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21/07/2023

Memórias afetivas e estímulo ao desenvolvimento dos alunos são tema do último dia de Congresso

Sexta-feira foi marcada por conteúdos importantes sobre o fazer da Educação em sala de aula, desde dicas técnicas até a lembrança de vivências desde a mais tenra idade

por Pedro Pereira
Memórias afetivas e estímulo ao desenvolvimento dos alunos são tema do último dia de Congresso
Psicólogo Alessandro Marimpietri abriu a programação de palestras do dia. Fotos - Applause

Se o objetivo é fazer com que a Educação acompanhe o mundo contemporâneo e não perca a atratividade para os estudantes, o mesmo se pode dizer da programação do Congresso do Ensino Privado. Em estado de congraçamento, educadores de todo o Rio Grande do Sul aproveitaram o último dia para recorrer às mais longínquas lembranças para compreender, na essência, o que faz sentido em uma instituição de ensino.

Antes do começo dos trabalhos, uma prova do que viria. O presidente do SINEPE/RS fez a tradicional recepção aos congressistas, com um agradecimento especial aos que subiram aos palcos temáticos no dia anterior. A seguir, revelou que os crachás são, na verdade, sementes de girassol que poderão florescer junto com as lições levadas do Congresso. 

“Todo o conhecimento se transformará em um potente adubo, fazendo com que as sementes cresçam e se transformem em uma bela colheita – não só de flores, mas também de frutos desses encontros cheios de significado que tivemos nestes três dias”, enalteceu.

Ato contínuo, convidou ao palco o pastor Eloir Weber (foto), do Colégio Sinodal de Portão e São Leopoldo. Ele conduziu um momento de oração em agradecimento pelo chamado para ser educador, com tantas vidas confiadas a cada um dos professores presentes, além da força para encarar os desafios inerentes à profissão. Também promoveu uma reflexão sobre a beleza da vida, a partir do nascimento dos frutos na natureza. Citando Guimarães Rosa, concorda que “o mais bonito da vida é perceber que as pessoas nunca são iguais. E os educadores percebem isso nos alunos”.

Relações socioemocionais

O neuropsicólogo e doutor em Educação Alessandro Marimpietri, professor e autor do livro “Quando somos um só”, abriu a rodada de palestras com uma história que se passou quando tinha quatro anos, em Salvador, sua terra natal.

Conta Marimpietri que quando chegava atrasado à aula, ainda que não tivesse culpa – esta recaía sobre seus pais –, a professora ordenava que ficasse em pé, em frente à turma, e lesse, em Inglês, as horas no relógio. A ação era seguida por gritos de “está atrasado” dos colegas, sob orientação da educadora.

Certo dia, recebeu uma folha mimeografada com duas flores, que comporiam a indumentária do traje para o jogral do Dia das Mães – que consistia em um método eficaz de fazer as mães chorarem: as crianças, enfileiradas, diziam que a mamãe era a flor mais linda do jardim. “Elas se debulhavam em lágrimas, bastante longe da pirotecnia que precisamos fazer hoje nas escolas”, compara.

Depois de pintar uma das pétalas de preto, a professora amassou e jogou o papel na lixeira, argumentando que naquela escola as flores tinham miolo amarelo, pétalas rosas ou vermelhas, caule marrom e folhas verdes. “Fiquei sem lanche e sem brincar na quadra, para ficar pintando na hora do recreio”, lembra Marimpietri.

“Entrei no Corcel azul de meu pai bastante irritado. Hoje, o pai voltaria e levaria o problema para cobrar da escola. Meu pai disse que nenhum professor sabe de tudo e que ele sabia como mudar a cor das flores e me provaria isso”, conta.

Passaram em um supermercado, onde o pai comprou corante e flores brancas. Chegando em casa, reuniu os dois filhos, fez uma mistura, passou nas pétalas e garantiu que no dia seguinte elas estariam de outra cor. Qual não foi a surpresa do pequeno Alessandro Marimpietri quando acordou e viu que, de fato, o pai estava certo.

Questionado, o autor da experiência disse que só revelaria o segredo após o desjejum. “De 1980 para cá eu lembro do cheiro do café que estava sendo feito. Não consigo lembrar das explicações científicas que meu pai fez, mas eu me lembro vivamente da minha professora e do meu pai, me ensinando sobre a cor das flores. Mais de 40 anos depois, não consigo esquecer essa experiência. Como vocês querem ser lembrados daqui a 40 anos: como a minha professora ou como meu pai?”, questiona.

Todo este preâmbulo, contado para inspirar os educadores, serviu como pano de fundo para uma série de reflexões, à luz de estudos que investigam o comportamento das pessoas durante e após a vida escolar. Segundo Marimpietri, a grande maioria não lembra de conteúdos específicos, como as regras do uso da crase, os afluentes do rio São Francisco ou o Ciclo de Krebs. No entanto, mantém vivas as memórias de relações, encontros afetivos e experiências humanas.

