Futuros cientistas? Alunos do Ensino Médio criam e produzem pesquisas

Reconhecido no Prêmio Inovação Sinepe/RS 2023, o projeto do Colégio Sagrado Coração de Jesus, envolve estudantes em atividades de iniciação científica com apoio de universidades da região

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: CSCJ / Divulgação

Desenvolvido de forma conjunta com os estudantes do Ensino Médio, o projeto Hora de Liderar é realizado em contraturno escolar no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Bento Gonçalves. À frente desta ação, a professora Rosângela Brito, formada em ciências biológicas, mestre e doutora em zoologia, destaca que o principal objetivo é fomentar o protagonismo do estudante por meio da produção de conhecimento científico em colaboração com as universidades. Ou seja, a participação dos jovens é voluntária, todos engajados em pesquisa e encontrar respostas.

A cada ano, o número de interessados aumenta, sendo que, atualmente, são aproximadamente 50 alunos envolvidos. Em vários formatos, seja em dupla, trio ou grupos com mais pessoas, são 10 produções científicas produzidas por ano, em média. Isso fez com que a iniciativa fosse reconhecida, sendo bronze na categoria Estudante Protagonista do Prêmio Inovação Sinepe/RS 2023.

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Mas tudo isso começou há cinco anos atrás, quando eram promovidos os clubes de estudo. Conforme explica Rosângela, neste período, os professores sentiram que havia uma maior curiosidade por parte dos estudantes em relação a determinados assuntos. 

>> Confira o vídeo de apresentação do projeto na Defesa Pública do Prêmio Inovação SINEPE/RS

Posteriormente, com a pandemia, e, após o retorno das aulas presenciais, os educadores notaram também que havia uma falta de abordagem em temas mais científicos. “Naquela época tinha muita notícia acontecendo e muitas fake news também. Assim, começamos a desenvolver o projeto voltado para essas curiosidades e inquietudes dos nossos alunos”, recorda.

No início de 2022, Rosângela relata que houve uma roda de conversa com os estudantes e foi diagnosticado quais eram as principais áreas que tinham mais interesse. “Após esse momento, o corpo docente se reuniu e começou a pensar em estratégias de aproximação deles com esses assuntos. Desta maneira, foram definidos três eixos: Humanidades, Saúde e Manejo de Recursos Naturais e Tecnologias”, diz.

Com os temas definidos, o Colégio iniciou a articulação de parcerias com universidades da sua região. Desta maneira, surgiu o envolvimento de colaboradores e professores pesquisadores pertencentes à Universidade de Caxias do Sul (UCS) e à Universidade do Vale do Taquari (Univates).

Em uma das pesquisas, os estudantes tiveram envolvimento de pesquisadores de universidades locais | Foto: Colégio Sagrado Coração de Jesus / Divulgação  

Pesquisas em destaque 

Entre os projetos desenvolvidos pelos alunos do colégio, Rosângela lembra de um relacionado à paleobotânica. No começo dos trabalhos, quando os jovens conheceram essa área, imaginaram que era algo muito distante dos seus conhecimentos. No entanto, após fazer uma análise de campo, coletar e analisar fósseis de plantas, escreveram um resumo científico, em colaboração com os professores da Univates. “Foi bem interessante, eles comentaram que jamais imaginariam ler sobre esse tipo de assunto, ainda mais escrever algo relacionado”, constata. 

Outro trabalho que chamou a atenção foi o que abordou braços robóticos. “Lembro que eles se deram conta que esse uso está relacionado, por exemplo, com aqueles grandes equipamentos das grandes empresas para pegar a mercadoria de uma maneira mais rápida”, relata.

Em uma das saídas de campo, os estudantes atuaram no eixo de pesquisa Saúde e Manejo de Recursos Naturais | Foto: Colégio Sagrado Coração de Jesus / Divulgação  

Resultados alcançados

Anualmente, a partir da produção científica desenvolvida, os alunos têm participado de eventos científicos, como o Espaço Jovem Cientista da PUCRS e a Feira de Ciências da Univates. “Eles levam os trabalhos, apresentam a metodologia e os resultados. Tudo o que eles produzem durante o ano é levado para esses eventos”, frisa.

Também foi observado que os estudantes que ingressaram na primeira série do Ensino Médio já mostraram interesse em participar do Hora de Liderar. “Desde o 9º ano do Ensino Fundamental eles vinham acompanhando o que tem sido realizado”, ressalta.

Outro aspecto notado é a desenvoltura em sala de aula dos alunos envolvidos no projeto. A habilidade de discutir assuntos, apresentar trabalhos em disciplinas com diferentes professores, facilidade de comunicação, tudo isso cresceu bastante. Também aumentou a busca pelo conhecimento científico, por artigos em base de dados.

O protagonismo dos estudantes é outra evidência. Para os participantes do Hora de Liderar em 2022, a ação proporcionou experiências gratificantes, além de desenvolvimento pessoal. É o caso de Igor de Souza, que definiu como melhor experiência dentro do Ensino Médio. “Tive a oportunidade de construir resumos científicos, conhecer universidades, participar de eventos e muito mais”, aponta. 

Já Talita Moro atuou no eixo de Saúde e Manejo de Recursos Naturais e pode participar de diversas vivências. “Tivemos uma grande oportunidade, ao elaborar resumos científicos e apresentá-los em Feiras de Ciências, experiência essa que só teríamos vivenciado mais tarde na faculdade. Participar do projeto agregou muito na minha vida acadêmica e pessoal”, declara.

Na visão da estudante Laura Sberse Kozowski, o projeto ampliou as formas com que estava acostumada a aprender e trabalhar, adquirindo conhecimento e interesse em áreas que nunca imaginou se aprofundar. “Tivemos experiências únicas construindo artigos científicos e os apresentando na PUCRS e Univates, algo que abriu meus olhos para o futuro acadêmico que me aguarda. Fico muito feliz em ter participado, tive muitas oportunidades incríveis”, celebra. 

Registro de um dos momentos de vivências que agregaram no desenvolvimento pessoal dos alunos | Foto: Colégio Sagrado Coração de Jesus / Divulgação  

O que tem em vista

O objetivo do Colégio é continuar com o Hora de Liderar mesmo diante de indefinições em relação aos itinerários formativos, propostos pelo Novo Ensino Médio. “Com o auxílio do Prêmio Inovação do Sinepe/RS, a nossa ideia é divulgar mais a nossa comunidade, para que tenhamos mais educandos inscritos nos próximos anos”, projeta Rosângela. 

Além disso, as áreas de conhecimento serão ampliadas. Uma delas está definida: Cidades Sustentáveis. “Houve uma visita de uma professora de uma universidade aqui da nossa região, que tem muito interesse em trabalhar com essa parte de sustentabilidade, envolvendo mais a geografia”, sinaliza.

A proposta também é envolver mais educadores das universidades da região. “Os nossos educandos poderão conhecer mais trabalhos realizados nas universidades, ampliando suas compreensões das pesquisas científicas”, comenta. 

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