Em tempos de mensagens instantâneas, alunos do Anchieta trocam cartas com estudantes da Espanha
Projeto Cartas Andantes une leitura de Dom Quixote à experiência da escrita tradicional e aproxima culturas
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Para crianças nascidas e criadas na era digital, explicar o que é uma carta escrita à mão pode parecer tão complexo quanto enfrentar moinhos de vento. Mas, como em Dom Quixote, o desafio também desperta a imaginação e o encanto. Fazer isso valorizando o aprendizado, então, torna a experiência ainda mais completa. É isso que os alunos do 6º ano do Colégio Anchieta estão vivenciando neste momento, numa troca de cartas com estudantes do Colégio San José de Villafranca, de Badajoz, na Espanha, com quem estão compartilhando suas experiências de leitura do clássico espanhol Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.
A atividade faz parte do projeto Cartas Andantes, da disciplina de Língua Portuguesa, e contempla dois aprendizados: a leitura de clássicos – além de Dom Quixote, os alunos leem adaptações de livros como Frankenstein, de Mary Shelley, e O Mágico de Oz, de L. Frank Baum – e a carta como gênero textual. A iniciativa mostra que, em um mundo hiperconectado, onde a comunicação é cada vez mais instantânea, resgatar uma forma de contato mais humana pode proporcionar uma maneira mais real de conexão.
“É uma atividade que desperta a curiosidade dos alunos. É interessante do ponto de vista histórico, mas também porque a carta perpassa outros gêneros que utilizamos hoje. O e-mail e até mesmo as mensagens de texto têm um pouco da carta”, explica a professora Lorrana Ramos, responsável pela disciplina. Segundo ela, o trabalho não se resume à escrita, mas também a aprender como o processo funciona de forma mais tradicional, selando as cartas com cera quente e sinete, utensílio utilizado para fechamento de cartas na época em que a obra é narrada.
Compreender e apreciar esse processo mais orgânico em meio à instantaneidade da comunicação dos dias de hoje é o grande objetivo do projeto, afirma o professor Diego Marques, também à frente da atividade. “Quando recebemos ou enviamos uma carta, somos expostos a emoções autênticas, como alegria, expectativas e até mesmo a tristeza. Esses sentimentos se perderam com a rapidez das mensagens digitais. A ideia é justamente focar na construção da carta para que eles tenham uma experiência um pouco diferente”, diz.
No conteúdo dos envelopes, cada aluno escreveu suas percepções sobre o clássico de Cervantes e perguntas para os estudantes espanhóis, que também têm a disciplina de Língua Portuguesa em sua grade curricular. O professor Silvio Júnior, do Colégio Anchieta, que acompanha alunos da 2ª série do Ensino Médio em projeto de intercâmbio na Espanha, levou pessoalmente os materiais.
A entrega ocorreu durante uma aula de Cidadania Global. Antes da troca, os estudantes espanhóis assistiram a uma apresentação sobre o Brasil, o Rio Grande do Sul e a cultura porto-alegrense. O momento foi marcado por curiosidade e sentimento : muitos alunos se emocionaram ao receber uma carta escrita. “Foi bonito ver como se sensibilizaram – uma aluna chegou a dizer ‘me encanta’ ao segurar a carta e perceber que alguém, mesmo sem conhecê-la, havia escrito pensando nela”, contou Silvio. A escola espanhola agora prepara a resposta às cartas, sob coordenação dos professores locais.
