Ensino precisa de atitude empreendedora e projeto de vida, diz Leo Fraiman

Psicoterapeuta de adolescentes e famílias vai ampliar essas abordagens, bem como seu método específico, no 18º Congresso do Ensino Privado Gaúcho

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Divulgação

O caminho para uma verdadeira revolução na educação brasileira só estará aberto quando lideranças escolares se engajarem com a formação de projetos de vida e com o desenvolvimento de uma atitude empreendedora. É o que defende o psicoterapeuta de adolescentes e famílias Leo Fraiman, também palestrante internacional e escritor.

Segundo ele, essas duas abordagens (projeto de vida e atitude empreendedora) são ferramentas essenciais para o fortalecimento das competências socioemocionais. E não se trata apenas de teoria: existem evidências consistentes que mostram como essas competências estão diretamente ligadas ao rendimento escolar, à saúde mental, à felicidade, à prosperidade, à redução de hábitos nocivos e até à prevenção do uso de drogas.

Fraiman acredita que quando gestores e professores abraçarem essa causa, toda a dinâmica da escola mudará. “Vai se tornar mais humana, unida, feliz e pacífica. É essencial falarmos com as lideranças, porque são o farol que guia a educação rumo ao futuro”, pontua.

É justamente essa perspectiva que o psicoterapeuta levará ao 18º Congresso do Ensino Privado Gaúcho, promovido pelo SINEPE/RS, onde será um dos palestrantes. No evento, que ocorre de 23 a 25 de julho, no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre, ele abordará o tema “Razão e emoção: simbiose necessária para uma educação humanizadora”.

Com mais de 30 anos de carreira, Fraiman é referência nacional no campo das competências socioemocionais. Criador da Metodologia OPEE (Projeto de Vida e Atitude Empreendedora), que já está presente em mais de 1,5 mil escolas pelo país, foi um dos pioneiros a levar esse tema para a sala de aula no Brasil. 

Também atuou como conferencista na Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, e já recebeu reconhecimentos como a Medalha da Ordem do Mérito e a Medalha do Prêmio Nobel da Paz de 1988, concedida às Forças de Paz do Brasil. É autor de mais de 20 livros, incluindo os best-sellers “Pensar, Sentir e Agir”, “A Síndrome do Imperador” e “Meu Filho Chegou à Adolescência, e Agora?”. 

O Educação em Pauta conversou com o psicoterapeuta sobre suas expectativas para o congresso e os caminhos possíveis para uma educação mais significativa e transformadora. Confira a entrevista:

Educação em Pauta – Na sua palestra, você propõe a integração entre razão e emoção na educação. Como essa simbiose pode transformar o cotidiano das escolas?

Leo Fraiman – Na prática, essa separação entre razão e emoção é apenas teórica. Hoje sabemos que, assim como o nosso dia muda quando temos uma simples unha encravada ou uma dor de estômago, por exemplo, um aluno também só aprende de fato quando está emocionalmente engajado. A aprendizagem precisa ser significativa, ter propósito, fazer sentido. E isso acontece quando o conhecimento é transmitido de maneira viva, humana, interessante, prazerosa.

Por isso, é fundamental criar um ambiente escolar que valorize não apenas o desenvolvimento cognitivo, mas também as competências socioemocionais. Um aluno mais calmo, equilibrado e feliz aprende melhor. Há inúmeras pesquisas robustas que comprovam a correlação direta entre bem-estar emocional, segurança afetiva e a capacidade de aprender.

Já passou o tempo em que o grande objetivo da escola era preparar para o vestibular. Hoje, o projeto ambicioso deve ser outro, que seja de inspirar os alunos a sonharem, e, mais do que isso, a transformarem esses sonhos em projetos concretos. Projetos de vida com vida e para a vida.

Educação em Pauta – Na sua visão, quais são as competências mais urgentes para os professores desenvolverem hoje?

Leo Fraiman – Eu diria que há três competências essenciais. A primeira é a esperança. Um professor desanimado corre o risco de ensinar no modo automático, sem vitalidade. E o pior, pode acabar transmitindo aos alunos um olhar pessimista sobre o mundo, e isso acontece com mais frequência do que se imagina. Precisamos resgatar a esperança no professor e também por meio dele.

