílias foram muito positivos. “Não somente da parte cognitiva, que, claro, as crianças se desenvolveram muito bem. Estão alfabetizadas, lendo, escrevendo, mas, além disso, possuem uma formação de um ser humano solidário e empático”, frisa. 

Em relação aos alunos, a educadora comenta que os relatos foram muito favoráveis, comentaram que gostaram do que fizeram, de ter a oportunidade de ter ajudado outras crianças. “Se a gente puder plantar essa sementinha desde agora nas nossas crianças, quem sabe estaremos formando adultos no futuro muito melhores, preocupados em ajudar o outro e não só consigo”, salienta.

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