Setembro Amarelo alerta para a saúde mental de jovens nas escolas

Escuta ativa, acolhimento e limites no ambiente digital são defendidos como estratégias para prevenir automutilação e suicídio na infância e adolescência

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: Gemini

A explosão de conteúdos digitais voltados a crianças e adolescentes, somada à ausência de diálogo dentro de casa e na escola, tem agravado quadros de sofrimento psíquico entre jovens brasileiros – com aumento de casos de automutilação e suicídio. No Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção desse tipo de morte, especialistas apontam a necessidade de espaços permanentes de escuta e acolhimento nas instituições de ensino. Defendem também que a atuação conjunta entre educadores e responsáveis é essencial para lidar com fenômenos como adultização precoce e cyberbullying.

Em agosto deste ano, o influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, publicou no YouTube o documentário “Adultização”, com denúncias de exploração de menores em plataformas digitais. O vídeo, com mais de 50 milhões de visualizações, reacendeu o debate sobre os impactos da exposição precoce e do uso intensivo das redes sociais na saúde mental infantojuvenil.

A repercussão levou à prisão de criadores de conteúdo citados no material e à aprovação, na Câmara dos Deputados, de um projeto de lei que regula o acesso de crianças e adolescentes às redes – hoje em tramitação no Senado.

Para a psicóloga e professora Márcia Marchezan, os efeitos dessa realidade digital só podem ser enfrentados com a escuta ativa de todos os envolvidos no cotidiano escolar. “É preciso entender que um comportamento é fruto de uma realidade, e que o estudante é reflexo do que vê e vive não só na escola, mas também em casa”, afirma.

Com crianças acessando telas cada vez mais cedo, Márcia alerta para o risco de distorção de autoimagem e perda de referências, fatores que, segundo ela, aumentam a vulnerabilidade psíquica. “O jovem deixa de fazer algo que gosta por medo de não ser aceito. Isso traz sofrimento e pode gerar quadros de ansiedade e depressão”.

Ela defende a criação de espaços permanentes de escuta – não apenas em datas simbólicas como o Setembro Amarelo – e a aproximação da família por meio de práticas acolhedoras, e não de reuniões burocráticas ou punitivas. “O psicólogo escolar deve facilitar esse diálogo e orientar os responsáveis sobre as etapas do desenvolvimento infantil e os impactos da tecnologia em cada fase”, diz.

Leia também:
>> O que mudou na Educação em 35 anos de ECA
>> A combinação entre bullying, telas e falta de diálogo que adoece jovens
>> Bullying e Cyberbullying: combater é a melhor alternativa

O papel da escola e da família na prevenção

A psicóloga e psicoterapeuta de casal Marisa Borella do Nascimento, que atua também como supervisora universitária, ressalta que a escola é a segunda instituição mais relevante na vida de uma criança. “O Rio Grande do Sul tem o maior índice de suicídios do país. Embora a taxa seja mais alta entre idosos, os casos entre crianças e adolescentes vêm crescendo anualmente”, alerta.

Segundo ela, a prevenção deve incluir temas como autoestima, cultura da paz e respeito à diversidade no currículo escolar, além de ações de combate ao abandono digital e à violência familiar. “Muitos adolescentes não tentam o suicídio, mas se automutilam. Esse já é um sinal de alerta importante – e precisa ser acolhido com sensibilidade, não com repreensão”.

Do ponto de vista legal, o bullying e o cyberbullying – considerados crimes desde 2023 – são apontados como fatores de risco por especialistas. Para o advogado Luciano Escobar, que atua na área de direito educacional, o comportamento dos pais tem papel decisivo na prevenção. “Filhos tendem a repetir atitudes que veem em casa. Por isso, a educação de valores deve ser compartilhada entre família e escola”.

Ele critica a postura de pais que agem como defensores incondicionais dos filhos, enfrentando a escola e dificultando o trabalho pedagógico. “As medidas disciplinares precisam ser educativas, e não apenas punitivas. O ideal é que o código de conduta escolar seja construído com a participação de toda a comunidade – funcionários, professores, estudantes e responsáveis”.

Escobar recomenda também o uso de sistemas de gestão escolar para mapear padrões de comportamento e agir preventivamente em casos de bullying. Para ele, o cyberbullying é ainda mais nocivo que o bullying presencial, por sua capacidade de disseminação. “As escolas precisam incluir noções de cidadania digital em seus projetos pedagógicos e orientar as famílias sobre como fiscalizar o comportamento dos filhos na internet”.

TAGS





Assine nossa newsletter

E fique por dentro das novidades