Como desenvolver a criatividade entre alunos e professores

Para Carol Bucker, mestre em Educação e professora de MBA, é preciso construir relações de confiança para exercer a criatividade de forma mais segura e ampla

imagem: Freepik

Carol Bucker

Diretora da Idealiza Tools&Methods, facilitadora, consultora, palestrante, autora, professora de MBA de Inovação. Mestre em Educação, pós-graduada em gestão e empresarial, design thinker, graduada em publicidade e propaganda.

Este tema vem sendo abordado há algum tempo na educação e segue relevante. E porque isso acontece? De acordo com minha experiência e do ponto de vista de quem atua junto a projetos inovadores com escolas, universidades, empresas, empreendedores, que é o meu caso, avançamos em alguns aspectos mas ainda resistimos em outros. E quais seriam eles? Bem, vamos começar pelo que já vem funcionando bem, certo? Acredito que os professores se abriram mais ao aprendizado de metodologias criativas em função da necessidade que os pegou de surpresa na pandemia. Sem acesso direto aos alunos, com demandas completamente novas, tendo que repensar os formatos das aulas, os conteúdos e até o formato da própria sala de aula, tanto os professores quanto os alunos se viram vivenciando situações nunca vividas antes. Sem ter para onde olhar, pesquisar ou se guiar, os professores, e também os alunos, tiveram que se encorajar e criar soluções que dessem conta dos processos de ensino e aprendizagem.

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Com recursos restritos e uma série de limitações, que atendessem às necessidades, sem muitas vezes até mesmo ver os alunos, os professores se viram em um lugar de grande desconforto. Então, como algo que parecia ruim se tornou algo bom? É que é exatamente neste lugar, que a criatividade tem a maior chance de se desenvolver e florescer. Quando estamos fora da nossa zona de conforto, sem apegos as nossas certezas e crenças, é onde podemos nos permitir fluir e buscar novos lugares internos,novas zonas de conforto, novos pontos de vista e nos abrimos para a troca, para o ouvir com empatia e atenção. 

É aqui neste lugar de vulnerabilidade, de maior abertura em função do desconforto e movidos pelo desejo de encontrar um novo lugar de conforto, que os professores e também os alunos se movem em direção uns aos outros. Assim como crianças pequenas que adentram uma praça para brincar e instintivamente buscam outras crianças para trocas e brincadeiras, ambos se encontram em um lugar mais livre de hierarquia e o professor se permite “não saber” algo. O ponto-chave para se abrir, criar e especialmente co-criar. O desenvolvimento da criatividade entre alunos e professores, na maioria das vezes, se inicia por uma abertura de espaço do professor, que permite se colocar no lugar de vulnerabilidade do “não saber”, mesmo que com uma sensação estranha de receio por ali estar, e que rapidamente, pode ser reconfigurado para um lugar de criatividade e de sensação de leveza, por não ter que saber tudo, e o melhor de tudo, se permitir ser aluno também. 

Outro aspecto relevante desta equação é a postura do aluno, que em muitas vezes se coloca em lugar de inércia, de apatia, ou de excesso de receio e que gera um fechamento ao aprendizado, a troca e ao desenvolvimento da criatividade em si. A criatividade entre alunos e professores poderia ser traduzida ou refletida a partir e através da troca entre ambos, onde cada um traz questões desafiadoras que estimulem a curiosidade, o raciocínio, o testar e o experimentar, de forma que ambos se tornem partes iguais do processo, no qual a curiosidade de um estimula a expansão da curiosidade no outro, e juntos chegam a novos lugares de um aprendizado, diferente e mais avançado, ou mais inusitado, do que aquele que encontraram antes de iniciar o processo.

Para que uma boa troca aconteça, precisamos que ambos estejam abertos ao aprendizado, que ambos se permitam confiar um no outro e em si mesmos, o que chamo de Confiança criativa. E que na minha visão, é aquela que cada um tem ou desenvolve em si mesmo, e que permite que o sujeito se abra a novas visões dentro de si mesmo, que possa ver isso nos outros.

Já vi muitos indivíduos criativos, mas que não acreditavam em suas visões criativas. E por causa disso, se mantinham ou se mantêm ainda, em lugares fixos, sem se permitirem experimentar, por se sentirem confortáveis e seguros. Ser criativo exige coragem, de confiar em si mesmo, confiar no outro, confiar no processo, para que se estabeleça uma jornada de troca entre ambos e outros. Podemos perceber isso nas crianças que, sem julgar a si ou os outros, partem do pressuposto que tudo pode ser vivido, descoberto, sentido e aprendido. 

Existe um caminho a ser trilhado pela nossa cultura, que a priori é criativa, diversa, difusa e aberta; mas que pelo baixo nível de confiança, se torna medrosa, desconfiada e retraída para o exercício pleno da criatividade. Sendo assim, podemos dizer que precisamos antes de tudo, construir relações de Confiança criativa cada um consigo mesmo, e uns com os outros, para que possamos exercer a criatividade de uma forma mais segura, mais ampla, e que nos permita ressignificar, transformar e reformular nossa cultura, nossa sociedade, nossas escolas e nossas organizações. Transmutando a cultura do medo e do receio para a cultura da confiança e da colaboração poderemos ir mais longe, com mais leveza, abertura e construindo ou ampliando nossa capacidade de realizar e exercer o papel da criatividade plena, que acredito, seja um lugar desejado por todos aqueles que estão inseridos nos processo de ensino e aprendizagem. A criatividade nos espera sempre de braços abertos, pois ela é infinita e abundante, só exige que a destravemos dentro de nós mesmos e junto aos outros. Que tal começar?

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