Escola Transformadora: a inovação na gestão escolar
Para além do uso de tecnologias, especialistas afirmam que inovar requer diálogo e pensamento crítico sobre processos de aprendizagem
A função de um gestor escolar perpassa várias áreas de uma instituição de ensino. Da formação da equipe pedagógica até o acolhimento das famílias e dos alunos, o caminho ainda envolve atividades burocráticas e cuidados com questões financeiras e de infraestrutura. Para além disso, a gestão se mostra uma peça fundamental para assegurar uma característica cada vez mais valorizada na educação: a inovação.
Mas, afinal, o que uma gestão precisa para garantir que uma escola seja inovadora? A pergunta parece simples, mas sua resposta tem várias etapas para ser concluída. E a primeira delas é entender qual o conceito de inovação para o gestor. É quase automático que a simples menção do termo já remeta ao uso de tecnologias. Para a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), Bettina Steren, a palavra (e a ideia) que deve vir em primeiro plano é transformação.
“A inovação remete a uma coisa nova, mas o que a escola precisa, no meu ponto de vista, é de uma transformação. Isso significa que não devemos deixar de lado tudo que a escola construiu e aplicou até então, mas melhorar essas propostas e trazer novos pontos para dentro do que já existe na instituição”, explica.
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Além da compreensão do conceito de inovação, Bettina alerta para a importância dos gestores se questionarem constantemente se a escola está educando para a vida. Para isso, a pesquisadora sugere que as propostas devem responder aos desafios da contemporaneidade, que devem ser o guia quando o objetivo é inovar.
“É preciso também um questionamento sobre a metamorfose da escola: porque temos que mudar e como vamos agilizar essa mudança. Após a pandemia, tivemos ainda mais transformações e temos que compreender quais as consequências dessas mudanças para os professores e suas formações”, avalia.
Bettina acredita ser fundamental que a gestão da escola pense em uma mudança a partir de uma formação continuada de seus professores e, seguindo algumas publicações recentes sobre o assunto, avaliar a presença de quatro competências numa escola que se pretende transformadora. São elas: a empatia, a criatividade, o protagonismo do aluno e o trabalho em equipe.
“É preciso encontrar um modo criativo para que os alunos sejam convidados a desenvolver essas habilidades. E também os professores. A gestão precisa pensar seriamente em fazer uma transformação a partir de todos os atores que participam da escola. Gestores, professores, alunos, pais e funcionários precisam construir juntos essa mudança”, conclui.
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Pesquisar a gestão
As propostas inovadoras de gestão escolar também têm movimentado a academia. São diversas as pesquisas voltadas para o tema, sejam para avaliar os processos dos gestores como para identificar possíveis demandas e também discutir abordagens voltadas à inovação. A professora e pesquisadora Marta da Cunha Santos, especialista em Gestão em Instituições de Ensino, atua como coordenadora pedagógica da educação infantil do Colégio Sant’Anna, em Santa Maria, e usou sua experiência em gestão como fonte para sua dissertação de mestrado. Defendida em 2021 e intitulada “Gestão Escolar, Formação de Professores e Metodologias Ativas: Perspectivas Educativas para o Ensino na Contemporaneidade”, a pesquisa virou livro no ano passado, lançado pela editora Appris e com prefácio do professor português Antônio Nóvoa, uma referência quando o assunto é inovação na educação.
“É necessário, no contexto de inovação, ter objetivos claros e pré-estabelecidos do que se quer alcançar, reconhecer a importância da participação coletiva de toda a equipe, seja na comunicação de ideias, na tomada de decisões, nas orientações e no planejamento, visando sempre qualificar o ensino proposto pela instituição. Os professores são o elemento chave diante deste processo, pois serão eles que irão operacionalizar e colocar em prática as mudanças e melhorias que se almejam”, avalia Marta.
Com foco nas metodologias ativas, o trabalho de Marta trouxe luz para a importância de se colocar o aluno como peça fundamental dos processos de aprendizagem e também a constante atualização desses processos para acompanhar as demandas do mundo contemporâneo.
“Para conduzir este processo, o gestor precisa ter uma visão inovadora, para que possa acompanhar as mudanças sociais e atender novas demandas escolares. Não só por parte dos alunos, mas considerando também as demandas familiares e sociais. Neste sentido, ele planeja, promove e põe em prática as mudanças e as melhorias que se almeja alcançar. Mas para isto, ele deve contar com o engajamento e a participação de todos os envolvidos. Aqui, refiro-me a professores e a toda a comunidade escolar, pois sozinho ele não consegue promover as mudanças e as inovações a que se propõe”, esclarece a coordenadora.
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