Por que estimular a pesquisa científica desde a infância?

Em comemoração ao Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, especialistas comentam iniciativas para que a ciência e a pesquisa estejam mais presentes na Educação Básica

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Freepik

Um estudo comprovou que tanto os praticantes regulares de atividades físicas quanto os chamados “atletas de fim de semana” têm taxas de óbito reduzidas se comparados aos sedentários. Uma outra pesquisa demonstrou que parte das diretrizes clínicas de tratamento para quadros de depressão não define com clareza os critérios necessários para a avaliação da resposta dos pacientes à terapia inicial.

Esses são alguns exemplos de descobertas que têm algo em comum: foram realizadas por pesquisadores brasileiros e lançadas em 2022. 

Nos últimos 20 anos, a produção científica nacional nas áreas da saúde dobrou sua participação na produção mundial. Ao todo, foram cerca de 237 mil publicações catalogadas, o equivalente a 2,6% da produção científica mundial nesse período, conforme apontam dados do Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Além do volume de estudos, a credibilidade é representativa no país. A maioria dos brasileiros (68,9%) declarou confiar ou confiar muito na ciência, de acordo com o estudo Confiança na Ciência no Brasil em tempos de pandemia, conduzido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (INCT-CPCT).

Para celebrar as pesquisas científicas, foi instituído que o dia 8 de julho é o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico. A data é em alusão à criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1948. 

Mesmo diante de desafios (como falta de incentivos e burocratização) para tornar as pesquisas científicas ainda mais relevantes no país, muitas iniciativas têm proporcionado com que crianças e adolescentes almejem ser futuros pesquisadores.

Pesquisar ainda criança

A flexibilidade de escolha das temáticas a serem desenvolvidas dentro da área de pesquisa tem gerado um grande engajamento entre os jovens do Colégio Marista Santa Maria. A iniciação científica faz parte do currículo de todas as etapas da Educação Básica. 

Conforme salienta a coordenadora pedagógica dos Anos Finais e Ensino Médio do colégio, Carla Denise Machado Borba, os estudantes são inseridos no contexto da investigação científica, onde os professores são mediadores do percurso de construção e reconstrução de conhecimentos. Todas as temáticas de pesquisa partem do interesse dos estudantes e os professores direcionam os estudos quanto à área do conhecimento e orientam as etapas do projeto. 

Diante disso, toda pesquisa é relevante, pois para aquela equipe de alunos, representa o produto de suas descobertas e suas curiosidades. “Nesse contexto, somos agraciados com projetos como o Bergacida, Fósforo Ecológico, Hidroponia, que ganham relevância para além dos muros da escola, pela sua responsabilidade social e sustentabilidade do planeta”, pontua.

Quanto à percepção dos alunos do Colégio ao ingressarem no Ensino Superior, Carla destaca que os estudantes chegam com uma bagagem muito significativa quanto à pesquisa. Principalmente em relação às vivências proporcionadas ainda na Educação Básica, como em mostras de iniciação científica, que podem culminar em premiações. “Tal como foi com o Bergacida, em que duas estudantes foram premiadas com bolsa CNPQ, da Universidade Franciscana de Santa Maria e do projeto: Análise de operadores argumentativos, da área de linguagens, que foi destaque da última JAI Jovem da UFSM, com premiação de Jovem Extensionista”, complementa.

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Feira de ciências ininterrupta

No processo de aprendizagem, os alunos da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH) tem em sua Feira de Ciências a materialização da iniciação científica. Neste ano, o evento vai para sua 47ª edição e, mesmo na pandemia, ocorreu de forma ininterrupta.

Na instituição de ensino, a motivação pela ciência e pela pesquisa é algo bem presente durante o período escolar. Conforme salienta a coordenadora da área de Ciências da Natureza e da Feira de Ciências da IENH, Ana Paula Machado, as crianças são curiosas por natureza. Sendo assim, na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental, são motivadas pelos professores a buscar respostas para suas hipóteses durante os projetos de pesquisa realizados pelas turmas. Após o trabalho de investigação, são desafiadas a divulgar seus resultados nas Feiras de Projetos. 

Do 6º ano até a segunda série do Ensino Médio, os estudantes estão mais preparados para a realização de projetos de iniciação científica em duplas ou trios. Os alunos realizam a escolha do tema de pesquisa, formulam suas hipóteses, elaboram sua metodologia e com a orientação dos professores, desenvolvem suas pesquisas.

Na Unidade Fundação Evangélica, os alunos desenvolvem seus projetos com os professores tutores. A divulgação dos resultados obtidos, na Feira de Ciências da IENH, podem demonstrar suas descobertas e passarão pela avaliação de avaliadores externos. “Esse processo se faz necessário, visto que nossa Feira é afiliada de outras, como a Mostratec, a Febrace, a Cientec, entre outras. Os melhores avaliados recebem credenciais para participarem dessas feiras”, frisa.

Acesso à universidade desde cedo

É na universidade onde os conhecimentos são aprofundados, os contatos são realizados e se inicia a carreira na área da pesquisa. Para incentivar alunos da Educação Básica, a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) participa do Programa de Iniciação Científica Júnior do CNPq (PIBIC-EM) em que os estudantes do Ensino Médio têm a oportunidade de ter uma vivência do método científico, bem como a experiência de serem orientados por pesquisadores doutores e aprenderem a fazer ciência. 

“Eles passam a trabalhar em um grupo que contém também alunos de iniciação científica da graduação, mestrandos e doutorandos; além do pesquisador sênior e, com isso, já têm contato direto com a vida acadêmica do Ensino Superior”, relata a coordenadora de Pós-graduação Stricto Sensu e Pesquisa da Ulbra, Ester Schmidt Rieder. 

Outra forma de promover a interação das escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental com a universidade é por meio da Mostra de Ciências e Inovação da Ulbra. Em sua sexta edição, sempre promovido em outubro, o evento busca a socialização dos estudantes de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Anos Iniciais e Finais, para trocar experiências e estimular o desenvolvimento do pensar científico e inovador.

Ao ingressar na universidade, os alunos da graduação possuem um acesso a projetos de pesquisa envolvendo pesquisadores sêniores. “Esse contato permite um aprendizado prático do como fazer e por que fazer, do desenvolvimento de habilidades e competências importantes como a capacidade de pensar criticamente, trabalhar em equipe, aprender a lidar com desafios e desenvolver soluções criativas”, sinaliza. 

Para permanecer nesse ramo, a instituição de ensino disponibiliza cotas para bolsistas por meio de um programa próprio institucional de Iniciação Científica e Tecnológica (PROICT/Ulbra), além de cotas dos Programas Institucionais de Iniciação Científica (PIBIC), Iniciação Tecnológica (PIBITI) e Iniciação Científica Júnior (PIBIC-EM) do CNPq. Os bolsistas, inseridos nas linhas de pesquisa dos professores dos programas, participam muitas vezes dos projetos dos alunos mestrandos e doutorandos e são coorientados por estes. 

Conforme ressalta Ester, a pesquisa é um elemento norteador e incentivador da prática educativa. “Indica a necessidade de uma educação ser questionadora, do indivíduo saber pensar e saber fazer”, complementa.

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