Como entender e acolher alunos com Transtorno Opositor Desafiador

Com mais ocorrências entre crianças e adolescentes, o TOD virou um tema a ser mais debatido entre escolas e famílias dos estudantes

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Freepik

O Transtorno Opositor Desafiador (TOD) é um distúrbio que ocorre na infância e na adolescência. Não há um momento específico da infância em que seja mais recorrente, mas os sintomas geralmente começam a aparecer na pré-escola ou nos primeiros anos escolares. “Geralmente, surge antes dos oito anos de idade, mas também pode ser diagnosticado em crianças mais velhas ou adolescentes”, afirma a neurologista infantil e diretora da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNi), Leticia Sampaio.

Ela comenta que o possível aumento nos registros de TOD está relacionado às mudanças nos diagnósticos de transtornos mentais. Ao longo dos anos, fatores como mudanças nas práticas de diagnóstico, conscientização da população, acesso aos cuidados de saúde mental e mudanças na sociedade em geral podem facilitar o diagnóstico do transtorno. “Por essa razão, os registros podem aumentar, mas não significa que havia menos pessoas com TOD nos anos anteriores”, salienta.

Como entender e acolher alunos com Transtorno Opositor Desafiador (TOD)

Conforme salienta a coordenadora do curso de Psicologia da Ulbra Guaíba, Rafaela Jarros Missel, o TOD traz um alerta de que algo está errado com uma criança, que está em sofrimento. “Ela apresenta uma série de problemas de comportamento, de relacionamento e de regulação emocional que precisamos intervir e mudar para que ela possa se desenvolver e crescer de forma saudável”, ressalta.

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Outro aviso é do professor de psiquiatria da universidade Feevale e mestre em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ricardo Lugon. Ele aponta que é preciso evitar que os fármacos sejam considerados o centro das atenções e, sobretudo, a prescrição de medicamentos não deve ser a única medida a ser tomada. “Muitas vezes, o que vemos é uma expectativa enorme em torno do ajuste de dose ou troca de medicamentos quando faltam intervenções psicossociais, sejam atendimentos, oficinas terapêuticas, apoio aos familiares, que fazem toda a diferença no enfrentamento das situações”, indica.

Para ele, quanto mais as equipes (da escola e das redes de saúde) estiverem abertas à possibilidade de tecer redes e de pensarem juntas nas situações difíceis, menos sofrimento e impacto recairá sobre todos os envolvidos diretamente na situação. 

O que pode ser observado?

Em primeiro lugar, é preciso destacar que a criança ou o adolescente com TOD tem um transtorno, o que significa que ela não está agindo por causa de um comportamento que ela escolhe ter. “Não é intencional quando ela está mais agressiva, desafiadora ou impulsiva”, ressalta Letícia.

Para a coordenadora do Curso de Pedagogia no Instituto Ivoti, Doris Helena Schaun Gerber, o ambiente escolar proporciona diferentes níveis de interação entre as pessoas que diariamente circulam por ele. No caso específico de criança ou adolescente com TOD, seu comportamento impacta o relacionamento com colegas, professores, além do próprio desempenho escolar. 

Doris destaca que o olhar do professor sobre esse estudante é essencial, pois sua avaliação vai além de localizar as dificuldades específicas, ao também identificar quais são as potencialidades para, assim, reduzir a lacuna entre o potencial do estudante para aprender e o seu desempenho real. 

Os estudantes com TOD precisam de ajuda para aprender a como modificar comportamentos que interferem no seu adequado funcionamento na escola e respectivos espaços de aprendizado. “Nesse sentido, devem receber feedback frequente e contínuo quanto ao cumprimento de limites e combinações, bem como o quanto está se engajando na promoção da cooperação. E não apenas receber sinalização de quando ele não cumpre o acordado”, diz.

Como fazer esse encaminhamento para a família?

A coordenadora do curso de Formação Docente em Nível Médio no Instituto Ivoti, Jaqueline Bilhalva Maicá Brum, comenta que a sinceridade e objetividade nas abordagens fazem parte do processo, pois quanto mais espaços para o diálogo, maiores serão as possibilidades de construção de caminhos para ajudar este estudante. “Os limites bem construídos e alinhados com todos são fundamentais para o desenvolvimento de um convívio social”, frisa.

Quanto mais informações a escola tiver sobre este aluno, maiores serão as chances de êxito no manejo social. A família necessita de um lugar de fala diferenciado e potencializado, mas é importante que a escola consiga também ter seu espaço nesta relação. “Os profissionais que acompanham os casos de TOD cumprem um papel fundamental, pois além do atendimento especializado, oferecem a instrumentalização aos professores e à família”, sinaliza.

O que é possível realizar? 

Na visão de Rafaela, o olhar atento da escola e dos pais é fundamental. A parceria e a colaboração são essenciais no caso de TOD para que a escola acolha essa família e possa orientar aos pais para que busquem o auxílio de profissionais da saúde mental (psicólogos e psiquiatras). “Isso para que esse profissional possa realizar o diagnóstico baseado nos comportamentos e sintomas observados na criança e também das informações fornecidas pelos pais, cuidadores e escola”, informa.

Já Dóris reforça a necessidade de a escola estar aberta ao diálogo com a família e, com os especialistas de apoio, juntas alinharem encaminhamentos com vistas a tornar a convivência do estudante com TOD cada vez melhor. “A escola faz avaliação das questões pedagógicas e, o que foge a esta dimensão, a família geralmente é orientada a buscar suporte junto a outros profissionais”, ressalta. 

As informações sobre como a criança se comporta em grupos, como interage com os adultos, como lidar com frustrações, como seu comportamento é afetado frente aos limites e restrições de conduta colocados por adultos, dentre outros, são questões a considerar. “Sem dúvida, o diálogo entre escola e família é essencial para que se obtenha sucesso acadêmico e no tratamento”, finaliza.

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