“Quando voltarmos à escola e estivermos na sala dos professores, vamos ter que pensar sobre saudosismo. É muito comum nós, professores, sermos saudosistas. Bons eram os tempos em que os alunos nos respeitavam, liam, as famílias faziam sua parte”, instiga, para então trazer a teoria de Zygmunt Bauman sobre a retrotopia. O conceito consiste em pegar um pedaço do passado, maquiar e acreditar que foi daquele jeito – recurso utilizado, geralmente, em cenários de incerteza, justamente o que se tem, hoje, na Educação.

“Quem aqui tem capacidade de fazer uma previsão dos próximos cinco anos do cenário educativo?”, questiona. Para completar, lembra que a sociedade está diante do paradoxo da sociedade do cansaço, transmutando-se da sociedade da disciplina para a do desempenho.

“Estamos nessa transição. Antes a vida estava garantida se você fosse disciplinado. A lógica é que se você funciona bem, é porque fez o certo. Mas hoje eu quero alunos disciplinados e disruptivos, ao mesmo tempo. Temos dois modelos que estão convivendo na escola. Um que lembra as fábricas e, de certa forma, uma prisão: uniforme, horário, alguém que dá as ordens. Mas também vivemos o tempo da impermanência: o que vale hoje, não se configura amanhã. Educar na impermanência é como brincar com bolas de sabão, que estão ali e de repente não estão mais”, reflete.

Entre as ideias apresentadas pelo especialista, estão as finalidades da Educação nos tempos atuais. Segundo ele, ela serve para:

  • Existir no coletivo – para que a gente possa amar a diversidade, a diferença, inventar uma maneira menos destrutiva e mais interessante de existir no coletivo. “Não conheço uma instituição que faça isso tão bem quanto a escola, nem um profissional que faça tão bem quanto o professor”.
     
  • Amar o saber – quem tem esse sentimento consegue contagiar os outros.
     
  • Encantar o mundo – o semáforo é a repactuação da vida em sociedade. Se o professor não se encanta com esse símbolo, vai criar uma geração de desencantados. “A gente precisa valorizar os ritos, o simbólico, a escola é um lugar para isso. Cada um de nós deve ser encantado com a forma como a vida cria símbolos e sinais”.
     
  • Subverter a realidade – uma criança pega uma caneta e diz “isto é um bigode, uma luneta, uma ambulância”. O professor precisa fazer o mesmo, chegar e dizer “tem isso, mas e se fosse visto assim?”
     
  • Esperançar – a esperança, em Educação, não é sentar e esperar. É luta, labor, coragem, acreditar. Isso era o que dizia Paulo Freire. O pescador faz a rede, organiza, sobe no barco e a lança nas águas sem ter certeza do que vem. O trabalho do professor também é assim.

Cultura do Pensamento

A manhã terminou com a antropóloga Clarissa Bezerra, licenciada em Letras Inglês e gerente corporativa acadêmica na Casa Thomas Jefferson, em Brasília. Ela falou sobre Inovação e Cultura do Pensamento Investigativo.

Entre as reflexões propostas por Clarissa, a de como criar caminhos para uma aprendizagem transformadora. “Para a Educação criar raízes e formar um cidadão, precisa ser transformadora. Ser transformador tem significados diferentes para cada pessoa, mas, quando penso nisso, não posso deixar de pensar em professores”, afirma.

Dentro da perspectiva de voltar às memórias escolares da infância e da adolescência, como fizera Marimpietri, ela propôs um exercício: pensar em alguma pessoa que tivesse inspirado os educadores ali presentes. Cada um deveria lembrar como se sentia na presença dessa pessoa (sentimento, emoção), como ela se comportava (ação, verbo) e como era percebida pelos outros (adjetivo, substantivo).

“Imaginando-se na presença dessa pessoa, escreva, em uma frase, como ela ajudou a formar quem você é hoje”, orientou. Depois, dentro dessa inspiração, apresentou o conceito de Relativismo Cultural, pedindo que os congressistas, antes de mais nada, trocassem uma ideia sobre o que pensavam ser essa teoria.

“O Relativismo Cultural vê diferenças culturais de uma forma livre de etnocentrismo, sem julgar o outro a partir de sua própria visão e experiência. Eu poderia simplesmente ter transmitido a informação, mas preferi ativar o conhecimento e a troca entre as pessoas. Buscar o conhecimento no mundo e junto às pessoas com quem se está é rotina de pensamento e é o que está presente em cultura de pensamento”, aponta.

Despir-se do repertório particular para compreender o outro dentro de seu contexto, como fazem os antropólogos, define a ideia de “desfamiliarizar para inovar”. Quando vão a campo, esses estudiosos observam e participam da vida de determinado grupo, coletam observações e anotações, mas sem etnocentrismo, ou seja, não o fazem sob a perspectiva de tudo que viveram até chegar ali, a fim de entender aquela comunidade em seus próprios termos e categorias culturais.