Todas as disciplinas podem ajudar nisso. Por que, em uma aula de História, falar apenas de conflitos e guerras? Por que não abordar também os avanços da medicina, da inteligência artificial, da nanotecnologia, os líderes pacifistas, as soluções criativas que melhoraram o mundo? A escola precisa ser também um espaço de perspectivas, de caminhos possíveis. Um professor esperançoso é mais engajado, mais criativo, mais humano.

A segunda competência é a oratória. Muitos professores têm uma excelente formação teórica, mas não investem com a mesma intensidade no aprimoramento da mediação docente; carisma, criatividade, inovação, técnicas de fala em público, uso de dinâmicas. O aluno de hoje precisa de uma linguagem que o conecte, que o inspire.

A terceira competência é o próprio projeto de vida do professor. Porque, quando temos clareza do nosso propósito, conseguimos lidar melhor com os desafios e não nos deixamos levar pelas circunstâncias. Não basta trabalhar o projeto de vida dos alunos, mas sim olhar para o do educador também.

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Educação em Pauta – A formação inicial está dando conta dos desafios contemporâneos da sala de aula? O que precisa mudar?

Leo Fraiman – Infelizmente, não está. A formação inicial ainda é muito distante da realidade das escolas. Precisamos, antes de tudo, acolher o professor em sua humanidade e reconhecer o cansaço dessa profissão. É preciso verificar, por exemplo, se há um serviço de saúde mental na escola, se as relações institucionais estão saudáveis ou tóxicas.

Por que não firmar parcerias com faculdades de Psicologia para oferecer apoio emocional aos educadores? Por que não promover rodas de conversa sobre o clima emocional entre os colegas? Os próprios professores podem compartilhar saberes, o de Educação Física pode dar dicas de alimentação e sono; o de Literatura, trazer textos inspiradores; o de Biologia, estratégias de autocuidado. Não precisamos sempre trazer alguém de fora. O acolhimento pode ser construído entre pares.

Além disso, é essencial investir em inspiração contínua. Podemos, por exemplo, criar comitês de talentos para mapear e divulgar boas práticas, organizar leituras em grupo, promover formação continuada. Quando os professores compartilham suas dificuldades e seus casos de sucesso, fortalecem-se mutuamente. Isso transforma a formação docente.

Educação em Pauta – Você costuma falar sobre o “protagonismo do educador”. O que isso significa na prática?

Leo Fraiman – Significa reconhecer que estamos vivendo em um mundo cada vez mais complexo, competitivo e exigente, e que não há mais espaço para o educador acomodado, desvitalizado ou pessimista. Isso vale para todas as áreas, a gente vai em uma pizzaria e espera um bom atendimento, massa fresca, borda recheada. O mesmo vale para a educação, precisamos de excelência.

E se estou desconectado da minha saúde mental, preciso buscar ajuda. Hoje há atendimentos gratuitos, conteúdos acessíveis, profissionais disponíveis online. O autocuidado não pode depender apenas da escola ou do outro. O autocuidado é uma atitude pessoal. Eu me cuido, porque quero estar bem para cuidar do outro.

A escola, sim, deve cuidar dos seus professores, mas cada um também precisa assumir essa responsabilidade. Eu só posso dar uma aula excelente se me amar, se tiver um projeto de vida e se valorizar a excelência como parte do meu propósito pessoal.

Educação em Pauta – E qual deve ser o papel da família na formação emocional e ética das crianças e adolescentes?

Leo Fraiman – No meu mestrado, há quase 30 anos, já identifiquei evidências claras de que o envolvimento da família impacta diretamente no rendimento e no andamento escolar dos alunos. Felizmente, há escolas que estão inovando nessa relação e criando ações de excelência para engajar as famílias como parceiras. Pais e mães não devem ser vistos como um problema da escola, eles são um recurso essencial. A instituição precisa buscar estratégias para construir, fortalecer ou até começar do zero uma relação de diálogo com essas famílias. Sem isso, o trabalho com os alunos pode ficar seriamente comprometido.

Como participar do Congresso do Ensino Privado

Basta se inscrever no site do evento. Os ingressos adquiridos até 31 de maio terão até 40% de desconto em relação ao valor integral, cobrado a partir de 1º/6, dependendo da categoria. Clique aqui e saiba mais.

Todos os inscritos receberão um certificado, que estará disponível no portal oficial.

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