“Por mais que a gente se capacite e goste de inovação, a gente tende a ensinar como nós aprendemos”, alerta. Por isso, é preciso pensar em como, de fato, promover a escuta e um ambiente propício à cultura de pensamento.

Clarissa explica que oito forças são formadoras de Culturas de Pensamento:

Força 1 – Expectativa

Entendimento, autonomia e trabalho árduo para os alunos.

Força 2 – Linguagem

Por meio dela, os professores percebem, nomeiam e destacam a atividade, o pensamento e as ideias que são importantes em qualquer contexto de aprendizado

Força 3 – Tempo

Dar tempo para o aluno pensar ajuda a atingir os objetivos de aprendizagem mais rápido, porque ele fica mais envolvido.

Força 4 – Modelo

Somos pensadores e aprendizes, precisamos modelar o risco, refletir e aprender com os erros.

Força 5 – Oportunidades

Experiência de aprendizagem é oportunidade, não apenas uma lista de tarefas. Oportunidades de aprendizado poderosas não são trabalhos para agradar professor, mas têm valor percebido pelos alunos.

Força 6 – Rotinas de Pensamento

Oferecer estruturas dentro das quais operar, além de ferramentas para aprender. Criar protocolos de ação que vão além do gerenciamento disciplinar.

Força 7 – Interações

Escute e questione o aluno sempre com respeito e interesse genuínos pelo seu pensamento.

Força 8 – Ambiente

Pense nas mensagens que o ambiente comunica e nas necessidades que ele facilita.

Semear, cuidar e colher

A ideia de semear permeou as atividades do último dia. Depois de voltar à infância, revisitar a própria jornada acadêmica e pensar sobre como mudar o fazer educativo em sala de aula, era chegada a hora de entender em que resulta todo esse processo.

A palestra de encerramento foi com a pedagoga, pós-graduada em antropologia filosófica, docência no ensino superior, elaboração de projetos e gestão de pessoas Priscila Boy, diretora da Priscila Boy Consultoria. Ela falou sobre “As essências, os saberes e os frutos no processo pedagógico”, com base, principalmente, em seu mais recente livro, intitulado Uma Escola em Transformação.

Além de estar em transformação, a mudança com que isso acontece é um ponto que chama a atenção, de modo que muita coisa que parece estar prestes a acontecer, ou possível em um momento futuro, já é realidade. Mais do que isso: como toda mudança, ela não vem sem dor, de forma confortável.

Para fazer frente a um desafio deste tamanho, o educador precisa exalar esperança, possibilidade de transformação. “A nossa essência é o nosso currículo. Essa palavra deriva de ‘caminho’, portanto, é muito adequada. A identidade do meu trabalho é currículo, a forma como avalio, ensino, conduzo o processo de educação, do pedagógico ao comportamental”, acredita.

Ao passar por noções gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), destacou os aspectos cognitivos, comunicativos e socioemocionais – áreas cobertas ao longo de todo o Congresso. Na Educação Infantil, o foco está nas Experiências. Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, é hora da Sistematização dessas experiências. Os Anos Finais são dedicados à Consolidação, a fim de entregar para o Ensino Médio sabendo ler, escrever, calcular e raciocinar. Isso porque, chegando lá, é hora de Aprofundamento e Aplicação.

Novo dilema

O ChatGPT é colocado por Priscila como o novo dilema da Educação. Inteligência Artificial (IA) orientada ao texto, ela desafia os professores diante de um novo paradigma de construção e adaptação de textos. Cruzada com a IA, a biotecnologia já preocupa especialistas. Ela capta todos os dados genéticos das pessoas, o que, combinado com IA, é capaz de desnudar completamente as pessoas e modelar o que elas vão pensar.

“A escola vai ter que entrar com toda a força no espírito crítico para não deixar a sociedade se levar pela IA e pela biotecnologia”, sustenta. Avançando no tema, ela traz as ideias de Yuval Harari, segundo o qual a humanidade caminha para uma Ditadura Digital, em que os dispositivos e o cruzamento de dados vão ditar comportamentos

Diante de um mundo cada vez mais tecnológico, a sociedade vai se dividir entre investidores, trabalhadores e inúteis – este último, o maior grupo. Para reduzir a chance de substituição pela IA, é preciso desenvolver competências socioemocionais, trabalhar solidariedade e valores humanos.

Com uma série de conceitos de diferentes pensadores, além das próprias conclusões, Priscila promoveu um fechamento das ideias que apareceram ao longo dos três dias de evento. Ao colocar os educadores diante dos principais desafios do mundo, o fez não de forma que os assustasse, mas, ao invés disso, apresentou no sentido de alertar, inspirar e mostrar possíveis caminhos.

O 17º Congresso do Ensino Privado tem o patrocínio de SAS Plataforma de Educação, Maple Bear, Santillana Educação, PUCRS, Bernoulli Educação, Zoom Education For Life, Applause Formaturas, Pearson e Oxford University Press, bem como apoio da MFO Advogados e Orquídea Alimentos.

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